quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

MELHOR DO PAÍS É O POVO BRASILEIRO: VOCÊ ACREDITA NA EMBRATUR?


MELHOR DO PAÍS É O POVO BRASILEIRO: VOCÊ ACREDITA NA EMBRATUR?

João dos Santos Filho

Desde o momento que tomei conhecimento do resultado da pesquisa encomendada pela EMBRATUR ao Instituto Zaytec, intitulada o “Perfil do Turista Estrangeiro e Imagem do Brasil”. Venho tentando saber mais do referido trabalho, qual foi o projeto elaborado, o problema destacado, a problemática delimitada, a construção e seleção de hipóteses, a metodologia utilizada, a construção de objetivos e a elaboração do questionário. Na verdade tenho buscado entender o tratamento científico dispensado aos dados coletados dessa pesquisa, pois há resultados extremamente inéditos e inesperados diante da percepção que o turista estrangeiro tem sobre o Brasil.
Mas até o presente momento desconhecemos por completo a metodologia utilizada ou qualquer outra informação desse discutível trabalho. E se enganam aqueles que pensam que esta minha preocupação é mera implicância de alguém crítico a “Política Nacional de Turismo”. Nosso questionamento se deve a essência das pesquisas de opinião que podem até de forma involuntária levar a constatações equivocadas ou errôneas.
O filósofo Pierre Bourdieu acredita que a pesquisa de opinião pública apresenta sérios limites, pois banaliza as sondagens e possui pouco rigor científico em sua execução, bem como, não podemos supor que a opinião esteja ao alcance de qualquer indivíduo e que todas têm a mesma opinião ou tenham de fato interesse sobre o assunto. Demonstra que as pesquisas desse tipo em turismo são questionáveis e passíveis de erros qualitativos em razão da hegemonia dos dados coletados.
Devemos esclarecer que os resultados dessa pesquisa, afirma de que o “turista estrangeiro mais gosta é do povo brasileiro”. Essa conclusão carrega um conjunto de impressões subjetivas e atitudes políticas de cunho ideológico que quando explicitas em sua essencialidade pode revelar fortes preconceitos, tais como:
1. Gosta do povo brasileiro por achá-lo exótico, e resultado da miscigenação com o europeu, africano e índio, acreditando de forma eurocentrista que a ascendência genética predominante destacada foi dada pelo “colonizador (explorador) europeu”;
2. Imigrantes brasileiros que moram na Europa, sabem que a comunidade européia em sua maioria, com destaque para a Espanha e Inglaterra possui um enorme preconceito xenófobo para com os povos latino americano;
3. Há agências que organizam os vôos charter oferecendo mais de um tipo de pacote para o turismo sexual. Os non-stop party, em que o turista desembarca sem nenhuma reserva de hospedagem, disposto a realizar sua fantasia sexual, pois para ele aqui tudo pode. Fica confinado em uma espécie de hotel de fachada, mas na verdade são casas de sexo especializadas em adolescentes;
4. As mulheres são oferecidas aos turistas estrangeiros por taxistas quando desembarcam ou pelo próprio agente de viagem, barraqueiros e vendedores eventualmente funcionam como intermediários. Em geral, não recebem nada pela indicação, mas a menina vira uma espécie de "parceira" daquele que a indicou, ela vai recorrer sempre a esse taxista para as corridas maiores, ela vai fazer seu cliente consumir na barraca de praia. Constituem-se em um comércio silencioso e criminoso regado muitas vezes pela droga;
5. Para burlar a fiscalização, muitos turistas acabam se hospedando em flats, casas de veraneio, bordéis ou alugam apartamentos, em que a entrada é menos fiscalizada e o suborno do porteiro é bem mais fácil;

Esses motivos nós mostram uma percepção completamente diferente do turista estrangeiro para com o povo brasileiro, pelo menos aquela que já havíamos comentado em artigo escrito em 2000 “Carta ao excelentíssimo presidente da República” o qual passo a transcrevê-la em parte: http://www.revistaturismo.com/artigos/presidente.html
Lembramos que a EMBRATUR serviu também aos interesses do Brasil ufanista na década de 70, divulgando a noção de um país de mulheres lindas, mulatas (de Sargentelli e Joãozinho 30) semi desnudas, sedutor (marketing que muito tempo serviu de produto de divulgação para a propaganda, via filmes, pôster e folders enviados para o exterior), ordeiro, pró-americano e anticomunista para o mundo (explicitado pelo apoio e a participação da EMBRATUR com seu escritório em New York, se justifica pela intensa demanda de participação em feiras e atividades culturais no território americano). O marketing usado pela empresa acabou timbrando uma imagem veiculada no exterior pela ideologia de "lugar de sexo fácil", como descreve em sua excelente tese de mestrado a professora Rosana Bignami Viana de Sá, quando afirma:
A imagem do paraíso não se reduz à idealização da selva primordial em seus aspectos de flora e fauna. Ela adquire um outro significado que a relaciona ao pecado original e o país acaba por ser conhecido como o lugar do sexo fácil e barato.
Mesmo aos olhos do observador pouco atento, é óbvio a tentativa de atrair turistas ao Brasil através do uso de imagens de belas mulheres e com referências ao apelo sexual.

Como também, a autora menciona o que se publica no exterior sobre o Brasil, no caso ela utiliza-se da reportagem de um jornalista italiano referente a um artigo chamado "Le mete eccitanti d'inverno" da revista Tutto turismo, em que relata os seguintes comentários do repórter:
" Para os jovens é fácil encontrar companhia, as mulheres brasileiras não se fazem de difícil, obviamente quando elas têm vontade. Porém, vale a pena lembrar que o Rio é a cidade onde se encontra o maior número de prostitutas e de homossexuais em todo continente americano."
A esse exemplo, poderíamos arrolar outros mais, pois a imagem que a mídia nacional fez no exterior sobre o Brasil deixou uma marca no campo da sedução, em que belas praias, mulheres e o exótico devem ser repensadas, principalmente pela EMBRATUR, que apesar de ter amenizado essa situação, tornando-se mais cuidadosa com seu material de propaganda promocional enviado ao exterior, o problema hoje adquiriu dimensões alarmantes.
O fluxo de turistas estrangeiros que chegam ao país em busca do turismo sexual com adultos e crianças é imenso. O equacionamento desta questão passa pela existência de um trabalho policial preventivo nos aeroportos, rede hoteleira e taxistas. Acompanhado de um grande programa educacional em que a EMBRATUR deveria em conjunto com as operadoras nacionais e estrangeiras mostrar as complicações jurídico-legais ao turista e a empresa.

Não podemos negar que o Brasil esta sendo conhecido no exterior como uma potencia emergente, a economia estável, a descoberta agora anunciada do Pré-sal, um crescimento pós-crise superior a muitas outras nações, adquirindo respeito no trato do meio ambiente e uso de combustível renovável, se constituí em uma liderança política e econômica junto aos países de todos os continentes.
Obviamente que possuímos ainda profundas mazelas oriundas das desigualdades profundas, bem como, criadores de uma Política Nacional de Turismo elitista voltada para o turista estrangeiro, que há décadas alimentou a venda do turismo brasileiro acoplada à imagem da mulher brasileira.
O Brasil necessita mudar e tem mudado, mas duvido, que essa pecha tenha deixado de existir, por isso, enquanto não tivermos acesso à pesquisa em questão, seremos um crítico a essas pesquisas mágicas.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MEMÓRIA CURTA ACELERA A IDEOLOGIA DOS BORRA BOTAS I


MEMÓRIA CURTA ACELERA A IDEOLOGIA DOS BORRA BOTAS I


João dos Santos Filho

Escrever sobre a história brasileira requer equilíbrio, racionalidade e criticidade, bem como, ter consciência do lado em que o pesquisador se coloca como narrador dos fatos. Obviamente toda história é ideológica, como diz Georg Lukacs “não há ideologia inocente”, portanto, querer achar culpados sem, contudo compreender as determinações sociais é praticar a anti-história ou transformá-la em tragédia ou comédia como diria Karl Marx.
A memória histórica de um país deve ser preservada, com isso quero dizer que a mesma deve ser resultado de um processo de recordação constante, patrocinado pelo Estado e instituições que tem o dever de repassa - lá, ou melhor, inculcá-la em todas as gerações como patrimônio da memória histórica de um povo.
Retratá-la como história da conspiração de uma suposta armação maquiavélica em que nós somos os puros e ele é o vilão, se constitui em um tratamento hegeliano de entender a história. Com isso, reafirmo que o tratamento que alguns borra botas dão ao presidente Lula é deplorável como também lamentável.
Podemos culpar o Lula por inúmeras razões ideológicas de corte partidário (os pressupostos doutrinários que sustentavam originariamente o Partido dos Trabalhadores – PT), principalmente os princípios que serviram para maximinizar a maioria da vontade dos brasileiros, quanto o que seria fazer política diferente, ou seja, voltada para as classes populares, foi mantida. O que não foi mantido foram os espaços para a luta pelo socialismo, este foi nacionalmente e internacionalmente questionado com base nos resultados do socialismo real, que não tem nada a haver com o socialismo cientifico.
Podemos culpá-lo também, por desenvolver uma política assistencialista que alimenta um populismo de “toma lá, dá-cá,” como comentam os borras botas de plantão, entretanto, esquecem que o Brasil possui uma enorme população passando fome que esta excluída das coisas mais básicas como saúde, educação, alimentação e dignidade. Esta comprovada por pesquisas, que o programa Bolsa Família alterou significativamente o quadro de miserabilidade de enorme parcela da população que se encontrava excluída da referencia de cidadania. Para um problema endêmico de pobreza o combate é no primeiro momento o assistencialismo emergencial até que se complete o ciclo de um desenvolvimento natural.
Podemos culpá-lo por ampliar sua base de sustentação política com antigos inimigos do povo e com isso fragilizar seu ideário ideológico original. Mas nunca acusá-lo de colocar as riquezas naturais na trilha dos interesses das multinacionais, na verdade há um imenso esforço de colocar a exploração das riquezas sob a tutela do Estado ou de empresas genuinamente nacionais, como a exploração do Pré-sal. Apesar da violenta pressão do capital estrangeiro exercer para que o governo Lula continue o processo de privatização que foi detonado por Fernando Henrique Cardoso.
Não podemos é deixar com que o preconceito de classe, sobreponha a racionalidade e desenvolva o discurso racista, na qual Lula esta sendo objeto por parte de oportunistas decadentes, que o acusam de expressar opiniões espontâneas ou por discursar com um vernáculo que oculta algumas letras. Esses escorregões de linguagem é produto de um brasileiro comum que expressa às dificuldades encontradas no dia a dia de grande parte da população brasileira.
Como recado gostaria de ressaltar que o governo Lula, tem defeitos e enormes defeitos, mas se compararmos o seu governo com os que lhe antecederam, percebemos que os benefícios alcançados são superiores, no campo da saúde, educação, alimentação, distribuição de renda, recuperação da indústria brasileira e principalmente no orgulho de ser brasileiro.
Por isso, apoiamos o trabalho exemplar que a Policia Federal tem feito contra o crime organizado e a corrupção política, e pedimos que a judiciário agilizasse os processos legais contra políticos ladrões. E que o governo esteja mais próximo dos desejos do povo que hoje começa a se manifestar contra a corrupção endêmica que assola o país.