quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

MELHOR DO PAÍS É O POVO BRASILEIRO: VOCÊ ACREDITA NA EMBRATUR?


MELHOR DO PAÍS É O POVO BRASILEIRO: VOCÊ ACREDITA NA EMBRATUR?

João dos Santos Filho

Desde o momento que tomei conhecimento do resultado da pesquisa encomendada pela EMBRATUR ao Instituto Zaytec, intitulada o “Perfil do Turista Estrangeiro e Imagem do Brasil”. Venho tentando saber mais do referido trabalho, qual foi o projeto elaborado, o problema destacado, a problemática delimitada, a construção e seleção de hipóteses, a metodologia utilizada, a construção de objetivos e a elaboração do questionário. Na verdade tenho buscado entender o tratamento científico dispensado aos dados coletados dessa pesquisa, pois há resultados extremamente inéditos e inesperados diante da percepção que o turista estrangeiro tem sobre o Brasil.
Mas até o presente momento desconhecemos por completo a metodologia utilizada ou qualquer outra informação desse discutível trabalho. E se enganam aqueles que pensam que esta minha preocupação é mera implicância de alguém crítico a “Política Nacional de Turismo”. Nosso questionamento se deve a essência das pesquisas de opinião que podem até de forma involuntária levar a constatações equivocadas ou errôneas.
O filósofo Pierre Bourdieu acredita que a pesquisa de opinião pública apresenta sérios limites, pois banaliza as sondagens e possui pouco rigor científico em sua execução, bem como, não podemos supor que a opinião esteja ao alcance de qualquer indivíduo e que todas têm a mesma opinião ou tenham de fato interesse sobre o assunto. Demonstra que as pesquisas desse tipo em turismo são questionáveis e passíveis de erros qualitativos em razão da hegemonia dos dados coletados.
Devemos esclarecer que os resultados dessa pesquisa, afirma de que o “turista estrangeiro mais gosta é do povo brasileiro”. Essa conclusão carrega um conjunto de impressões subjetivas e atitudes políticas de cunho ideológico que quando explicitas em sua essencialidade pode revelar fortes preconceitos, tais como:
1. Gosta do povo brasileiro por achá-lo exótico, e resultado da miscigenação com o europeu, africano e índio, acreditando de forma eurocentrista que a ascendência genética predominante destacada foi dada pelo “colonizador (explorador) europeu”;
2. Imigrantes brasileiros que moram na Europa, sabem que a comunidade européia em sua maioria, com destaque para a Espanha e Inglaterra possui um enorme preconceito xenófobo para com os povos latino americano;
3. Há agências que organizam os vôos charter oferecendo mais de um tipo de pacote para o turismo sexual. Os non-stop party, em que o turista desembarca sem nenhuma reserva de hospedagem, disposto a realizar sua fantasia sexual, pois para ele aqui tudo pode. Fica confinado em uma espécie de hotel de fachada, mas na verdade são casas de sexo especializadas em adolescentes;
4. As mulheres são oferecidas aos turistas estrangeiros por taxistas quando desembarcam ou pelo próprio agente de viagem, barraqueiros e vendedores eventualmente funcionam como intermediários. Em geral, não recebem nada pela indicação, mas a menina vira uma espécie de "parceira" daquele que a indicou, ela vai recorrer sempre a esse taxista para as corridas maiores, ela vai fazer seu cliente consumir na barraca de praia. Constituem-se em um comércio silencioso e criminoso regado muitas vezes pela droga;
5. Para burlar a fiscalização, muitos turistas acabam se hospedando em flats, casas de veraneio, bordéis ou alugam apartamentos, em que a entrada é menos fiscalizada e o suborno do porteiro é bem mais fácil;

Esses motivos nós mostram uma percepção completamente diferente do turista estrangeiro para com o povo brasileiro, pelo menos aquela que já havíamos comentado em artigo escrito em 2000 “Carta ao excelentíssimo presidente da República” o qual passo a transcrevê-la em parte: http://www.revistaturismo.com/artigos/presidente.html
Lembramos que a EMBRATUR serviu também aos interesses do Brasil ufanista na década de 70, divulgando a noção de um país de mulheres lindas, mulatas (de Sargentelli e Joãozinho 30) semi desnudas, sedutor (marketing que muito tempo serviu de produto de divulgação para a propaganda, via filmes, pôster e folders enviados para o exterior), ordeiro, pró-americano e anticomunista para o mundo (explicitado pelo apoio e a participação da EMBRATUR com seu escritório em New York, se justifica pela intensa demanda de participação em feiras e atividades culturais no território americano). O marketing usado pela empresa acabou timbrando uma imagem veiculada no exterior pela ideologia de "lugar de sexo fácil", como descreve em sua excelente tese de mestrado a professora Rosana Bignami Viana de Sá, quando afirma:
A imagem do paraíso não se reduz à idealização da selva primordial em seus aspectos de flora e fauna. Ela adquire um outro significado que a relaciona ao pecado original e o país acaba por ser conhecido como o lugar do sexo fácil e barato.
Mesmo aos olhos do observador pouco atento, é óbvio a tentativa de atrair turistas ao Brasil através do uso de imagens de belas mulheres e com referências ao apelo sexual.

Como também, a autora menciona o que se publica no exterior sobre o Brasil, no caso ela utiliza-se da reportagem de um jornalista italiano referente a um artigo chamado "Le mete eccitanti d'inverno" da revista Tutto turismo, em que relata os seguintes comentários do repórter:
" Para os jovens é fácil encontrar companhia, as mulheres brasileiras não se fazem de difícil, obviamente quando elas têm vontade. Porém, vale a pena lembrar que o Rio é a cidade onde se encontra o maior número de prostitutas e de homossexuais em todo continente americano."
A esse exemplo, poderíamos arrolar outros mais, pois a imagem que a mídia nacional fez no exterior sobre o Brasil deixou uma marca no campo da sedução, em que belas praias, mulheres e o exótico devem ser repensadas, principalmente pela EMBRATUR, que apesar de ter amenizado essa situação, tornando-se mais cuidadosa com seu material de propaganda promocional enviado ao exterior, o problema hoje adquiriu dimensões alarmantes.
O fluxo de turistas estrangeiros que chegam ao país em busca do turismo sexual com adultos e crianças é imenso. O equacionamento desta questão passa pela existência de um trabalho policial preventivo nos aeroportos, rede hoteleira e taxistas. Acompanhado de um grande programa educacional em que a EMBRATUR deveria em conjunto com as operadoras nacionais e estrangeiras mostrar as complicações jurídico-legais ao turista e a empresa.

Não podemos negar que o Brasil esta sendo conhecido no exterior como uma potencia emergente, a economia estável, a descoberta agora anunciada do Pré-sal, um crescimento pós-crise superior a muitas outras nações, adquirindo respeito no trato do meio ambiente e uso de combustível renovável, se constituí em uma liderança política e econômica junto aos países de todos os continentes.
Obviamente que possuímos ainda profundas mazelas oriundas das desigualdades profundas, bem como, criadores de uma Política Nacional de Turismo elitista voltada para o turista estrangeiro, que há décadas alimentou a venda do turismo brasileiro acoplada à imagem da mulher brasileira.
O Brasil necessita mudar e tem mudado, mas duvido, que essa pecha tenha deixado de existir, por isso, enquanto não tivermos acesso à pesquisa em questão, seremos um crítico a essas pesquisas mágicas.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MEMÓRIA CURTA ACELERA A IDEOLOGIA DOS BORRA BOTAS I


MEMÓRIA CURTA ACELERA A IDEOLOGIA DOS BORRA BOTAS I


João dos Santos Filho

Escrever sobre a história brasileira requer equilíbrio, racionalidade e criticidade, bem como, ter consciência do lado em que o pesquisador se coloca como narrador dos fatos. Obviamente toda história é ideológica, como diz Georg Lukacs “não há ideologia inocente”, portanto, querer achar culpados sem, contudo compreender as determinações sociais é praticar a anti-história ou transformá-la em tragédia ou comédia como diria Karl Marx.
A memória histórica de um país deve ser preservada, com isso quero dizer que a mesma deve ser resultado de um processo de recordação constante, patrocinado pelo Estado e instituições que tem o dever de repassa - lá, ou melhor, inculcá-la em todas as gerações como patrimônio da memória histórica de um povo.
Retratá-la como história da conspiração de uma suposta armação maquiavélica em que nós somos os puros e ele é o vilão, se constitui em um tratamento hegeliano de entender a história. Com isso, reafirmo que o tratamento que alguns borra botas dão ao presidente Lula é deplorável como também lamentável.
Podemos culpar o Lula por inúmeras razões ideológicas de corte partidário (os pressupostos doutrinários que sustentavam originariamente o Partido dos Trabalhadores – PT), principalmente os princípios que serviram para maximinizar a maioria da vontade dos brasileiros, quanto o que seria fazer política diferente, ou seja, voltada para as classes populares, foi mantida. O que não foi mantido foram os espaços para a luta pelo socialismo, este foi nacionalmente e internacionalmente questionado com base nos resultados do socialismo real, que não tem nada a haver com o socialismo cientifico.
Podemos culpá-lo também, por desenvolver uma política assistencialista que alimenta um populismo de “toma lá, dá-cá,” como comentam os borras botas de plantão, entretanto, esquecem que o Brasil possui uma enorme população passando fome que esta excluída das coisas mais básicas como saúde, educação, alimentação e dignidade. Esta comprovada por pesquisas, que o programa Bolsa Família alterou significativamente o quadro de miserabilidade de enorme parcela da população que se encontrava excluída da referencia de cidadania. Para um problema endêmico de pobreza o combate é no primeiro momento o assistencialismo emergencial até que se complete o ciclo de um desenvolvimento natural.
Podemos culpá-lo por ampliar sua base de sustentação política com antigos inimigos do povo e com isso fragilizar seu ideário ideológico original. Mas nunca acusá-lo de colocar as riquezas naturais na trilha dos interesses das multinacionais, na verdade há um imenso esforço de colocar a exploração das riquezas sob a tutela do Estado ou de empresas genuinamente nacionais, como a exploração do Pré-sal. Apesar da violenta pressão do capital estrangeiro exercer para que o governo Lula continue o processo de privatização que foi detonado por Fernando Henrique Cardoso.
Não podemos é deixar com que o preconceito de classe, sobreponha a racionalidade e desenvolva o discurso racista, na qual Lula esta sendo objeto por parte de oportunistas decadentes, que o acusam de expressar opiniões espontâneas ou por discursar com um vernáculo que oculta algumas letras. Esses escorregões de linguagem é produto de um brasileiro comum que expressa às dificuldades encontradas no dia a dia de grande parte da população brasileira.
Como recado gostaria de ressaltar que o governo Lula, tem defeitos e enormes defeitos, mas se compararmos o seu governo com os que lhe antecederam, percebemos que os benefícios alcançados são superiores, no campo da saúde, educação, alimentação, distribuição de renda, recuperação da indústria brasileira e principalmente no orgulho de ser brasileiro.
Por isso, apoiamos o trabalho exemplar que a Policia Federal tem feito contra o crime organizado e a corrupção política, e pedimos que a judiciário agilizasse os processos legais contra políticos ladrões. E que o governo esteja mais próximo dos desejos do povo que hoje começa a se manifestar contra a corrupção endêmica que assola o país.

domingo, 22 de novembro de 2009

EMBRATUR ESTARIA TENTANDO UMA JOGADA DE MARKETING?


EMBRATUR ESTARIA TENTANDO UMA JOGADA DE MARKETING?


João dos Santos Filho

Como cientista social e turismólogo que milita academicamente com o fenômeno do turismo e hospitalidade a mais de vinte anos, não poderia esquecer as belíssimas aulas sobre a “história das ideologias”, do saudoso sociólogo e amigo Fernando Perrone na admirável ECA - Escola de Comunicações e Artes da USP. No começo da década de 80 em pleno embate entre as forças democráticas que estavam consolidando-se, e as forças dos porões da ditadura militar que persistiam em permanecer dominando.
Na verdade foi um período histórico em que a ECA sofreu, mas soube resistir e Perrone foi um desses professores, que por meio de prontidão em favor da democracia sabia dar as aulas dentro de um cunho crítico e esclarecedor para o entendimento da realidade social brasileira.
Foi pensando neste fato que fomos obrigados a refletir sobre a pesquisa “Perfil do Turista Estrangeiro e Imagem do Brasil” encomendada pela EMBRATUR ao Instituto Zaytec. Que segundo um dos resultados quantificados é extremamente impactante para a lógica do turismo nacional, pois com uma amostragem de apenas 2.405 entrevistas realizadas em turistas que vieram ao Brasil, deu que 45% dos entrevistados afirmam que o “melhor do país é o povo brasileiro”.
Parece que esse dado se constitui em um fato novo nas pesquisas deste campo,
merecendo cuidados especiais no que se refere; a delimitação do problema de pesquisa; a construção de hipóteses; a variáveis delimitadas, conceitos e tipologia. Pois a interpretação e a tabulação devem estar aliadas aos cuidados de rigor científico, que não pode ser confundido como meras pesquisas de opinião, que quase sempre são traduzidas pela rapidez das respostas de densidade emocional, provocadas pela intervenção de entrevistador mal treinado.
Como não temos acesso a essa pesquisa, somos obrigados a levantar essas questões e recordarmos do livro “A Mistificação das Massas pela Propaganda Política” do russo Serge Tchakhotine, traduzido por Miguel Arraes em 1967. Que discute com profundidade o poder das palavras trabalhado dentro do processo ideológico, que pode criar verdades imaginárias que acabam guiando a racionalidade humana. Além da existência de pesquisas realizadas na Universidade de Coimbra, sobre a imigração brasileira em Portugal constatou que os portugueses vêem a mulher brasileira relacionada ao sexo e a dos homens à falta de compromisso e à malandragem.
A EMBRATUR deveria fazer também uma pesquisa junto aos funcionários das operadoras brasileiras de turismo para verificar como as operadoras de turismo estrangeiras classificam e vendem os roteiros de praias da maioria do nordeste brasileiro, ou ainda verificar por que a maioria dos vôos charter se compõe de homens , que quando desembarcam no Brasil não possuem reserva em hotéis.
Por esses motivos de ordem metodológica e de mera observação do cotidiano do turismo no Brasil, questionamos os resultados da pesquisa “Perfil do Turista Estrangeiro e Imagem do Brasil” e indagamos, não seria mais uma das muitas jogadas de marketing da EMBRATUR.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Maringá cidade de Paul e Laura Lafargue


Maringá cidade de Paul e Laura Lafargue

João dos Santos Filho

Entrevistando as pessoas que chegavam à cidade de Maringá pela rodoviária nova, deparamos com um casal de turistas da história universal o médico cubano Paul Lafargue e sua companheira Laura Marx, filha do pensador Karl Marx. Estavam vindo da França com o objetivo de se estabelecerem em nossa cidade, ele apresentava sinais de cansaço por ter saído da prisão de Saint-Pélagie a menos de quatro dias e ela por ser filha de quem era, apesar de seu semblante, demonstrar as marcas de uma mãe que havia perdido três filhos por culpa exclusiva da falta de higiene nos hospitais e pela proibição absurda de usar amas de leite.
Estava radiante em conhecer o Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá e encontrar os marxianos sobreviventes da queda do muro. Imediatamente nos propomos a levá-los para a nossa casa, oferecendo a hospitalidade dos comunistas e admiradores que os respeitavam pelo seu trabalho de militante e de intelectual do lazer, turismo e do mundo do não trabalho. Muito gentilmente recusaram o convite, preferindo um hotel, resolvemos levá-los para o Bandeirantes pelo clima de nostalgia dos anos sessenta que o mesmo apresenta aos hospedes. Ao nos aproximamos do hotel houve uma sensação de familiaridade de nossos ilustres visitantes para com aquela estrutura, comentaram que a arquitetura recordava a parte americanizada da cidade de Santiago de Cuba na década de 60. Após conseguirmos as acomodações nos despedimos e marcamos para conversarmos pela manhã para ajudá-los em sua nova pátria.
De volta ao hotel, no dia posterior as nove da manhã, pudemos conversar e tomar um excelente café com Laura e Paul e conversarmos mais longamente sobre tudo e todos. De início elogiaram o verde da cidade, indagando se havia índios entre as matas, pois comentaram que em seu livro "O direito à preguiça" escrito em 1880 fizeram uma citação ao Brasil, relatando os costumes de seus primeiros habitantes. Em seguida perguntaram qual era a população da cidade, por mera coincidência o jornal "o Diário" que estava a disposição dos hospedes estava em nossa mesa e trazia em sua primeira pagina o resultado do censo 2000. Maringá havia contabilizado 288.467 mil habitantes. Espantados perguntaram qual era o numero e as condições das crianças e mulheres que trabalham nas fábricas, campos, comercio e serviços da região. Respondi que as condições eram semelhantes da Inglaterra do século XIX.
Em seguida perguntei a Laura sobre seu pai e com uma tonalidade de voz nostálgica, ela me disse que o Mouro estava em plena atividade intelectual e convivendo com suas doenças conhecidas por todos. Mas muito triste, por ter de ouvir interpretações errôneas de suas obras e ver seu nome sendo usado pelos sociais democratas com ares de comunistas. O que mais era preocupante para todos da família Marx é que Mouro tinha sentido demasiado a morte de sua mulher.
Imediatamente, procurei mudar de assunto, e reforçar as conquistas intelectuais de Marx. Quando perguntei sofre o manifesto comunista, ela me confidenciou que esse texto de seu pai e Engels, foi objeto de extrema perturbação para no cotidiano da família. Pois seus pais e suas irmãs sofreram a perseguição de agentes do governo belga que permaneceram vigiando os passos da família até surgir o pedido de expulsão. Laura comentou que Marx queria tomar satisfação com policiais. Engels teve que interceder e depois de duas horas de discussão conseguiu convencer Marx. Após tudo resolvido, Marx confidenciou a Engels que iria dar uma bengalada na cabeça desses agentes. Engels teve de ser duro com Mouro e não se agüentando começou a dar largas gargalhadas. Todos nós acabamos rindo do gigante de Trevéris e por conselho do General ( Engels ) resolvemos deixar Bruxelas e fomos morar em Paris.
Saímos do hotel e fomos para o centro da cidade, Lafargue demonstrava enorme interesse pela vida política em Maringá, perguntou-nos se o governo dos trabalhadores iria criar uma estrutura autônoma para ativar o lazer entre os trabalhadores. Eu lhe respondi que não, mas que o PT sempre foi um partido de ouvir as bases e que não tomaria decisões de cima para baixo. Lafargue ainda se ambientando no meio maringaense me interpelou, afirmando que tinha feito a escolha correta para morar. Mais uma vez, demonstrava entusiasmo em viver em Maringá.
Laura pensava em dar aulas de Francês e Inglês e ser professora da UEM, mas quando comentamos sobre o salário e a pratica da delação que havia sido implantada no interior da academia por parte de alguns grupos políticos, resolveu buscar novas saídas. Paul pensava em poder tornar seu sonho realidade, isto é, desenvolver junto aos trabalhadores um programa de lazer e turismo em que o município por meio de sua secretária de turismo estimula-se a criação de programas em parceria com as indústrias.
Comentei com Paul e Laura sobre os cadernos de Paris escritos por Marx em 1844 que são um marco para o estudo do lazer e do tempo livre, um texto pouco usado. Imediatamente Paul afirmou que esse foi um material fundamental para ele poder escrever "O Direito a preguiça". E completou sua idéia pedindo, para conversar com prefeito de Maringá. Será possível? respondi para ele, que iríamos tentar agendar para a semana.
* Os índios das tribos belicosas do Brasil matam seus inválidos e seus velhos; demonstram sua amizade pelo atingido pondo fim a uma vida que não se alegra mais com os combates, festas e andanças (Paul Lafargue. O direito à preguiça. São Paulo, editora Káiros, 1980. P. 26).

terça-feira, 27 de outubro de 2009

RECONQUISTAR O RIO PARA INVADI-LO COM POLÍTICAS PÚBLICAS


RECONQUISTAR O RIO PARA INVADI-LO COM POLÍTICAS PÚBLICAS


João dos Santos Filho

Gostaria de iniciar este difícil e complexo assunto, relatando a história de um grande e saudoso amigo Arnold Escobar escritor e poeta colombiano que foi professor da Universidade de Antioquia na cidade de Medellín. Intelectual ativo e engajado nas lutas pela democracia sofreu com a perda de seu irmão advogado ativista na luta pelos direitos humanos contra o narcotráfico.
Na década de oitenta participou de um concurso internacional de poesia em Israel, sendo premiado com dez mil dólares por uma de suas peças poéticas. Na qual ajuntou mais suas economias de anos de poupança e adquiriu um terreno na cidade balneária de Cartagena, com a intenção de no futuro construir uma casa de veraneio, nessa magnífica cidade repleta de fortaleças, igrejas e patrimônio da humanidade, comparada com a beleza e romantismo da cidade do Rio de Janeiro.
Passado alguns anos, o professor Arnold, foi a Cartagena para contratar a construção de sua tão sonhada casa, mas ao chegar ao terreno de sua propriedade depara-se com uma placa informativa, com o nome de outro dono. Imediatamente dirigi-se ao cartório que havia lavrado a escritura do imóvel, e qual é sua supressa, o livro de registro havia sido grosseiramente adulterado em documento público. Reclamou, denunciou ao dono do cartório a farsa e como já era tarde foi para o hotel descansar. Depois de trinta minutos chegou a policia com o chefe do cartório ordenando em nome do crime organizado que esquecêssemos o ocorrido, e voltasse para Medellín ainda essa noite.
Parece que o Rio de janeiro e Cartagena são produto do mesmo pecado, a inexistência de Políticas Públicas por parte do Estado, isto é, esquecimento do povo por parte dos governantes.
O Rio necessita ser reconquistado pelo Estado de direito, recuperando sua situação jurídica, reordenando o sistema institucional, no qual cada indivíduo esta submetido. A volta do Estado de direito e o respeito a hierarquia das normas e leis constitucionais só é possivel com o combate constante ao crime organizado que tem que estar acompanhado de Políticas Públicas imediatas e efetivas. Isto é, cada centimetro conquistado sobre o espaço urbano, tem que ser ocupado por atividades públicas voltadas para o cidadão e sua cidadania.
No campo da educação; escolas aparelhadas para atendimento integral desde creches, primeiro e segundo grau, ensino tecnico profissionalizante e faculdades. No campo da saúde, criação dos medicos da família espalhados nos morros, ambulatórios, policlinicas e hospitais. No campo do saneamento básico e infraestrutura urbana, estenter esses serviços a integralidade da população, como teleférico, centros esportivos. No campo do trabalho, desenvolver atividade profissionalizantes agregadas a remuneração, e desenvolver um turismo de pequenas hospedarias, garantindo acesso ao micro-crédito e treinamento aos pequenos empresários.
Mas para tal iniciativa vir a dar certo, há necessidade do Estado reconquistar o espaço urbano e a população local, destronando a bandidagem e retomando o controle da sociedade por meio de atividades públicas que devolvam a esses brasileiros a cidadania e o direto de ser feliz.

sábado, 10 de outubro de 2009

Rio 2016: Política pública de inclusão ou fracasso total


RIO 2016: POLÍTICA PÚBLICA DE INCLUSÃO OU FRACASSO TOTAL

A lógica do Estado mínimo, essência do neoliberalismo caiu totalmente em descrédito, economistas apavorados são obrigados a recolocar novamente o papel fundamental do capital estatal para que o sistema erga-se da crise econômica e política que foi sentida mundialmente. Parece que o cadáver do Estado do Bem Estar Social não consegue descansar em paz, pois além de demonstrar que sua negação foi um grande equívoco para o capitalismo, atualmente esta sendo objeto de grandes debates para que seja reerguido em parte.
O que incomoda de imediato os direitistas e provoca aberta indignação ao cidadão brasileiro em geral, é a existência de um lobby quadrilheiro instalada no Estado, e a fúria com que os contratos das obras públicas são superfaturados, seja por meio das propinas, aditivos repentinos que corrigem os valores para mais, mimos materializados em dinheiro ou bens materiais. Tudo vale, para que o recurso público seja desviado, empregos por atos secretos, empresas terceirizadas prestadoras de serviços ao governo cujos donos são políticos.
Mas esta não é de fato uma questão somente da falta de maior rigor nos tramites com o dinheiro público, pois se assim o fosse, todo e qualquer controle burocrático seria suficiente para diminuir ou estancar o desvio de verba pública. Parece que o problema é de entendimento político do que sejam de fato “políticas públicas” voltadas à população brasileira.
O Estado brasileiro historicamente segundo as elites governantes sempre demonstraram uma forte característica de se preparar para receber o estrangeiro, isto é, ser hospitaleiro com o estrangeiro e nunca para o povo brasileiro em sua dimensão de estratificação. A elite governa para seus pares na mundialização do Capital e determina uma política pública para a classe dominante que exclui as outras classes.
Por essa falta de compromisso do Estado para com povo, presenciamos que grande parte das obras que serviram aos Jogos Pan-Americanos de 2007 está abandonada ou foram entregue a iniciativa privada que faz uso privativo do equipamento público. O Estádio João Havelange aos cuidados do Botafogo possui a melhor pista de atletismo da América Latina, mas não esta sendo usado e os atletas não têm onde treinar. O autódromo de Jacarepaguá esta abandonado, o Parque Aquático Maria Lenk se tornou um foco transmissor do mosquito da dengue, o velódromo uns dos mais modernos do mundo é pouco usado e possui uma manutenção que vem comprometendo sua pista, na Vila Olímpica só 10% dos apartamentos está ocupada.
Em razão das políticas públicas estarem direcionadas somente as classes dominantes nacionais e estrangeiras e, portanto não responderem à população em geral, e o Estado possuir interesses combinados com o trade para acumulação rápida da mais-valia. Entendemos que de fato se o governo, não elaborar Políticas Públicas efetivas de inclusão, ou seja, políticas que contemplem as diferentes classes sociais com programas formais (carga horária igual ou equivalente ao ensino regular) de incentivo ao mundo do esporte desde o primeiro grau com apoio à alimentação acompanhado de uma bolsa esporte que dê suporte as famílias. Nada mudará nesse país o Rio será desmoralizado o Brasil decapitado do mundo dos emergentes.
Os equipamentos esportivos do Pan como os da olimpíada terão seu destino traçados pelo abandono com sério prejuízo político, social e econômico para o povo brasileiro e uma desmoralização do país perante o mundo.
Cansamos de denunciar como o Estado brasileiro se apresenta hoje descompromissado com as classes populares, não consegue desenvolver Políticas Públicas eficientes e voltadas para a população brasileira, pois o interesse do capitalismo é pelo retorno quantitativo da acumulação de Capital.
Vejamos o caso da Política Nacional de Turismo - PNT- totalmente direcionada para atender o turista estrangeiro ou de alto poder aquisitivo, poderíamos perguntar:
1. Qual é a fonte dos recursos que pagam o salário dos vinte quatro diretores que compõem a Estrutura administrativa do Conventions Visitours Bureaux? Obviamente o Ministério de turismo.
Os Escritórios Brasileiros de Turismo (EBTs) são unidades avançadas de promoção, marketing e apoio à comercialização de produtos, serviços e destinos turísticos brasileiros no mercado internacional. Têm como principal atribuição promover e divulgar o turismo brasileiro nestes mercados, oferecendo alternativas que possam contribuir para a consolidação da imagem do país como um destino turístico atraente e competitivo. Qual é fonte dos recursos para a manutenção dos nove EBTs? Obviamente do Ministério do turismo.
Como sabemos, pois o próprio trade denúncia o fracasso dos programas de turismo destinados ao turista brasileiro;
• Viaje Mais Melhor Idade, esta suspenso.
• Viaja Mais Jovem, só ficou na etapa experimental.
Como podemos confiar num Estado que planeja encima do emergencial do acaso, combinado com o interesse simplesmente economicista, longe da perspectiva de inclusão social. Na verdade sem políticas públicas voltadas as classes populares, sem a participação do povo nas decisões locais, estaduais e federais, o Brasil não poderá ser um país de todos, mas sim de alguns.

sábado, 3 de outubro de 2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

POVO MAYA E POVO GUARANI SÃO LATINO AMERICANO

POVO MAYA E POVO GUARANI SÃO LATINO AMERICANO

João dos Santos Filho

Ouvir a descrição dos fatos ocorridos no interior da embaixada brasileira em Tegucigalpa, contado pela imaginação de direitistas de plantão e amigos da política estadunidense ou ainda dos mal informados politicamente. Coloca a atitude de parcimônia em cheque, pois o surgimento de idéias estapafúrdias se cria e recriam como ecos de uma montanha.
O Brasil via o Itamarati demonstrou maturidade e sapiência para lidar com uma peça delicada do tabuleiro da política diplomática, deu “abrigo” ao presidente hondurenho Manuel Zelaya deposto por um golpe de Estado, que até agora não esta totalmente explicada, ou melhor, todo golpe de Estado é traduzido como uma ruptura das leis constitucionais. Com isso, o Brasil assume o papel de liderança política na América – Latina imposta pela própria dinâmica da conjuntura internacional, demonstrando o papel que o Brasil possui no mundo.
Como Zelaya chegou à embaixada é um assunto que em nada envolve o Brasil, muito ao contrário, nossa responsabilidade começou com a presença dele no interior da chancelaria. Teríamos que garantir sua integridade física em razão de qualquer ato que pudesse por em risco sua pessoa. Numa perspectiva humanitária o Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim agiu politicamente de forma correta e mostrou qual será o novo timbre da política exterior brasileira daqui para frente.
Com referência ao presidente deposto de Honduras Manuel Zelaya, não podemos controlar o seu comportamento dentro da embaixada, pois a categoria funcional dada pelo governo brasileiro é de “abrigo”, pois é ele mesmo que responde a suas ações dentro da chancelaria brasileira, o Brasil só se responsabiliza pela a preservação de sua integridade física.
Além do que a Organização dos Estados Americanos – OEA e a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU condenaram integralmente o golpe de Estado que o presidente sofreu, isto é, um presidente eleito democraticamente foi preso e deportado de seu país e forma inesperada, chega à embaixada brasileira para abrigar-se. A atitude do Brasil foi correta em termos de política internacional, dar abrigo, para impedir que Zelaya sofresse qualquer violência.
Imediatamente a chancelaria brasileira foi cercada pelo exército do governo golpista de Roberto Micheletti, que fez sérias ameaças ao governo brasileiro, suspendeu as garantias constitucionais durante um período de 45 dias decretando estado de sítio. Restringiu às liberdades de circulação e expressão, tirando do ar as emissoras de radio e televisão, impondo a censura aos jornais e a manifestações públicas.
Diante desse fato o Itamarati experiente no trato da política internacional, utilizou o tempo a seu favor apelando de forma insistente a OEA, e aguardando que as relações entre Brasil e Honduras chegassem a níveis de tolerância para o diálogo diplomático. Com isso, o Brasil conseguiu fazer com que Zelaya e Micheletti retomassem as conversações entre eles e encaminhassem soluções próprias, para que Honduras retome sua estabilidade política.
Nesse sentido, não entendemos como um senador brasileiro afirma de forma leviana que o Brasil sabia da volta de Zelaya a Honduras e contava com apoio da chancelaria brasileira. Esse senador parece não entender nada de política nacional, internacional e desconhecer a história de atuação do Ministério das Relações Exteriores no comando da política diplomática.
Porque não se fala que Zelaya, como a exemplo de países da America latina, hoje possuem uma unidade de interesses comum e ajuda mútua no campo político, econômico, social e cultural, que acaba diminuindo ou pelo menos dividindo a influência dos Estados Unidos no continente. Essa unidade queira ou não, se dá pelo Brasil com a seriedade política do Itamarati e pela Venezuela com excessos e atitudes galhofista. A realidade verdadeira se apresenta a nós, e muitas vezes não é a que gostaríamos, portanto o leitor não pode esquecer que nesta turbulência política há o dedo dos Estados Unidos, pois Zelaya havia costurado com Venezuela no campo petrolífero um acordo amplamente vantajoso a Honduras, atitude que irritou a classe política e amedrontou os interesses dos americanos.
Por isso, nunca devemos criar animosidades entre os países latinos, temos que ter paciência para sempre garantir um dialogo entre povos que sofreram historicamente à dominação portuguesa e espanhola. E saber que a gloria do povo Maya e Guarani são as matrizes primeiras de nossa nacionalidade.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

KARL MARX DENUNCIOU E SARNEY PRATICOU


KARL MARX DENUNCIOU E SARNEY PRATICOU

João dos Santos Filho

O movimento de despolitização, o cultivo do pensamento irracionalista, e negação do movimento histórico existente no interior do modelo neoliberal, aliado aos estampidos arrogantes da baixa academia contra o pensamento marxiano. Levaram alguns intelectuais a considerar a mesma, como uma teoria ultrapassada e de princípio filosófico arcaico para o entendimento da sociedade atual, obviamente, não poderíamos deixar de avocar o oposto. O pensamento de Karl Marx é contemporâneo, atualíssimo e necessário.
Segundo escreve Marx no Manifesto Comunista: “O governo moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa” (1847), sim para ele o Estado é o gerente dos interesses da classe dominante nacional e internacional, que não simula ou camufla essa essencialidade. Mas sim, explicita seus interesses de classe amparados por meio da montagem de uma burocracia, que mescla relações de sociabilidade coloniais, com a de compadrio aquartelado por meio de leis de cunho repressivo que compõem o quadro jurídico da chamada “legalidade” de Estado.
Esses fatos começaram vir à tona com maior intensidade, quando a classe política brasileira e funcionários com o status ainda de funcionários “régios” tiveram suas condutas e direitos questionados pela sociedade civil. Em decorrência de atritos por interesses políticos entre seus próprios pares, que forjaram esquemas de privilégios financeiro, material e político para beneficio pessoal.
O Presidente do Senado Federal José Sarney comanda literalmente a casa dos senhores senadores ou como poderíamos também chamar a “Casa da Mãe Joana” dentro dos seguintes absurdos:
1. Emprega funcionários segundo interesses do presidente da casa, aceitando pedido de emprego da filha para seu namorado;
2. Nega ter responsabilidade administrativa sobre a fundação Sarney, sendo que José Sarney é fundador e presidente vitalício dessa entidade.
3. Desvio de dinheiro ocorrido pela fundação Sarney;
4. Criação de atos administrativos referentes à nomeação e posse para cargos comissionados e de confiança. Todos possuíam uma característica bastante peculiar, decorrente da prática do hábito de governar o “bem público” em beneficio do parlamentar, por isso tratavam-se de atos administrativos secretos.
5. O emprego de parentes do senador e aliados na área pública.

Marx tem toda a razão, quando denuncia que a classe dominante transforma o Estado em escritório de seus interesses particulares. Na verdade as vantagens salariais desses burrocratas parlamentares são marcadas por dezenas de vantagens moradia; verba de gabinete; verbas indenizatórias (para hospedagem, combustível e consultorias); despesas com telefone e postagem de cartas, além de uma cota para cobrir passagens aéreas.
Por isso, leitor não vote em quem tem a ficha suja ou que ainda não foi condenado, mas praticou ou vem praticando atos nocivos a democracia brasileira, em razão de sua atuação política. Basta de impunidade!!!!!!!!

VITRINE DO DESRESPEITO E HUMILHAÇÃO AO TURISMÓLOGO: OS EUNUCOS DO TURISMO BRASILEIRO


VITRINE DO DESRESPEITO E HUMILHAÇÃO AO TURISMÓLOGO: OS EUNUCOS DO TURISMO BRASILEIRO

João dos Santos Filho

Caro turismólogos nunca poderia imaginar que um dia viesse a escrever o presente texto, e devo confessar que para mim bacharel em turismo e Ciências Sociais não foi nada fácil. Pois minha consciência como cientista social levava-me a denunciar o que há por detrás da “Lei Geral do Turismo” n. 11.771 de 17 de Setembro de 2008. De outro como turismólogo fiquei indignado e perplexo com a mudez opinativa dos colegas perante o significado da “Lei Geral do Turismo”.
Diante deste dilema optei por explicitar algumas dúvidas; a “Lei geral do turismo” não menciona, ou melhor, omite o profissional turismólogo ou bacharel em turismo, poderiam pensar que isso fosse mais um dos caprichos de nós turismólogos que lutam pela regulamentação profissional a mais de trinta anos, mas não é! O que nos deixa estapafúrdio é saber que somos os únicos profissionais que apesar de cursar um curso superior de turismo e estudar esse fenômeno de forma sistemática, não sermos nominados como responsáveis pelas atividades contidas no:
Capitulo III - DA COORDENAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE DECISÕES E AÇÕES NO PLANO FEDERAL, Seção I, Das Ações, Planos e Programas: “VIII - a formação, a capacitação profissional, a qualificação, o treinamento e a reciclagem de mão-de-obra para o setor turístico e sua colocação no mercado de trabalho”;
E no Capítulo II - DA POLÍTICA, DO PLANO E DO SISTEMA NACIONAL DE TURISMO, Subseção II: “XIX - promover à formação, o aperfeiçoamento, a qualificação e a capacitação de recursos humanos para a área do turismo, bem como a implementação de políticas que viabilizem a colocação profissional no mercado de trabalho”; (http://www.turismologia.com.br/lgt.asp)
A questão agravante nesse caso se deve ao fato que a precariedade do estatuto jurídico que possuímos fica mais débil, pois qualquer outro profissional como o administrador (pelos seus interesses confessos em tentar incorporar os turismólogos na fileira dos administradores), o leigo, o político e o tecnólogo podem vir atuar no campo da capacitação profissional e acadêmica. Sem mencionar que a Deliberação Normativa Nº 390, de 28 de Maio de 1998 se refere à importância do parecer técnico emitido por profissional egresso de cursos superiores de Bacharel em Turismo.
Afinal somos credenciados para assinar os pareceres técnicos e, não para fazer parte da “Lei Geral do Turismo”, principalmente naquilo que ela tem de mais nobre o treinamento da mão de obra e capacitação profissional e acadêmica. Serão que não nos consideram educadores? Questionamos quem educa o educador, é o trade? Se assim for, para que servem os cursos de turismo? Para que o empresário da educação em turismo acumule capital ou para os nobres motivos da educação superior.
Parece cômico para não dizer trágico, o Estado formaliza um arcabouço legal normativo sobre a “Lei geral do turismo” e não menciona seu trabalhador fundante o Turismólogo. Isso me faz lembrar em termos de galhofa o que seria; a lei geral da saúde, sem levar em conta o médico ou a enfermeira; a Política Nacional de Energia Nuclear, sem levar em conta os formados em física; a lei geral da advocacia sem levar em conta o bacharel em direito, e assim poderíamos enumerar inúmeras categorias profissionais.
De outro lado, não podemos ficar sem aplaudir o conteúdo da lei que veio disciplinar, articular e dar foro legitima as leis que estavam esparsas e perdidas de direção quanto sua eficácia normativa.
Entretanto, essa lei veio contrair ainda mais o mercado de trabalho para o turismólogo que vê sua especificidade laboral sendo invadida por outros profissionais, que após a implementação da mesma acabou nivelando todas as funções de turismo como atividades iguais. O que tira a especificidade do turismólogo e o coloca idêntico a qualquer outro profissional de nível superior, com a desvantagem que todos possuem uma formação especifica, menos o turismólogo que é produto daquela idéia retrógada e equivocada de que a formação do mesmo deve ser generalista.
No capítulo II, subseção II, Dos Objetivos, deparamos com o inciso X:
X - prevenir e combater as atividades turísticas relacionadas aos abusos de natureza sexual e outras que afetem a dignidade humana, respeitadas as competências dos diversos órgãos governamentais envolvidos;
Impressiona a timidez com que o Estado explicita a questão do turismo sexual, como se o problema não fosse produto da atividade turística promovida sem critérios, na qual para se conseguir turista principalmente estrangeiro todo vôo Charter é bem vindo. Hoje só o nordeste recebe 28 vôos semanais fora os regulares aliados a questão da pobreza local, alimentam a indústria do turismo sexual. Por isso são inócuas as campanhas publicitárias, pois o que manda é força dos dólares: o hotel nada vê, o agenciador de garotas apesar de conhecer funcionários do estabelecimento e ser conhecido ninguém o conhece.
Nos aeroportos quando da chegada dos vôos chartes a magia ocorre; agenciadores bilíngües negociam carne humana infantil, por hora, por dia ou por semana. Taxistas já sabem como recolher as garotas a maioria menor de idade, muitos turistas saem dos aeroportos e chegam acompanhados aos hotéis. E como não poderia deixar de ser, as autoridades ficam se esquivando de atuar, pois dizem que cada órgão tem limites.
Para finalizar esse breve comentário, não poderíamos deixar de refletir que nossa exclusão como profissionais da “Lei Geral do turismo” se deve a nossa pouca organização política e organizativa diante do lobby desenvolvido pela Associação Brasileira de Agentes de Viagem – ABAV, que por sinal esta lutando para regulamentar as atividades profissionais do Agente de Viagem. Na qual encontramos uma série atividades que são contempladas aos agentes de viagens que também são desenvolvidas pelos bacharéis de turismo – turismólogos.
A “lei Geral de Turismo” não substitui a necessidade da regulamentação da profissão de turismólogo, pois quem assim afirma trabalha em cima de uma falsa premissa. E nem podemos imaginar que aos Bacharéis de turismo poderão constituir empresas para atuar em planejamento.
Na verdade foi uma humilhação para os turismólogos não serem mencionados na “Lei Geral do Turismo” é como falar do Brasil e esquecer-se de mencionar os brasileiros. Isso mais uma vez demonstra que o trade está somente preocupado com as questões econômicas; aumentar a permanência do turista estrangeiro em território nacional, que o dólar não sofra nenhuma desvalorização e que o turismólogo fique longe do turismo.

PARTIDO DOS TRABALHADORES E A DITADURA DO CONGRESSO NACIONAL


PARTIDO DOS TRABALHADORES E A DITADURA DO CONGRESSO NACIONAL

João dos Santos Filho

Triste de se admitir, vergonhoso de se ouvir e humilhante de se ver, o Partido dos Trabalhadores implodiu, e soltou uma poeira cósmica que encobriu seus originais princípios dentro da penumbra de gases tóxicos. Morreu, acidentou-se ou se transformou? Uma certeza é consensual, a política neoliberal saiu ganhando, e a sociedade brasileira perdeu historicamente mais uma vez, a possibilidade de agilizar metas modernizantes de transformações conjunturais e encaminhar sinalizações estruturais.
Dias felizes foram àqueles em que o PT detinha integralmente o processo de formação política da sociedade brasileira, como a agremiação partidária exemplar em seus princípios ideológicos. Preferida da maioria das classes sociais, alimentadas pela a pujança de uma juventude atuante, envolvida junto aos movimentos sociais e sindicais, contando com a inteligência de uma intelectualidade militante e simpática aos pressupostos socialistas do partido.
O PT se transformou em uma “escola de formação política”, politizou pedagogicamente a sociedade, demonstrou que política faz parte do cotidiano da vida e que é algo bom para a formação da cidadania, ou seja, do o homo politicus. Afastou a idéia da neutralidade política e demonstrou que o voto é um instrumento de mudança.
Foi só assumir o comando do Estado em 2003, tendo como propósito desenvolver uma política de alianças com todos os partidos, para a formação de uma grande frente para a base de sustentação política do governo. Que a estratégia se mostrou nefasta e contaminou o PT iniciando um processo de exclusão de seus militantes mais históricos, e o desenvolvimento um processo galopante de despolitização acompanhado de uma descrença generalizada nos princípios doutrinários do partido.
Começamos com Luiza Erundina prefeita de São Paulo pelo PT no mandato de 1989-1993, e nomeada em seguida pelo presidente Itamar Franco para responder pela Secretária da Administração Federal. O que lhe rendeu enorme pressão e críticas por parte do PT e petistas que não aceitavam formar um governo de composição com o PRN. Conseqüência desse fato leva Erundina a filiar-se ao PSB em 1999.
A deputada Federal Luciana Genro, a senadora Heloísa Helena e os deputados Babá e João Fontes, foram expulsos do Partido dos Trabalhadores em dezembro de 2003 por desobedecerem à orientação do partido. Recusaram a apoiar medidas que fortalecessem a política neoliberal, pois isso desviava as diretrizes originais socialistas do PT.
Relembramos o jornalista e bacharel em direito Plínio de Arruda Sampaio e o jurista Hélio Bicudo que saíram do partido em 2005 acompanhados pelos deputados Ivan Valente e Orlando Fantazzini, Maninha , Chico Alencar e João Alfredo.
Em 2009 saem do PT, a senadora Marina Silva e seu parceiro de partido o senador Flávio Arns, afirmam que a legenda abandonou suas bandeiras da ética na política e da transparência de seus atos em defesa do povo brasileiro, ao se posicionar favoravelmente ao arquivamento das denúncias, no Conselho de Ética, contra o presidente do Senado, José Sarney.
Isso balançou o comando político da agremiação partidária petista, desqualificou o líder do PT no senado o senador Aloizio Mercadante que apesar de divulgar que estava deixando a liderança, recuou a pedido do presidente Lula. Acredito que sua posição de “pedir penico” esteja sinalizada por sua candidatura a caminho do governo de São Paulo.
Diante disso, houve senadores do PT que ao votarem a favor pelo arquivamento das denúncias contra Sarney, esconderam seus rostos diante da TV senado e se fizeram presente só pelo som de sua fala. Pois com medo do eleitorado petista que em rede nacional presenciou a sessão do Conselho de Ética, foi constrangedor para todos os senadores.
Envergonhados, muitos senadores se esconderam, outros desavergonhados festejam nas pizzarias da Capital Federal e comandam a farra do congresso na conhecida “casa da mãe Joana”. É uma lastima saber que o Congresso Nacional desenvolveu um processo de autocondenação quando aprovou o arquivamento dos processos contra Sarney. Demonstrando que esta instituição como diria Max Weber é de fato uma sólida estrutura burocrática de poder e completaria Karl Marx de poder da classe dominante.
Na verdade existe uma ditadura do Congresso Nacional para com os interesses do povo brasileiro, que só pode ser destruída pelo voto e pela militância do povo na rua manifestando seu descontentamento, contra esses “capitães do mato”.

PROMOÇÃO E DIVULGAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO: TURISMO NA MONARQUIA



PROMOÇÃO E DIVULGAÇÃO NO BRASIL IMPÉRIO: TURISMO NA MONARQUIA

João dos Santos Filho


Resumo:
O presente trabalho é resultado da linha de pesquisa “Hospitalidade na história: um passeio pela cultura do Novo Mundo”, desenvolvido junto à Universidade Estadual de Maringá, a investigação histórica fundamenta-se em obras escritas sobre o Brasil e o povo Maya no século XVI, XVII, XVIII e XIX, compreendendo aproximadamente os anos de 1524 até 1890. As obras que constituem o objeto de nossa investigação foram escritas e publicadas ao período do Brasil-Império, essa literatura foi produzida por visitantes estrangeiros, que de forma diversa, souberam registrar e tratar o cotidiano da vida nacional. Esses autores vieram para o Brasil; morar, trabalhar, pesquisar ou passear, e resolveram documentar sua estada entre nós, com descrições muitas vezes específicas, mas que na verdade, tornaram-se verdadeiros compêndios historiográficos e alguns com farto material iconográfico sobre a história nacional.
Palavras-chaves: Turismo no Império, guia turístico imperial, historiografia do turismo nacional, eurocentrismo, etnocentrismo.

Esclarecimentos iniciais

O presente trabalho é resultado de estudos desenvolvidos junto á Biblioteca de Obras Raras da Escola de Minas de Ouro Preto , da Universidade Federal de Ouro Preto. O material selecionado para a pesquisa consiste no Guide Internacional D´Europe au Brésil & a La Plata contenant les Renseignement les plus utiles pour les voyageurs orne de vues, cartes et plans. Publié par A. Loiseau-Bourcier – Paris, rue de Lancry, 47 - Janvier 1889, obra trilíngue, escrita em português, espanhol e francês, publicada em janeiro de 1889, que trata da divulgação e promoção do Brasil no exterior.
Por pressuposto balizador para este estudo, temos o resgate de parte da historiografia brasileira referente ao turismo, em oposição à hegemonia de uma leitura historiográfica eurocentrista, que oculta e nega a historia nacional, impondo a construção de uma falsa identidade.
O resgate de nossa história torna-se possível, quando tomamos consciência de que há necessidade de nos desvencilharmos das influências das correntes científicas e filosóficas européias e norte-americanas. Nesse caso, podemos recorrer ao cientista social Octávio Ianni que, ao se referir à dependência acadêmica existente nos países da América Latina para com os grandes centros econômicos, político e culturais, afirma:

Da mesma maneira que no passado, na atualidade também a produção científica e filosófica dos países da América Latina continua a revelar influências acentuadas da produção intelectual norte-americana, francesa, alemã, inglesa [...]. A produção sociológica latino-americana revela flutuações teóricas, metodológicas e temáticas semelhantes àquelas que ocorrem nos centros científicos de “maior prestígio acadêmico” (IANNI, 1976, p. 41).

Esse processo ocorre de forma mais acentuada no estudo do fenômeno turístico em que a historiografia inglesa impõe ao mundo o personagem de Thomas Cook como responsável pelo primeiro turismo organizado, ou seja, o início do nascimento de um trade, voltado especificamente para o turismo. Ou ainda, o período da rainha Vitória que criou o Grand Tour no auge do imperialismo moderno, desenvolvendo uma política que favorecia e bancava as viagens da elite inglesa para ocupar os quadros administrativos do Estado inglês.
A história ganha contornos de verdades únicas nos centros acadêmicos e parte dos pesquisadores do fenômeno turístico adotam essa historiografia como explicativa, o que distorce e oculta parte da história nacional.

Metodologia utilizada

Em virtude de o material histórico utilizado para a elaboração de este estudo ser referente ao período do final do século XIX, precisamente de Janeiro de 1889, onze meses antes da proclamação da República, consideramos que o mesmo possui valor fundamental para o estudo do turismo nacional, pois, além de inédito e raro, permite sinalizar diversos caminhos para reescrever a verdadeira historiografia do turismo.
Na qualidade de documento escrito no Brasil Império, por algum funcionário régio, constitui-o material de inestimável valor histórico para pesquisadores e estudiosos do turismo brasileiro. Por esse motivo, optamos em transcrevê-lo em quase sua totalidade, para que a academia providencie contato com a fonte original e coloque-o à disposição dos centros de pesquisa.
O leitor pode perceber que, em alguns itens, buscamos contextualizá-lo, segundo ás normas e costumes da época, num esforço de explicitar a riqueza daquele período histórico, por isso também se constitui em um estudo exaustivo e peculiar para o conjunto da historiografia do turismo no Brasil.
A estrutura original do texto também foi levada em consideração, uma vez que a mesma, como foi montada teve a intenção de destacar o Brasil Império, especificando três Estados: Pernambuco, Bahia e por final de forma exultante o Rio de Janeiro.

Império e seus costumes: consequências e impactos

Com a vinda da Família Real e da máquina burocrática e administrativa do Estado Português ao território brasileiro em 1808, o rei de Portugal, funcionários régios, assessores, parentes, fidalgos, padres, médicos, advogados, professores, artistas, pintores, cientistas, militares e escravos, todos, chegam ao Brasil, fugindo de Napoleão Bonaparte.
A crise provocada pela “fuga” leva Lisboa ao verdadeiro caos. Todos se dirigem ao cais em desespero para garantir local nos navios, levar seus bens e fugir do general Junot que se encontrava próximo à fronteira com Portugal. O governo português antecipa a partida para o Brasil, disposto a enfrentar o mal tempo e a chuva torrencial que tornava o mar agitado:

Chovia muito quando, a 26 de novembro, transferem-se os arquivos reais, a biblioteca de Lisboa e toneladas de bens móveis da família real e dez mil nobres portugueses para oito naus, quatro fragatas, três brigues e trinta navios mercantes. É o caos, com famílias tentando a todo custo um lugar nas embarcações. O povo assiste temeroso ao embarque de D. Maria, D. João e o príncipe Pedro no Príncipe Real. A mulher de D. João. D. Carlota Joaquina, segue com D. Miguel e as filhas no Afonso D´Albuquerque. Por quarenta horas, todos embarcados, a frota aguarda bons ventos na barra do Tejo, diante de notícias de que Junot estaria entrando em Lisboa, o que fará a 30 de novembro, com 26 mil homens (CHAGAS, 2001, p. 21; 22).


A mudança da Corte para o Brasil provoca no Rio de Janeiro um imenso impacto cultural, social e econômico, entretanto, de imediato, a preocupação era como e onde hospedar os recém-chegados de Portugal? O caos foi instalado, os despejos dentro da “legalidade” autoritária do Decreto da Corte PR (Príncipe Regente, ou popularmente conhecido como “ponha-se na rua,”) davam o direito de desapropriar as pessoas de suas casas para acomodar elementos da Corte.
O Rei e seu staff foram instalados no Palácio São Cristóvão, propriedade doada a D. João VI pelo próspero comerciante português Elias Antônio Lopes que trabalhava com o comércio de carne humana, traficando africanos para serem escravos no Brasil. E por esse interesse econômico, político e pela permanência do sistema escravocrata, cedeu ao rei de Portugal sua belíssima casa de campo, que havia acabado de construir com vista para as montanhas e para o mar.
O Rei e seu staff foram instalados no Palácio São Cristóvão, propriedade doada a D. João VI pelo próspero comerciante português Elias Antônio Lopes que trabalhava com o comércio de carne humana, traficando africanos para serem escravos no Brasil. E por esse interesse econômico, político e pela permanência do sistema escravocrata, cedeu ao rei de Portugal sua belíssima casa de campo, que havia acabado de construir com vista para as montanhas e para o mar.
A cidade cresceu, urbanizou-se e foi embelezada. Por meio de seu Intendente (prefeito), e a pedido da Inglaterra, D. João VI proíbe em 1º de julho de 1809, as rótulas ou gelosias que deveriam ser substituídas por grades de ferro e vidro. Prédios foram demolidos para dar lugar a vias de acesso e à infraestrutura pública básica:

Na verdade, a vida cultural do Rio foi transformada por essa grande influência de servidores civis bem pagos e com os gostos refinados de um grande centro europeu. Por importante que tenha sido o aumento das exigências de consumo, os efeitos de mudança foram do ponto de vista econômico, muito mais amplos (HALLEWELL, 2005, p. 107).

Com a chegada da Família Real, o Rio assume a feição da aristocracia portuguesa, adquirindo hábitos novos. Cria o Jardim Botânico em 1808, com o objetivo de aclimatar as espécies vindas da Ásia e cria um herbário à disposição das necessidades medicinais da nobreza, que só foi aberto ao público em 1822.
Revoga a proibição da produção de manufaturas no Brasil, bem como a Inglaterra passou a gozar de exclusividade sobre o comércio brasileiro, já que era a maior nação industrial e naval em condições de competir com a França na disputa pela supremacia do comércio brasileiro.
Cria o Desembargo do Paço e a Mesa da Consciência e Ordens que deram origem ao Supremo Tribunal de Justiça, à Casa da Suplicação do Brasil e à Intendência Geral da Polícia, com o início do aparato burocratico de repressão, bem como a Impressão Régia como forma de controle ideológico do que pode ser publicado. O Estado mostra seus “aparelhos” repressivos para tentar manter o controle ideológico de autoridade do império sobre a colônia.
Cria a Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação, com o obetivo de que as forças produtivas desenvolvessem bases nacionais próprias. Para isso, estrutura as relações econômicas e comerciais com a instalação do Banco do Brasil, como forma de estimular o crédito para que fosse garantido um suporte de capital para a economia.
Realiza a assinatura dos tratados comerciais com a Grã-Bretanha e demais países colocando o Brasil como Reino Unido a Portugal e a Algarve. Usa a prerrogativa de sempre favorecer o comércio com a Inglaterra, seja pela compra de produtos ou pelo benefício de taxas preferenciais. Na verdade, D. João VI dá ao Brasil condições objetivas para um desenvolvimento econômico com exclusividade para a Inglaterra. Segundo o historiador inglês Laurence Hallewell, em sua tese de doutorado:

Na verdade, a vida cultural do Rio foi transformada por essa grande afluência de servidores civis bem pagos e com os gostos refinados de um grande centro europeu. Por importante que tenha sido o aumento das exigências de consumo, os efeitos de mudança foram, do ponto de vista econômico, muito mais amplos. Doravante, todos os impostos e outras riquezas destinadas ao governo, que, antes, eram enviados a Lisboa, permaneceriam no Rio de Janeiro e iriam beneficiar a cidade (HALLEWELL, 2005, p. 107).

Nesse ambiente de autoridade monárquica única existente no Novo Mundo, o Brasil revela-se ao mundo como nação administrada diretamente pelo Rei de Portugal, que transferiu todos os interesses lusitanos para o Brasil e que responde ao mundo como uma nação rica e próspera. Sua “nova” identidade no cenário internacional atrai um fluxo de refugiados aristrocatas provenientes da monarquia espanhola dos países sul-americanos que fervilhavam com as revolucões republicanas.
O Brasil torna-se uma nação cosmopolita, em que mercadores e grandes comerciantes vêm instalar negócios no setor de serviços, pequena manufatura e agricultura. Como também viajantes, negociantes, cientistas e turistas aventureiros visitam o país que já é mencionado por escritores, botânicos e pelas academias de ciências inglesa e francesa.
O Brasil torna-se polo de atração para aventureiros, visitantes e para a pequena elite de turistas capazes de empreitar grandes recursos financeiros para os deslocamentos de lazer, estudos ou de simples aventura. Os primeiros estabelecimentos hoteleiros nasceram como hospedarias, “casas de pasto” e, em seguida, hotéis administrados por franceses e italianos que foram destaque a partir de 1816. No século XIX começa a aparecer, em livros e jornais, referências ao Brasil, produzidos no país e no exterior, que têm por objetivo divulgar e promover a primeira e maior Monarquia existente no Novo Mundo.


Informações sobre o “Brazil Império” contidas no Guia Internacional da Europa

GUIA INTERNACIONAL
da Europa
no Brazil e ao Rio da Prata
contendo utilíssimas informações para os viajantes, muitíssimas vistas, mappas e planos. (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 205)



O “Guia Internacional da Europa no Brazil” contém itens gerais de informações presentes como em qualquer outro guia de orientação turística direcionado ao visitante, porém o interessante é observar o discurso imperial utilizado para apresentar o Brasil ao mundo. Por isso, trabalharemos alguns itens, contextualizando a informação expressa no guia e procurando entender o significado do discurso daquele período histórico.

1 - Posição: situa o território brasileiro em seu eixo de latitude e longitude, fazendo a seguinte observação:
O Imperio (sic) do Brazil, a única monarchia do Novo Mundo, está situado na parte oriental da America do Sul: se estende de 5° 10`latitude Norte ao 33°46`10’’ latitude Sul e de 8°21`24’’ longitude Este ao 32° longitude Oeste do meridiano do Rio de Janeiro (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 207).

Um império europeu cravado no Novo Mundo, certa feita meramente uma utopia imaginada, por algum como refúgio para os conflitos e intrigas da Corte européia do século XVI: “Ressurgia sempre que a independência do país [Portugal] estava ameaçada pelos vizinhos e tinha uma forte razão geopolítica (GOMES, 2007, p. 45). Isso se torna real no ano de 1808, com a vinda da Família Real de Portugal ao Brasil, quando não somente promovia o princípio do comércio oceânico abrindo os portos às nações amigas, como também colocava o Brasil como a única monarquia do Novo Mundo, com certo poder econômico e político. Segundo o economista Carlos Lessa:

O Rio foi o umbral aberto ao exterior. Como capital, foi o espaço mais cosmopolita do país: pelo Rio o Brasil articulou-se com as demais sociedades. Foi a cidade preferida pelo estrangeiro para fixar-se e tendeu a ser a porta de recepção e incorporação dos visitantes. Posteriormente foi ponto de atração dos migrantes internos. Lugar onde a nossa sociedade processou seu diálogo interno e sintetizou a polifonia nacional, o Rio assimilou idéias de fora e de dentro e sinalizou inovações comportamentais para todo o país (LESSA, 2001, p. 67).


Na verdade, num primeiro momento, o Brasil foi tratado pela metrópole como polo de extração de produtos naturais, com a comercialização de artigos da fauna e da flora, como temos o pau-brasil, ouro, prata, diamante, tabaco e o próprio comércio de escravos. A produção de açúcar associa-se à intenção de iniciar o processo de colonização, implantando engenhos no litoral nordestino, com mercado garantido na Europa e produto super valorizado nas transações comerciais.
A partir de 1840, o café torna o porto do Rio de Janeiro detentor da hegemonia das exportações brasileiras, com um volume de mercadorias que demonstra uma evolução nas relações de produção e na força de trabalho com o ingresso de mão-de-obra emigrante e o seu convívio com a escravidão, como menciona a historiadora Emilia Viotti da Costa:

Um estudo da escravidão brasileira do século XVI até o século XIX tornará possível a análise, primeiro, de como funcionou o sistema numa tradicional sociedade “aristocrática” e mais tarde num moderno mundo “burguês”; segundo, de como tal sistema foi justificado num mundo religioso governado pela Providência e mais tarde num secular governado pelos homens; terceiro, de como a escravidão se tornou uma parte vital do sistema colonial num mundo mercantil, pré-capitalista, pré-tecnológico, e como ela foi destruída num mundo em que o capitalismo industrial e a revolução tecnológica gradualmente solaparam as relações tradicionais. Em suma, um estudo da escravidão do período colonial até o período moderno permitir-nos-á perceber as conexões essenciais entre capitalismo e escravidão. (COSTA, 1977, p. 216)

Esse processo de convivência com dois tipos de força de trabalho refletirá a contradição reacionária e inconclusa que o sistema econômico e político passava, de um lado, a escravidão, e de outro, a pressão do capitalismo e sua volúpia pela acumulação de capital. Sem se completar em sua autonomia econômica e política como colônia e também incapaz de ultrapassar o entrave nas relações de produção para assumir as relações capitalistas, faz uma conexão entre capitalismo e regime escravista. Ocorria assim, pressão da Inglaterra junto a Portugal para que o Brasil extinguisse o trabalho escravo, pois necessitava de novos mercados para vender seus produtos.
Na trilha desse processo o mundo conhece a sociedade brasileira. A respeito desse momento o historiador Amado Luiz Cervo relata:

Nas duas últimas décadas do Império, quando as relações internacionais se ampliavam sob efeito da expansão colonial européia e dos primórdios do novo imperialismo, D. Pedro II investiu seu prestígio pessoal, muito elevado tanto na Europa quanto na América, com a finalidade de resguardar o interesse brasileiro no exterior. Usou, para tanto, de seus intensos e permanentes contatos com instituições científicas, cientistas e membros das famílias reais européias (CERVO, 1992, p. 122).

O Brasil imperial tinha prestígio entre as monarquias em razão do papel desempenhado pela casa de Bragança no mundo das artes, das ciências e da política, como também pelo empenho pessoal de D. Pedro II, pois “[...] estabeleceu contatos de alto nível com governos e instituições dos Estados Unidos, de quase todos os países europeus, incluindo a Rússia dos Czares, o Império Otomano, a Grécia, a terra Santa e o Egito” (CERVO, 1992, p. 122).
Muito mais que uma potência que ainda fazia uso do braço escravo e de estimular uma emigração enganosa sobre as condições de trabalho aqui existentes, o Brasil Império era conhecido pelo contato com a intelectualidade da época e pelo prestígio que o mesmo possuía entre os monarcas.

2 – Superfície: dimensiona o tamanho do território nacional perante o mundo:

A superfície do Brazil que corresponde a um decimo (sic) quinto da superfície terrestre, a um quinto da do Novo Mundo e a mais dos três septimos da America Meridional, é considerada como tendo 8.337.218 kilometros quadrados (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 207).



A criação de uma monarquia no Novo Mundo foi uma decisão política e econômica, com objetivo de salvaguardar os interesses do Estado português, mesmo que decorrente de um processo de fuga da Coroa portuguesa das garras de Napoleão III. Tal fato consagra indiretamente o trabalho genocida de escravidão indígena, bem como a busca de ouro e de pedras preciosas e a conquista e a expansão do território brasileiro realizada pelos Bandeirantes no século XVII.
Desde a colonização, o processo de desbravar o território e a necessidade de mão-de-obra escrava era a tônica das políticas da Coroa portuguesa, pois a disputa com a Espanha por fronteiras exigia acordos políticos que chegaram a dividir o Brasil pelo tratado de Tordesilhas. Tratado que, na verdade, reflete o interesse imperialista de duas grandes nações, por isso o Brasil surge para o Velho Mundo como a grande potência econômica e política, cobiçada por suas riquezas minerais e naturais.
A lógica de comparar o Brasil por meio de números qualifica-o pela dimensão continental que a Coroa portuguesa desejava mostrar ao mundo, categorizando-o como uma potência de forma ufanista. Encontramos expresso no livro publicado pelo historiador, jornalista, bacharel em Direito e Ministro da Fazenda e professor Afonso Celso que:

O Brasil é um dos mais vastos países do globo, o mais vasto da raça latina, o mais vasto do Novo Mundo, à exceção dos Estados Unidos.
É pouco menor que toda a Europa.
Rivaliza em tamanho com o conjunto dos outros países da América Meridional. Representa uma décima quinta parte do orbe terráqueo. Só a Rússia, a China e os Estados Unidos o excedem em extensão. É quatorze vezes maior do que a França, cerca de trezentas vezes maior do que a Bélgica.
A sua circunscrição territorial menos dilatada, Sergipe, sobreleva a Holanda, a Dinamarca, a Suíça, o Haiti e Salvador. Cada um dos municípios em que se subdivide a mais ampla, Amazonas, equivale a Estados, como Portugal, Bulgária e Grécia.
Pará, Goiás, Mato Grosso ultrapassam qualquer nação européia, salvante a Rússia.
O Brasil é um mundo (CELSO, 2002, p. 5).

É possível entender o Brasil como potência em razão do domínio de Portugal que, na luta para se manter na liderança, aumenta seus domínios no mundo, e o Brasil surge como possível e única saída para que a Coroa portuguesa não perdesse sua autonomia política para as mãos de Napoleão III. O Brasil, continente e possuidor de riquezas minerais e naturais inesgotáveis, seria capaz de manter a grandeza do Estado português.

3 – Limites: as fronteiras determinam o limite geopolítico do Brasil:

O Brazil confina com todos os paizes da America Meridional, menos com o Chile. É limitado ao Norte pelas Guyannas Franceza, Hollandeza e Ingleza e pelas Republicas de Venezuela e da Nova Grenada. A Oeste, pelo Peru, a Bolívia, o Paraguay e a Confederação Argentina, Ao Sul, pela Republica Oriental do Uruguay, e a Leste pelo Oceano Atlântico
(GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 207).


4 – População: podemos perceber que o guia destaca um total de 13 milhões de habitantes enfatiza um milhão de indígenas como não-civilizados:

A população é de 13 milhões d`habitantes comprehendendo (sic) um milhão de indígenas que habitam as florestas e que ainda não estão civilizados; encontram-se principalmente nas altas regiões de Amazonas e de seus afluentes (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 207).


5 – Divisões das províncias: número de Estados e população étnica:

O império do Brazil divide-se em 20 provincias e um Município ou Municipalidade (Município neutro ou Município da Corte) immediatamente subordinado ao Poder legislativo e ao Governo.
[...]
Quanto à nacionalidade, a população estrangeira compõe-se de 400.000 habitantes: 140.000 Portuguezes, 56.000 Allemães, 45.000 Italianos; 45.000 Africanos, 4.000 Franceses (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 207)


6 – Histórico:

Quando os Francezes invadiram Portugal, em 1808, a família real refugiou-se no Brazil e esse acontecimento muito modificou a administração desse paiz.
Aboliram-se as restricções commerciaes; abriram-se os portos aos navios de todas as nações amigas (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 213).


7 – Governo:

O Império do Brazil é governado por uma monarchia constituicional e hereditaria (sic); a lei Sálica: não existe ali, e as mulheres também podem reinar.
A lei fundamental de 25 de março de 1824 modificada pelos actos addicionaes de 12 de Agosto de 1834 e de 12 de Maio de 1840 estabelece quatro poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 215).


8 – Poder moderador:

O poder moderador que consiste principalmente em dissolver a Camara e a rejeitar certas medidas legislativas pertence ao Soberano.
A´testa de cada província está um Presidente nomeado pelo Poder Executivo.
É´eleitor todo cidadão brasileiro que possa provar que tem um rendimento ou emolumentos superiores a 250.000 reis por anno (625 fr.) e que tem habitado a localidade pelo menos dous annos (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 217).



9 – Família Imperial:

A família imperial do Brazil é notável pela simplicidade dos costumes, a facilidade de seu acesso e suas virtudes particulares (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 219).


10 – Escravidão:

Até o anno de 1888, era o Brazil o único paiz do continente americano em que a escravatura, esse legado funesto deixado pelo regime colonial, existia legalmente.
Entretanto a 28 setembro de 1871 foi promulgada uma lei em favor da emancipação gradual dos escravos; essa lei dizia que desde então os filhos de mulher escrava seriam considerados livres, se bem que obrigados a servir os senhores das mais até á idade de 21 annos, debaixo de nome de apprendizes, A mesma lei emancipou 1600 escravos pertencentes ao governo.
Em 1886, as Camaras votaram a libertação dos escravos maiores de 60 annos (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 219).


11 – Imigração:

A abolição da escravidão veiu pôr na ordem do dia a questão da immigração. Na verdade, a súbita transição d’este estado de servidão para o de liberdade que os pretos nunca tinham gozado, vai com certeza perturbar o paiz até um certo ponto. Esses seres a pela maior parte, estavam empregados nos trabalhos agrícolas e estando agora livres, os antigos senhores não poderão mais contar com seus serviços senão eventualmente; do que resultará que os proprietários serão obrigados a recorrer aos braços estrangeiros (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 221).




12 – Clima:

Existem no Brasil dous climas bem distinctos: A zona intertropical é quente e humida no tempo das chuvas, temperada e secca fóra d´essa estação.
A temperatura media é de 26° centigrados do Rio de Janeiro ao Amazonas. Da capital do Império até a extremidade meridional o calor diminue muito e o clima torna-se agradável e fresco, principalmente nas montanhas; por toda a parte é elle muito saudável, ainda que humido (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 223).


13 – Lavoura:

As costas comprehendidas entre a Bahia e Santa-Catharina, exceptuando a província do Espírito-Santo, são consagradas à cultura do café, e encontram-se nas províncias limitrophes do Rio de Janeiro importantes plantações de arroz; em todas essas províncias notam-se grandes Fazendas cobertas de cannaviaes. As regiões onde a lavoura está menos desenvolvida produzem muito gado que se criam por tropas.
A região composta das grandes províncias de Rio Grande do Sul, Paraná e Santa-Caharina é muito fértil em cereaes.
Os districtos mais próximos do Equador sobresahem pelas producções espontâneas das florestas: cortiça, gommas, resinas, substancias textis, etc. Em quase toda parte se cultivam algodão e o fumo. Existem ao norte do Rio de Janeiro immensas plantações de cação e mandioca.
A metade do café que se consome no mundo provem do Brazil (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 223 e 225).


14 – Indústria:

A industria consiste em refinar assucar, principalmente nas províncias da Bahia e Pernambuco; em confeccionar tecidos de algodão, em serraria de madeira em distillar rhum e uma espécie de aguardente que chamam Cachaça, a fabricar cerveja; e preparar fumo e fabricar charutos a tecer alguns estofos de seda; em fabricar chapeos, calçados, trastes de madeira do paiz; papel ordinario; a fundir ferro e a fabricar alguns instrumentos aratorios (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 225).





15 – Exportação e importação:


A exportação se eleva a 500 milhões de francos por anno e a importação em 400 milhões.
Os principais artigos que o Brazil exporta são: Café (300 milhões de francos), algodão (50 milhões); assucar (40); pelles (35); gomma (30), fumo (12); diamantes (13); cacao (1).
A importação consiste em objetos manufacturados, vinhos, farinha de trigo, carvão, roupas, petróleo, ferro, etc. (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 225).


16 – Religião:

A religião do estado é a catholica, apostólica romana (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 225)



17 – Instrução:

A instrucção vai se espalhando cada vez mais. Alem de muitos estabelecimentos gratuitos devemos citar: o collegio Imperial, a escola polytechinica, o Instituto commercial, a Academia Imperial das Bellas-Artes, a Academia Imperial de medicina, o conservatório de musica, a escola de minas, a instituição dos cegos e dos surdos-mudos e só no Rio de Janeiro mais de cem sociedades sabias. Existem no Brazil duas faculdades de direito, uma em S. Paulo e outra em Pernambuco (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 225).



18 – Moeda:

Conta-se por Reis e o cambio sobre a Europa que varia todos os dias segundo fluctuações commerciaes ou políticas estabelece por consequencia de dia em dia, a real traducção de reis em francos ou em schellings. Todavia pode-se tomar por base mais ou menos certa que 1.000 reis equivalem a 2fr. 50, por consequinte: moeda de 20 francos, 8.000 reis, libra esterlina 10.000 reis. As moedas do Brazil são de cobre, nickel, prata e ouro. As de cobre são: moeda de 20 reis ou vintém, moeda de 40 reis (em francos, 0.05 e 0.10 centimos).
As moedas de nickel são: de 50 reis, 100 reis ou tostão e 200 reis (0. 20, 0.25, 0.50 centimos). As moedas de prata são de: 200 reis, 500 reis, 1.000 reis e 2.000 reis (0.050, 1.25, 2.50 e 5 francos). As moedas de ouro são de: 5.000 reis, 10.000 reis e 20.000 reis ( 12.50, 25 et 50 fr ).
A circulação, porem, do ouro e da prata não existe no Brasil está substituída pelo papel moeda do Thezouro e do Banco do Brazil (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 227).


19 – Pesos e medidas:

O sistema métrico, obrigatorio em virtude da lei de 26 de junho de 1862, está em vigor real desde 1 de Janeiro de 1874 (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 227).





20 – Serviço militar:

Serviço militar. Se bem que votada a 27 de fevereiro de 1875, a lei estabelecendo a obrigação do serviço militar nunca foi executada. Recrutam-se os soldados por assentamento de praça e a maior parte do exercito é composto de naturaes do paiz (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 227).

21 – Marinha:

Existem no Brazil 5 arsenais de guerra, nas províncias de Pernambuco, Pará, Rio grande do Sul, Matto Grosso e Rio de Janeiro.
Quanto á esquadra compõe-se ella de 49 vasos de guerra, a vapor: Coiraçados, canhoneiras, torpilheiras. O effectivo da marinhagem é de 3780 homens. (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 229).


22 – Comunicações:

Estão actualmente em exploração 52 linhas de estradas de ferro que percorrem 8.300 kilometros. De mais acham-se em estudo ou em construcção mais 1.670 Kilometros.
A estrada de ferro de Leopoldina que corre na província de Minas Geraes é a mais comprida: 800 kilometros de via férrea estão em serviço e em estudo 245 kilometros.
Depois d´esta estrada, a mais importante é a de D. Pedro II que pertence ao Estado e que serve as províncias do Rio de Janeiro, S. Paulo e Minas Geraes; o seu cumprimento é de 682 kilometros, e mais 103 kilom. em construcção.
A primeira via férrea que se construiu no Brazil foi a de Mauá, na raiz da Serra dos Órgãos, na estrada que vai a Petrópolis, a 20 Kilometros do Rio de Janeiro. Foi aberta à circulação a 30 de abril de 1854 (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 229).


23 – Riquezas Minerais:

O Brazil possue immensas riquezas mineraes: diamantes, saphiras, esmeraldas, rubins, topázios, verdamares, ouro, patra, cobre, estanho, chumbo, ferro e muitos outros metaes. O diamante se encontra em quase todas as provincias do Império, mas o principal logar onde se explora é na província de Minas Geraes entre 17° e 9° latitude Sul. As mais celebres minas de diamante são as da Serra do Frio.
As outras pedras preciosas encontram-se também n´esta província, como também as mais ricas minas de ouro perto de Ouro Preto.
O nitro, o alumen, o sulfato de magnésia o sulfato de soda se acham em abundancia em quase todas as províncias (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 233).







24 – Riquezas vegetais:

O immenso território do interior é quase todo coberto de mattas virgens que encerram quantidades inesgotaveis de madeira execellentes para carpintaria, marcenaria e trabalhos de arte.
Apenas mencionaremos das inúmeras arvores que habitam o Brasil: o Jacarandá, o Pao Brasil, o Pao d´Arco, o Pao Ferro e muitas outras de grande valor tanto pela madeira que fornecem, como também por seus fructos, óleos e resinas... Por toda parte abundam as fructas tropicaes cuja nomenclatura seria longa (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 233).


25 – Animais domésticos e indígenas:


Os animaes domésticos da Europa estão há já muito tempo domesticados no Brazil onde se criam sem difficuldades o cavallo, o burro, principalmente a besta, o carneiro, o porco e o cão.
Os animaes corrniferos pastam em grandes tropas em estado selvagem nas grandes planícies do interior.
Os principaes animaes indígenas são:
A onça, o jaguar, o gato, o tigre, a preguiça, a cotia, o formigueiro; cerca de 60 especies de macacos; 30 especies distinctas de papagaios, perto de 20 variedades de beija-flores. Entre os repteis citaremos; a giboia o sucurajú e grande quantidades de cobras venenosas como sejam a terrível jararaca, a cobra coral e a cobra cascavel.
Tres ou quatro espécies de crocodilos tornam perigosas as margens do Amazonas.
As tartarugas são muito apreciadas e são servidas nas melhores mezas. Encontra-se peixe com muita abundancia nos lagos e rios (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 233 e 235).






Considerações preliminares


Os vinte e cinco itens apresentados nesse Guia internacional de promoção e divulgação turística do Brasil para a Europa, publicado em Janeiro de 1889, demonstram que o fenômeno do turismo é uma atividade que já despertava interesse por parte do Estado imperial português. Começou a se desenvolver a partir da vinda da Família Real em 1808, que transferiu a Corte portuguesa para a América, criando um fluxo de pessoas que compunha o aparato administrativo e tornando o Brasil um polo de atração seguro para as monarquias e aristocratas que vinham sofrendo processos revolucionários em favor da República.
A mudança da corte portuguesa para o Brasil trouxe consigo também:

[...] administradores e colonos de outras partes do Império português, notadamente Angola e Moçambique, [...]. De seu lado, setores mais comprometidos da monarquia espanhola saem dos países sul-americanos tomados por revoluções republicanas e mudam-se para o Rio de Janeiro, único refúgio da legalidade monárquica no Novo Mundo (ALENCASTRO, 1997: 13).


Esse processo acelerou um movimento constante e considerável de indivíduos ao Brasil que necessitavam de hospedagem, alimentação, transporte e uma gama de serviços diretamente vinculados ao visitante que ficavam encantados com a beleza da natureza que circundava o Rio de Janeiro. Por isso, surge toda uma infraestrutura turística à disposição do visitante como o Antigo Hotel Jourdain, localizado na Tijuca, de propriedade do francês A. Bocage, fundado em 1828 e que oferecia excursões para:

Bains de natatin et de cascade. CHEVAUX à toute heure pour excursions. Service Spécial pour I´hôtel tous les jours 5 heures du matin du Largo de S. Francisco de Paula (station des tramways jusqu´à la porte de L´hôtel. Table d´hôte: déjeuner de 9 heures à 10; diner de 5 heures á 6.
EXCURSIONS A FAIRE AUX ENVIRIRONS DE L´HOTEL
Boa-Vista Chineza, Vista dos Reis, Excelsior, Floresta Imperial, Pic-de-la-Tijuca, Pic du Papagaio, Petite et Grande Cascade, Pedra Bonita, Barre de la Tijuca, les Grottes, etc.
(GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 311).

Na verdade, o hotel Bocage (antigo Jourdain), com refinada decoração francesa e excelente quartos, estava localizado no fundo de um vale, na Tijuca, local agradável para piqueniques, apoiada por uma infraestrutura de serviços oferecida pelo hotel, como confirma o Guia:

Do hotel Bocage, ponto central de todas as excursões que se tenha a fazer na Tijuca, pode-se, em poucas horas, visitar a Floresta Imperial ou o ponto de vista Excelsior ou a grande e a pequena cascata ou então a Vista Chineza tres pontos de onde se tem uma admirável vista e que não devem passar desappercebidos (sic) aos viajantes que passam pelo Rio de Janeiro (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 312).

Como promoção turística, o Guia caracterizava-se como uma atividade diretamente atrelada à promoção e à divulgação do Estado Imperial por meio do Rio de Janeiro, destacando o Brasil como a única monarquia existente no Novo Mundo, bem como seu imenso território continental, que compõe fronteira com toda a América Latina menos com o Chile, com uma população de 13 milhões de habitantes, cujo destaque era população indígena como não-civilizada, pois o exótico e as lendas tomavam conta da leitura eurocentrista feita pelos estrangeiros que descreviam o Brasil.
Em conformidade com o Guia o Brasil dividia-se em 20 províncias registrando que além dos brasileiros e escravos, possuia uma população de estrangeiros de 400.000 pessoas, sendo 140.000 portugueses, 56.000 alemães, 45.000 italianos, 45.000 africanos e 4.000 franceses.
Novamente o exótico e o lendário compõem um pouco da história brasileira que alimenta o imaginário do estrangeiro que passa a idéia de que o descobrimento do Brasil se deve às correntezas, como se não houvesse nenhum interesse geopolítico por parte do Estado português. O interesse comercial era por grandes carregamentos de pau-brasil, madeira de tintura que deu nome ao Brasil, aliado aos indígenas selvagens, os Tupis e Guaranis que viviam em guerra constante, praticantes da antropofagia.
Com referência às lembranças que podiam ser compradas no comércio pelos visitantes como artesanato, produtos alimentícios entre frutas e animais selvagens, uma diversidade grande de ervas medicinal e para tempero, o Guia confirma:

Os amadores de fructas e de animaes exoticos encontram no mercado da Bahia um sortimento completo de perequitos, papagaios de côres vivas e macacos de toda sorte. Acham-se em quantidades, laranjas, ananazes, bananas e mangas. Na Bahia fabricam-se charutos de grande nomeada. Também se encontram ali leques e flores de pennas, pelles de cobras e muitas outras curiosidades do Brazil (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p. 265 e 267).

O Guia menciona o fotógrafo carioca Marc Ferrez que abriu seu próprio estabelecimento fotográfico, Casa Marc Ferrez & Cia, situada à Rua São José, 88, Rio de Janeiro, em 1864. Quando se refere a lembranças encontradas para vender ao turista, são indicadas suas fotos:

Como lembrança do Rio de janeiro, encontram-se em casa de Sñr Marc Ferres (sic), á rua de S. José, n. 88 perto do largo da Carioca, uma bonita e variada collecção de vistas photographicas da cidade, da bahia e dos arrabaldes.
Em muitas lojas da rua do Ouvidor encontram-se bonitas flores de pennas, escaravelhos e borboletas mui curiosas (GUIA INTERNACIONAL, 1889, p.309).



Encontro de uma historiografia nacional


Para entendermos o processo histórico do qual fomos constituídos em seres que dialeticamente explicitam formas moventes e movidos em seu processo ontológico, necessitamos conhecer o passado ou a contemporaneidade de “homens históricos reais”. Com isso, queremos reafirmar que a história só é verdadeira quando se revela como produto da luta de classes, portanto qualquer existência humana possui história. Entretanto, pode ocorrer que essa história esteja encoberta por uma história alienígena.
Como ocorreu com a história do turismo brasileiro, reforçando ainda mais a natureza elitista dessa prática que despreza o autóctone em decorrência de o eurocentrismo dominar os pensamentos da elite, que só se sente elite a partir do momento em que incorpora os valores europeus para explicar a realidade nacional. Em conformidade com essas idéias, afirma a historiadora Dea Ribeiro Fenelon:

O caráter oficial dos fatos, (nos livros didáticos) o sentido elitista do processo histórico, com o acento sobre a importância da liderança e a insignificância do povo, a total ausência do espírito crítico, a conformação incontestável ao processo histórico dos vencedores, ensina uma história conformista, compromissória, privilegiada, anti-reformista, e conservadora (FENELON, 1974: 5).


É nesse contexto que grande parte do estudo acadêmico referente ao turismo se apresenta no Brasil; com pressupostos, e até axiomas duvidosos injetados para interpretar e construir uma historiografia do turismo. Obviamente destacamos aqui as pesquisas resultantes de um levantamento de coleta de dados que passam por uma interpretação científica muito comum em nossa área e realizados com muita seriedade acadêmica.
Nossa intenção é alertar que a história do turismo nacional acaba sendo difícil de ser pesquisada, que está encoberta por falsas interpretações, seguindo uma historiografia eurocentrista que dá o tom para as finalizações históricas nacionais, ocasionando consequências ao campo da memória histórica e a perda da identidade de uma sociedade. Por isso, entendemos que o incentivo a pesquisas no campo das Ciências Sociais deve ser a preocupação de todo curso de turismo e centro de pesquisa, independente da ênfase do curso.
As pesquisas demonstram que a o Brasil tem uma história turística que necessita ser recuperada, como podemos perceber por esse estudo que realizamos sobre o “Guia Internacional da Europa ao Brazil”. Alguns dados aparecem como resultado da pesquisa, revelando uma inesgotabilidade de fatos que deverão nortear novas investigações teóricas, tais como:
1. O Brasil possui uma história produzida por visitantes estrangeiros que viveram no território nacional entre o século XVI ao XIX, que sinalizam aspectos voltados à hospitalidade;
2. Anterior à vinda da Família Real ao Brasil, existe uma infraestrutura voltada à hospitalidade e ao turismo;
3. O Estado Imperial estimulou a criação de pontos turísticos no Rio de Janeiro;
4. As casas de pasto, as estalagem, as casas vagas são formas de hospedagem que se constituíram no Brasil desde o século XVI. É interessante destacar a existência das “casas vagas” nos povoados para atender aos viajantes. Na verdade, poderíamos afirmar que havia uma rede de casas vazias, sem qualquer serviço à disposição do visitante, lembrando um rancho coberto.

Esses são alguns dos assuntos que podem ajudar a reconstituir a historiografia sobre a hospitalidade e sobre o turismo brasileiro, acabando com o mito de que a história nacional é pobre nesse campo, sendo necessário, portanto aos parâmetros de nossa história, adotar os referenciais estrangeiros. Na verdade, há uma adoção dos parâmetros teóricos impostos por uma historiografia européia que tende a ser niveladora e globalizante na explicação do desenvolvimento da humanidade.





BIBLIOGRAFIA

ALENCASTRO, Luiz Felipe de Alencastro. Vida privada e ordem privada no Império. In: História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

IANNI, Octavio. Sociologia da Sociologia Latino-Americana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976.

CELSO, Afonso. Porque me ufano do meu país. Edições em pdf e eBooksBrasil.org. 2002. WWW.ebooksbrasil.org/eLibris/ufano.html

CERVO, Amado Luiz. A conquista e o exercício da soberania (1822-1889). In: História da política exterior do Brasil. São Paulo: Ática, 1992.

COSTA, Emília Viotti. Da Monarquia à República momentos decisivos. São Paulo: Grijalbo, 1977.

CHAGAS, Carlos. O Brasil sem retoque: 1808-1964: A História contada por jornais e jornalistas. Rio de Janeiro: Record, 2001.

GOMES, Laurentino. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil. São Paulo: Planeta do Brasil, 2007.

Guide Internacional D´Europe au Brésil & a La Plata contenant les Renseignement les plus utiles pour les voyageurs orne de vues, cartes et plans. Publié par A. Loiseau-Bourcier – Paris, rue de Lancry, 47 - Janvier 1889.

FENELON, Dea Ribeiro. 50 textos de história do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1974.
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2005.

JORGE PIRES, Mário. Raízes do Turismo no Brasil. São Paulo: Editora Manole, 2001.
LESSA, Carlos. O Rio de todos os brasis. Rio de Janeiro: Record, 2001.