quarta-feira, 24 de junho de 2009

JORNALISTA FABRICADO PELO NEOLIBERALISMO: ESTAMPA DO IRRACIONALISMO ECONÔMICO

JORNALISTA FABRICADO PELO NEOLIBERALISMO: ESTAMPA DO IRRACIONALISMO ECONÔMICO

João dos Santos Filho

Que desculpem os jornalistas que são contra a obrigatoriedade do diploma profissional, mas vim para somar, com aqueles que entendem ser a regulamentação da profissão de jornalista e a exigência de diploma específico de curso superior de jornalismo instrumentos de fortalecimento sindical. Lutar por uma categoria unida, coesa, mas rica de opiniões diferentes profissionalmente dá credibilidade ao profissional, alimenta e fortalece a liberdade de imprensa contra os interesses de grupos econômicos.
Mas entendo que a discussão vai além do simples embate, entre ser contra ou a favor do diploma de jornalista, o que devemos clarificar é quais os fundamentos teórico-filosóficos que sustenta a idéia irracionalista, que pretende forçar no Brasil por meio da mão do Supremo Tribunal Federal em adotar um processo de desregulamentação de todas as categorias profissionais.
O pressuposto que permite compreender o processo de regulamentação da profissão de jornalista é histórico e produto de lutas pelas liberdades democráticas e de expressão. Localiza-se no interior da luta de classes, espaço no qual estão concentrados os interesses das elites preocupadas em prevenir e até reprimir qualquer projeto político que contribua para ampliação da estabilidade legal da força de trabalho, como é o caso da não obrigatoriedade do diploma para jornalista.
O Estado neoliberal atua na defesa inconteste do movimento de desregulamentação em todos os níveis das atividades de trabalho, como também faz uso da ação privativista, que contribui para o aparecimento de posições contrárias à obrigatoriedade do diploma. O neoliberalismo busca incessantemente destruir, limitar ou impor mudanças cada vez mais restritivas aos princípios legais trabalhistas, exigindo a abertura da economia nacional ao capital multinacional, privatizando as empresas de serviços públicos, cortando gastos, terceirizando serviços, demitindo a força de trabalho, eliminando subsídios e impondo a desregulamentação das relações de trabalho, na qual a não exigência do diploma de jornalista é uma delas.
O discurso irracionalista, caracterizado por utilizar como base o idealismo anticientífico, negando a força cognoscitiva da razão e lançando mão do senso comum. A característica deste discurso despolitizante e alienado é negar a importância do coletivo e privilegiar a individualidade como capaz de mudar a sociedade. Se observarmos com atenção, a prioridade teórica dada para o entendimento dessa sociedade baseia-se no desprezo à racionalidade e no apelo de base existencialista que sedimenta o pensamento neopositivista. Para combater qualquer tentativa que fortaleça o profissional jornalista de formação universitária, para isso, apropria-se da construção gramatical balizada no senso comum e no escracho, que tem suas raízes no campo do neopositivismo. Como podemos perceber no comentário infeliz do presidente do Supremo Tribunal Federal ao se referir na defesa da não obrigatoriedade do diploma de jornalista, comenta:
Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área. O Poder Público não pode restringir, dessa forma, a liberdade profissional no âmbito da culinária. Disso ninguém tem dúvida, o que não afasta a possibilidade do exercício abusivo e antiético dessa profissão, com riscos eventualmente até a saúde e à vida dos consumidores.


Os neoliberais consideram que os processos reguladores que juridicamente formam o corpo legal do mundo do trabalho são constituídos de instrumentos disciplinadores da força de trabalho e necessitam ser constantemente mudados. Pois devem ser flexibilizados (em favor do Capital) no campo da empregabilidade, pois alegam que as mesmas dificultam que o Capital ganhe agilidade necessária para acelerar o processo de mais-valia. Por isso, entende que toda e qualquer tentativa legal existente devam ser consideradas desnecessárias e ultrapassada para isso utiliza o discurso despolitizante, infantil e re-argumenta sua fala com base na "qualidade total" como resposta imediata assume a postura da ideologia do pragmatismo.
A defesa intransigente pela desregulamentação refere-se à implementação de um Estado que se planifique amparado por um conjunto mínimo e restrito de leis que garantam os direitos de submissão entre Capital e trabalho, o que ocasiona o fim dos direitos sociais garantidos no chamado Estado de Bem-Estar. É o fim das garantias trabalhistas, da estabilidade no emprego e dos ganhos de produtividade da representação sindical no interior das fábricas, como bem argumenta o pesquisador José Paulo Netto, ao se referir ao modelo econômico capitalista neoliberal em que as características:

[...] que está concentrada a essência do arsenal do neoliberalismo: uma argumentação teórica que restaura o mercado como instância mediadora societal elementar e insuperável e uma proposição política que repõe o Estado mínimo como única alternativa e forma para a democracia (PAULO NETTO, 1993: 77).

Os neoliberais argumentam aos brados que outras profissões não são regulamentadas e o profissional está inserido no mercado por sua competência, portanto não há necessidade de nenhuma formatação jurídica (por isso nega a necessidade do diploma), mas, sim, de pessoal qualificado capaz de garantir seu mercado de trabalho.
Há ainda os mais obedientes aos ensinamentos do neoliberalismo, aqueles que afirmam que a regulamentação da profissão limitaria o nosso campo de trabalho, deixando de lado atividades que poderão surgir e que necessariamente fugirão a nossa amplitude regulamentada. Conclusão sem nexo lógico e simplesmente força de uma construção gramatical de base no senso comum.
Enquanto essas questões vão ocorrendo, as lutas sindicais vão sendo retardadas; os profissionais fortalecem a visão equivocada de que conteúdo pedagógico e política são questões que devem ser tratadas separadamente e fora do âmbito das salas de aula. Essa cultura de separação entre o acadêmico e o político, foi sendo reforçada durante os vinte e cinco anos de Ditadura Militar. Amigos morreram por pensar diferente. Jornalistas foram caçados, exilados, torturados e mortos, pois sempre lutaram pela liberdade de poder aprofundar o senso crítico dos alunos, contra a Ditadura, a opressão e pela eterna liberdade de pensamento.
Por isso, jornalista, não se deixe levar pelas falas sedutoras daqueles que se dizem nossos amigos, mas, na verdade, lutam para que o jornalismo não amplie seu mercado de trabalho e não se reconheça como elemento transformador da realidade. Lutam para que nossa categoria não cresça e, sim, desapareça, pois na lógica dessas pessoas todos podem vir a contribuir, não necessitando de nenhum estatuto corporativo.
Diploma não é sinônimo de competência, mas sim de segurança para a sociedade que deve garantir a liberdade de expressão dentro de um código de ética pensado pela categoria diplomada e não pelas empresas jornalísticas. Portanto lutar pelo respeito ao piso salarial, contra a terceirização de nossa função e a pressão ideológica de grupos econômicos é declarar luta ao neoliberalismo, que deseja fabricar o “novo” jornalista informante e não formador de opinião.

BIBLIOGRAFIA


PAULO NETTO, José. Crise do socialismo e ofensiva neoliberal. São Paulo: Cortez, 1993.

terça-feira, 23 de junho de 2009

TURISMO PARA NOSOTROS Y LA REGLA PARA LOS OUTROS: EL PODER DE LA CASA ROSADA NO PALACIO DE LA ALVORADA

TURISMO PARA NOSOTROS Y LA REGLA PARA LOS OUTROS: EL PODER DE LA CASA ROSADA NO PALACIO DE LA ALVORADA

O numero de turistas argentinos que irão se dirigir principalmente para a região sul do Brasil, segundo as autoridades diplomáticas argentinas será de mais de um milhão e setecentos mil. Dos quais 600 mil em carros particulares, podemos dizer que se trata de uma classe média descapitalizada em seu pais e que as poucas economias que possuem se transformam em pequenas fortunas de Reais quando atravessam a fronteira para o paraíso chamado Brasil.
Segundo o jornal argentino Clarín, até o dia 16 de janeiro haviam sido multados 450 argentinos e 70% por excesso de velocidade. Será que as leis de transito brasileiras são tão rígidas e incapazes de atender à idiossincrasia de nossos hermanos argentinos? Ou quem sabe, nossas estradas são lamentáveis e a fiscalização da polícia rodoviáriamuito rigorosa. Obviamente que nossas leis possuem um nível de universalidade, portanto servem a todos os grupos sociais independente de qualquer condição. Nossas estradas principalmente no sul do país possuem um certo grau de desenvolvimento tecnológico o que pode ser considerado estranho e uma novidade ao mesmo tempo para os argentinos é a tipografia serrana.
Considerar os turistas argentinos péssimos motoristas seria apelar para um censo comum de base interpretativa de juízo moral, muito próprio da animosidade fabricada pelos interesses mesquinhos daqueles que determinaram uma historiografia oficial para saber quem tem mais liderança na América Latina: Brasil ou Argentina.
Obviamente este não será o caminho que escolhemos, porém esse processo( de querer estar na liderança ) está muito presente no cotidiano da vida de ambos os lados, vejamos alguns casos:
Somos rivais no futebol ou são os cartolas daqui e de lá que alimentam essa artificialidade para aumentar as rendas de seus clubes;
Somos produto do neoliberalismo da miséria e disputamos hoje entre nós quem esta se empobrecendo mais rapidamente, pois o Mercosul se constitui no instrumento que protege os grandes monopólios e decreta a morte súbita dos outros;
Somos civis em animosidade nada cega mais que esse nacionalismo fasistoíde que a mídia criou. Entretanto os militares trocam caricias e gentilezas no campo da ajuda mutua, técnicas de tortura, repressão, combate à guerrilha e golpes de Estado, sempre “amigos para sempre”;
Uma coisa se torna mais aterrorizante nesta disputa do melhor é o retorno da visão gobiniana entre Brasil e Argentina, pois nesse espaço aparece a sinalização para o retorno e discussão dos princípios de raça superior e das noções de Estado separatistas. Nesse caso todos ( turistas ) devem ser governados e se sujeitarem as regras de cidadania, principalmente quando em território estrangeiro.
Aconteceu no dia 15 de janeiro um episódio imensamente desagradável que foi transmitido pela televisão: Um senador provincial da republica Argentina senhor Isaac López foi detido na autopista que une Porto Alegre com a cidade de Osório a uma incrível velocidade de 142 km horários, quando a máxima seria de 100kms. Esse fato pode parecer corriqueiro, entretanto as cenas que a televisão mostraram, nos fizeram pensar se estamos preparados para atender a esse turista.
Vejamos: ao ser abordado pela polícia rodoviária foi lavrada uma multa por “transitar em rodovias em velocidade acima de 20% da máxima permitida, ou a mais de 50% da máxima permitida em vias publicas.” A penalidade por essa atividade é de 7 pontos na carteira e de 560 Ufir e apreensão do veículo.
Porém o cidadão argentino e sua esposa, apelaram ostensivamente para sua posição política, usando do telefone da polícia rodoviária chamaram ao embaixador argentino, que em conversa com a autoridades brasileira que o havia multado, conseguiu a liberação do carro e provavelmente não pagará a multa.
Errou a polícia rodoviária em ceder às pressões da Casa Rosada e as imagens mostraram a senhora do senhor senador aos berros com o policial se negando a admitir a infração que havia cometido. Cena lamentável, será que o Palácio da Alvorada sabe desse comportamento de nossos hermanos turistas argentinos? Com isso, podemos especular que o costume de usar e se valer da influência de padrinhos políticos ou autoridades constituídas para burlar as normas na busca de vantagens não é um costume só do chamado jeitinho brasileiro, mas um cartão de visitas dos argentinos também.

TURISMO CIÊNCIA OU TÉCNICA?

TURISMO CIÊNCIA OU TÉCNICA?

João dos Santos Filho
Joaosantos@nobel.com.br


... é a sociedade que regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico.
( Marx – A ideologia Alemã, 1976, p.41 )



Los hijos no olvidaron los sabios consejos de sus padres. Decidieron un día ir a visitar en el oriente el lugar de dónde habían venido. Tres fueron los que hicieron el viaje: Cocaib, Coacutec y Coajau. Se pusieron en camino: pero antes se despidieron de sus hermanos y parientes:
- Volveremos; no moriremos.
Seguramente pasaron sobre el mar antes de llegar donde el señor Nacxit, monarca del oriente. Nacxit los recibió y les dió las insignias del poder y de la majestad. De allá vienen los insignias del Ahpop y del ahpop-Camhá. Les entregaron polvos de diferentes colores, perfumes, flautas, la señal del tigre, del venado, del pájaro, el caracol, plumas de diferentes colores. Todo vino de Tulán, del oriente. ( Popol Vuh – livro dos Mayas – Viajes, migraciones y grandeza, s/d, p.106 e 107.)



ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES


O presente trabalho deve ser entendido como um esforço inicial no campo da discussão epistemológica e acadêmica do fenômeno turístico. Nossa pretensão foi retomar as questões relativas a discussão do turismo como ciência, para tanto, entendemos que o mesmo deva ser realizado entre professores, pesquisadores e estudantes. Neste sentido, a Associação Brasileira de Bacharéis de Turismo – ABBTUR, deve encabeçar esses estudos pois às modificações que vem ocorrendo no mundo do trabalho, exigem o resgate de novas reflexões sobre o ócio, lazer, tempo livre e o próprio turismo.
Para realizarmos tal intento, necessitamos ultrapassar as visões imediatistas e tecnicistas que recaem sobre o estudo do turismo e que proliferam no mundo acadêmico. Entendendo o fenômeno do turismo em sua totalidade histórica e considerando o mesmo como resultado da inter-relação entre tempo-livre, ócio e lazer. A relação entre estes conceitos, compõem o fenômeno turístico em suas mais diferentes combinações de sua essencialidade, com esse entendimento o mesmo ganha uma dimensão mais universal e histórica, recuperando sua solidez teórica.
Esses esclarecimentos iniciais, entendem que o turismo deva ser percebido como uma futura ciência que congrega em seu ceio as diversas dimensões do mundo do trabalho, buscando “... obter explanações simultaneamente sistemáticas e controláveis pela evidência fatual.” Compreendendo-o como mais próximo de uma sistematização passível de uma intervenção racional, portanto, com infinito espectro sinalizador no campo da ciência.
Alertamos que o fenômeno turístico em suas várias ramificações teóricas-pedagógicas, deva ser discutido como uma possível ciência, entretanto, isto é algo carregado de preconceito dentro academia e no mercado de trabalho que alimenta uma visão utilitarista. Essa conjuntura vem servir aos interesses alheios, de outras áreas do conhecimento que enxergam o turismo como algo meramente técnico capaz de revigorar por exemplo, outros campos do conhecimento que começam a apresentar desgaste mercadológico.
Hoje o curso de turismo, desponta no cenário educacional como uma das graduações mais promissoras e disputadas nos vestibulares. Com uma mão de obra já formada de 8.000 mil turismologos em aproximadamente 400 cursos (dados de maio de 2000) espalhados pelo Brasil, constituem uma verdadeira massa crítica capaz de pressionar as esferas governamentais para o estudo científico do turismo e a necessidade da regulamentação profissional.
O aparecimento de intelectuais orgânicos nacionais preocupados com o estudo científico do turismo foi produto de esforços individuais e persistentes e teimosia de pesquisadores e estudiosos que ousaram discordar dos curiosos do turismo. Essa rebeldia acabou empurrando-os para dentro da academia e lá produziram de forma autônoma contribuições que nos permitem caminhar sem os escritos dos professores espanhóis. Hoje temos estudiosos e pesquisadores da mesma importância capacitados que escrevem sobre turismo e a realidade brasileira.
Os importantes ensinamentos dos antigos mestres galegos foi um começo necessário que nada sabíamos no campo do turismo, entretanto acabou dificultando a compreensão da realidade brasileira. Mas ao mesmo tempo, permitiu a criação das bases de uma metodologia mais próxima das necessidades nacionais e a constituição de um corpo de professores, pesquisadores pioneiros dos estudos turísticos nacionais e a própria criação e organização sindical dos bacharéis de turismo em grande parte do território nacional.




















































CIÊNCIA E TÉCNICA


... Toda a ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem imediatamente.
( Marx - O Capital V.III, T. 2 cap. XLVIII)


Alguns fundamentos: ( ciência )

A capacidade que o ser humano tem de racionalizar (abstrair) antecipadamente tudo que irá fazer, lhe dá a característica de Homo sapiens, na busca para satisfazer suas necessidades, afastando-o de sua natureza biológica e aproximando-o cada vez mais da esfera social. Essa busca em reproduzir sua existência se explica pelo domínio que o mesmo tem da ação teleológica que o homem desenvolve durante toda a sua existência.
É homem porque pensa, produzindo e reproduzindo sua forma de existência e conseguindo colocar a natureza a seu serviço, para beneficio da humanidade, tudo isso por meio do trabalho elemento explicativo da vida humana. Esse processo vitaliza - se em um desenvolvimento que sempre buscou caminhos novos na ânsia de sinalizar o reino da liberdade, a isto, chamamos de a eterna luta para subjugar a natureza a serviço do homem que vai se materializando pela ciência.
Sempre acompanhado da busca do novo para que a humanidade caminhe em direção à maior racionalidade dos conhecimentos que ela possui, denominamos esse processo de ciência, pois os homens estão sempre procurando suplantar seus conhecimentos.
Podemos afirmar que o turismo entendido com a complexidade definida anteriormente, pode ser visto como ciência, pois:

1. Busca a multidiciplinariedade no estudo do seu objeto e trabalha na construção de uma explicação capaz de resistir a procedimentos de prova reconhecidos, podendo sustentar-se dando conta dos fatos da vida real, buscando apreender à racionalidade da realidade humana;

2. Esse objeto constitui uma formação econômica – social determinada, específica e particular que possui determinações próprias, somente possíveis de explica-las na relação de sua multidiciplinariedade, pois o turismo é resultado do amalgama do lazer, ócio, tempo livre;

3. O fenômeno turístico se constitui em um fenômeno social e portanto passível de ser visto dentro das determinações econômicas, políticas, culturais e sociais. Como totalidade concreta que está no plano das evidências e o uso da razão e pensamento sistemático já elaborado;

4. Nesse caso a teoria se constitui em um instrumento para a leitura do real, que passa a ter uma importância singular para entendimento do fenômeno turístico, que pode ser explicado com o auxilio das varias ciências que buscam explicar essa realidade.









Alguns fundamentos: ( técnica )


A literatura existente no campo do turismo discute o fenômeno turístico quase que exclusivamente em sua dimensão técnica, por ser uma atividade em constante desenvolvimento e elemento atual e por estar na vanguarda econômica. Esta percepção acaba sendo hegemônica na maioria dos cursos que se limitam a transmitir ao aluno uma visão tecnicista na busca da qualidade total.
Com uma infra-estrutura de serviços a disposição e uma demanda sempre crescente de clientes, o turismo se fixa na quantificação de seus dados, buscando racionalizar os serviços com vistas ao custo beneficio. Esse procedimento esta preocupado com o processo de mais valia para acumulo de capital, neste sentido, pouco sobra ao profissional a não ser estar sujeito a esse tipo de mercado.
A visão crítica e histórica sobre esse fenômeno está reservada a uns poucos que ousaram transgredir a regra dos curiosos e dos políticos de carreira que sempre estão farejando os cargos públicos em turismo. Esses na década de 1970 nós agrediam chamando-nos de comunistas, tentando nos amedrontar a com a ameaça de processo pela lei conhecida por 477 que dava plena autoridade para que os donos de faculdades expulsassem os alunos considerados subversivos e baderneiros ou tentando negar a organização sindical dos bacharéis de turismo que conseguiram ultrapassar todas as barreiras impostas por seus opositores.
Por se constituir em um mercado que guardadas as crises diacrônicas do sistema, sempre esteve em expansão, isto é, não havia tempo para refletir o fenômeno em si, mas sim necessitava-se atender a sua demanda. Esta foi uma das razões que levaram o turismo a ser visto quase que exclusivamente como algo prático, que poderia ser tratado a base de um adestramento ( treinamentos rápidos e instrumentais ) comportamental esperado pelo mercado. Na verdade estamos pagando hoje, por esse imediatismo, pois a academia, os órgãos oficiais que dizem responder pelo turismo no Brasil e a própria categoria já perceberam que há um desencontro na perspectiva teórico - filosófica de entendimento do fenômeno turístico.
Considera-lo como uma atividade técnica, significa recorrer ao campo dos dados empíricos, onde a comparação explicitará as diferenças e semelhanças, capaz de quantificar tipos e formular uma classificação de graus e variáveis, buscando as modificações quantitativas. Esse procedimento facilita o manuseio dos dados, porém despreza qualquer referência histórica e se realiza via descrição linear dos fatos.
Essa interpretação atende aos interesses da lógica do mercado, fazendo com que o processo de circulação da mercadoria flua em toda a sua dimensão econômica, por isso, a maioria dos cursos universitários e outros de qualificação da mão de obra no campo do turismo são voltados para o adestramento e treinamento com quase total falta de reflexões críticas.
Essa processualidade pedagógica que ocorre no interior dos cursos de turismo se prende ao fato de como se entende o objeto do turismo: ciência ou técnica. Nesse sentido, a questão tem suas bases na referência filosófica do pragmatismo, como comenta de forma pontual o professor Adolfo Sánchez Vázquez:

Em vez de formulações teóricas, temos assim o ponto-de-vista do “senso comum”, que docilmente se dobra aos ditames ou exigências de uma prática esvaziada de ingredientes teóricos. Em lugar destes, temos toda uma rede de preconceitos, verdades estereotipadas e, em alguns casos, superstições de uma concepção irracional (mágica ou religiosa ) do mundo. A prática se basta a si mesma, e o “senso comum” situa-se passivamente, numa atividade acrítica, em relação a ela. O “senso comum” é o sentido da prática.











































PORQUE ENTENDEMOS O TURISMO COMO CIÊNCIA.


Motivos teóricos:

• O turismo se constitui em um fenômeno que só existe em razão de sua interdiciplinariedade, portanto é resultado da intercessão de varias outras atividades que tem como núcleo comum a categoria trabalho. Nesse sentido, para entendermos teoricamente o turismo necessitamos compreender as condições do mundo do trabalho em sua dimensão política e econômica.
Apreender a dimensão do significado do conceito de ócio na história e como isso vem se modificando com o desenvolvimento das relações de produção.
Entender como o lazer se configura no interior das classes sociais estudando seus diferentes dimensões de interação no campo da cultura e do esporte.
Compreender o tempo livre como produto das atividades de trabalho e sempre vinculado as condições de como estão constituídas as classes sociais.
• O turismo pode ainda não se constituir como ciência, entretanto possui o status para tal, pois se concretiza na relação com as outras ciências. Seu patamar teórico se forma e cristaliza na atuação com as outras, porem por ser ainda uma atividade totalmente dinâmica e muito ágil e de forte impacto econômico que acaba relegando a um papel secundário seus componentes de sustentação teórica.


Motivos políticos:
• Status de ciência que o fenômeno do turismo necessita possuir deve ser cultivado e defendido, independente do mesmo não poder vir a atender a todos os requisitos da chamada “atitude científica”. Com isso quero dizer que entende-lo ou não como uma ciência, não se constitui nenhuma fragilidade epistemologica do objeto por nos estudado, mas sim, daqueles que o julgam. Nesse sentido, endossa-lo como uma ciência ou como uma técnica faz parte do processo de desenvolvimento do pensamento histórico do próprio fenômeno, isto é, se torna a matriz alimentadora da formação de seus conceitos e axiomas.
O exemplo mais pontual dessa questão pode ser tirado do próprio marxismo, onde há autores que defende-o como sendo uma técnica e não uma ciência essa polêmica alimenta uma discussão teórica que traz consigo uma expressiva produção literária, que acaba proporcionando um avanço do pensamento da humanidade.
Com o turismo necessitamos que esse processo seja iniciado e saía do campo da especulação e do “censo comum”, avance para o campo da investigação e traga o embate para o campo das idéias. Fomente em nossos cursos a discussão e comprometa nossos professores para com a luta do turismo como ciência. Só assim poderemos edificar nosso arcabouço conceptual junto as outras ciências.
Portanto, a dimensão do fenômeno turístico deve ser trabalhado e ensinado dentro do contexto de sua cientificidade a ser ainda consolidada e da potencialidade que o mesmo possui junto ao mercado de serviços. Nada pode ser mais nocivo para ele do que ficar na dependência de especulações que na verdade vão refletir posturas filosóficas totalizantes e históricas que acabam limitando o fenômeno e fortalecendo as visões tecnicistas.
Necessitamos formar uma frente de pesquisa multidiciplinar diante do estudo do fenômeno turístico, fazendo com que nos congressos e encontros a questão do turismo como ciência seja discutida.
O mercado deve estar sintonizado com essa discussão, pois há necessidade de um trabalho político, que faça com que o mesmo comece a entender e valorizar a especificidade do turismo como um objeto que busca a formulação de axiomas e pressupostos próprios. Nesse sentido, é de fundamental importância que as reflexões de base filosóficas incorporem a dinâmica dos planejamentos turísticos, procurando delimitar e visualizar sua identidade.
Cabe as associações de classe e ou as entidades profissionais, desenvolverem uma campanha que busque trazer essa discussão para junto à categoria.



Motivos econômicos:

A importância de fluxo de capital e a dinâmica transformadora e de rentabilidade que a atividade turística apresenta no interior dos chamados sistemas econômicos e políticos. Seja no capitalismo ou no chamado socialismo revelam que essa atividade se constitui no grande suporte para a criação de riquezas.
O turismo esta entre a terceira ou quarta atividade de maior crescimento no mundo, estimulado pela globalização que a detecta como um dos setores ainda pouco explorados, porém com uma potencialidade de crescimento que supera todos os outros campos. Essa dimensão espancionista em que a mercadoria ( turismo ) se concretiza no interior dos sistemas econômicos estão acima de qualquer opção política ideológica, pois todas dependem do capital, nesse sentido, buscam implementar os processos de acumulação.
No capitalismo o turismo assume os primeiros postos como uma das atividades econômicas de maior rentabilidade, fabricam-se ilusões, criam-se estilos de vida, cultiva-se o hábito pelo descanso no período do não trabalho e cada vez mais tem-se a certeza que o turismo se constitui em uma das atividades em que o Estado pode recorrer para diminuir a sua crise neoliberal. Sacrificando o meio ambiente, pois muitas vezes autoriza a criação de equipamentos turísticos em áreas de preservação e ou permitindo a destruição de culturas regionais por meio da criação de equipamentos destinados ao turismo receptivo.
No socialismo o turismo também adquire as mesmas características que no capitalismo, pois a lógica de ambas é dada pelo capital, apesar de haver uma diferença. O socialismo cria inicialmente uma infra-estrutura voltada exclusivamente para o turista estrangeiro e proibida para os nacionais com o objetivo exclusivo de captar divisas. Desenvolvendo um turismo tão elitizado quanto aquele existente no capitalismo, pois impede que a população daquele país usufrua da infra-estrutura turística.
Esta situação acaba favorecendo o aparecimento de duas sociedades antagônicas e complementares ao mesmo tempo; aquela que trata o estrangeiro como um cliente vip, mostrando aquilo que era tido como exótico e curioso politicamente, pois esse era o marketing político desses sistemas para o mundo. E uma outra que durante muitos anos foi negada e ocultada pelos socialistas - o cotidiano da vida dessas populações que eram por meio da emulação levadas a sacrificar seu padrão de vida já deficitário, em favor do futuro turista estrangeiro.
Com isto, podemos afirmar que a questão econômica comanda a questão do turismo, dado o seu desenvolvimento multiplicador de atividades no campo da acumulação e reprodução do capital. Mas não podemos analisa-la somente como referência econômica, pois isso limita a compreensão do próprio fenômeno e impede uma leitura cientifica do mesmo.





ARGUMENTOS I

A crítica das explicações oferecidas pelo bom senso inicia o trabalho científico. Esse trabalho é governado por um tipo especial de atitude. Caracteriza-a a tendência de suspender juízos, evitar asserções “definitivas”, até que a evidência adequada tenha sido apresentada para só então acolher as afirmações, admitindo-as na medida em que a evidência as apoia e não excluindo a possibilidade de refutações futuras. ( Hegenberg. Explicações científicas, 1969, p. 20. ).

Os homens sempre procuraram solucionar seus problemas de sobrevivência, intervindo na realidade, por meio do senso-comum e procedimentos técnicos - científicos, modificando e colocando a mesma à serviço da humanidade. Esse “modus operandis” de ação alimenta o desenvolvimento histórico dos homens e sinaliza alguns perfis da sociedade futura.
Essa capacidade de modificar e compreender a realidade se constitui em um processo que categoriza os homens como produtores do saber e de novos conhecimentos. Com base nesses pressupostos, entendemos que o turismo é uma ciência, como diz a professora Margarita Barreto:

Fazer ciência significa criar saber ou conhecimento novo. No turismo, o tipo de saber ou conhecimento que pode ser criado varia de um produto turístico a uma pesquisa sobre motivações passando pela propaganda de um produto turístico. Em todos os casos está sendo gerado um conhecimento, seja sobre um assunto ou sobre um local.

O conhecimento começa a ser produzido no interior das estruturas acadêmicas de aproximadamente 400 cursos universitários de turismo em funcionamento no país. Em sua maioria, os mesmos, exigem trabalhos de conclusão de curso, pesquisas e estudos setorizados do imenso campo de ações relacionadas ao complexo turístico. Nesse sentido o saber e o conhecimento sistematizado das práticas cotidianas, começa a ser teorizado, as regularidades são aprendidas dando lugar as leis que são as expressões da base teórica que passa a ser desvendada e compreendida.
Os instrumentos imprencíndiveis para poder começar a pensar em produzir ciência estão dados, centros de estudos públicos e particulares produzindo investigações acadêmicas e uma intelectualidade atuante e crítica e segundo a professora Mirian Rejowski o estudo do fenômeno turístico era pequena mas até certo ponto significativa como podemos atestar pelo excelente trabalho feito por ela em seu livro Turismo e Pesquisa científica.
Não queremos aqui promover nenhuma crítica para com os defensores do turismo como uma atividade exclusivamente econômica, aqueles mesmos que derivam esse conceito para o turismo – industria, pois acreditamos que essa referência possua hoje pouquíssimos seguidores. Para nos educadores e pesquisadores desse objeto o envolvente é compreende-lo em sua totalidade histórica e no complexo de suas inter-relações com as outras ciências. “De uma maneira geral, pode-se dizer que a ciência do turismo está ligada aos estudos que dizem respeito à sociedade... “
A abrangência com o qual o fenômeno turístico se explicita, exigindo a participação de todos os campos da ciência, permite que o mesmo seja abordado dentro de vários métodos existentes, portanto, o fenômeno turístico, demonstra que já incorporou os princípios básicos de ciência. Entende-lo por meio de uma interpretação funcionalista da realidade social, significa buscar as conexões funcionais do complexo turístico em sua referência empírica e de regularidade, segundo o professor Florestan Fernandes:

... a análise funcional só consegue abarcar os problemas teóricos que possam ser formulados e entendidos funcionalmente, ou seja, que digam respeito ao período de função ...

O turismo sendo analisado via esse método, permite um descrição detalhada dos fatos é nesse momento que o empirismo, destaca a regularidade, harmonia, equilíbrio e a busca da função, fazendo uma descrição minuciosa da funcionalidade. Desenvolvendo estudos e analises altamente descritivas e etnológicas de imenso valor acadêmico. Porém, como todo método existem limitações lógicas e no caso podemos destacar, que o mesmo, não consegue captar a dinâmica das contradições sociais em sua referência histórica, pois só consegue captar os problemas referentes a função.
Essa analise atende aos interesses do fenômeno turístico, visto pelo lado da funcionalidade de seus recursos, uma analise que acaba destacando a qualidade total sem qualquer preocupação com o papel social daquele equipamento seja para com o meio ambiente ou para as classes sociais,. A busca é sinalizar a coesão social e as propostas para resolver qualquer conflito se dá pelo reformismo.
O fenômeno turístico analisado e entendido pelo método estruturalista, parte da categoria de estrutura e segundo o professor Mário Carlos Beni, que sempre defendeu o turismo dentro desse contexto, em seu livro define a análise estrutural como:

... análise estrutural é uma observação rigorosa e metódica do campo de abrangência da atividade, ou seja, dos elementos ordenados e inter-relacionados de forma dinâmica que o integram.

O livro do professor Mário desde quando foi lançado se tornou imediatamente um clássico para aqueles que estudam e trabalham no campo do turismo, sua preocupação não se limita a questões do formalismo sistêmico, que por sinal opera de forma brilhante. Mas vai além disso, pois discute tanto a estrutura formal do turismo, como também deixa sinalizado a falta de organização do Estado no comando e ordenamento de uma política Nacional para o turismo. Nesse caso podemos dizer que o autor soube escolher muito bem seus pressupostos teóricos optando pelo método estruturalista para esse tipo de estudo.
Com referência aos limites que esse método possui podemos esboçar alguns, tais como:

1. Entende que a mudanças só ocorram por meio da descontinuidade e justaposição dos fatos, esquecendo o processo dialético. Para o estruturalismo o processo de mudança não está localizado junto ao desenvolvimento das relações de produção, mas sim, nas contradições interna dos fenômenos ou da estrutura.

2. Por negar a contradição, acaba negando a luta de classe e sobre tudo o movimento do ser, portanto acaba caindo na tese da existência de algo exterior que movimenta o sistema.

A importância em analisar o fenômeno turístico via o método estruturalista, permite a elaboração de estudos como aquele que comentei acima, porém os limites que o mesmo ( método) apresenta podem ser mais profundos, dependendo de como o pesquisador encaminha seu estudo, pois:

• Retira ou minimiza a ação direta dos homens no que se refere a compreensão da realidade, pois nega as leis objetivas que regem a vida social, portanto, acaba dificultando o entendimento das determinações, ou seja, das causas históricas.
• Trabalha com a realidade, naturalizando a sociedade de classes, como sendo algo dado, pois propõe um turismo via a estratificação social, isto é diferenciado para as classes sociais.

Um outro método, na qual não podemos esquecer é o materialismo histórico, que permite desenvolver uma análise crítica, pois caminha por uma essêncialidade de negação da sociedade de classes e parte do pressuposto de ir para além do capital. Nesse momento, estabelece-se aqui uma discussão acadêmica e filosófica, onde a raiz da questão esta localizada fora dos limites restritos do fenômeno turístico, mas sim no campo da “Economia Política”.
Esse entendimento requer que compartilhemos de um pensamento crítico, onde o conceito de turismo só poderá ser de fato totalizante se configurado por meio das relações de produção. Nesse sentido, pouco serve aos interesses do capital que enxerga o fenômeno turístico como um fator de rápida acumulação de capital e inserido na sociedade de classes.
A idéia de totalidade histórica neste método reafirma sua referência de crítica, para com a realidade social e acaba expondo as contradições da sociedade capitalista no campo político, econômico e social. Nada pode ser mais suscetível a esse método de análise do que o fenômeno do turismo, pois acabaria denunciando:

1. Desmatamento em áreas de proteção ambiental, junto a serras e praias para implantação de projetos turísticos;
2. Destruição de núcleos históricos regionais com a criação de equipamentos para implementar o turismo receptivo;
3. Ocultação da pobreza, por meio do maquiamento arquitetónico ou utilização da mesma como forma de explorar o exótico, como se expressou uns dos políticos que estava a frente do Ministério do Esporte e Turismo;
4. Destruição de parques arqueológicos, com a exploração indevida por parte do poder público e empresários locais;
5. A distribuição política de verbas públicas para o turismo, segundo os interesses de grupos políticos locais;
6. A distribuição de cargos públicos na área de turismo para políticos de carreira, segundo os interesses políticos do Estado e não da nação;
7. Envolvimento da máfia internacional do jogo na implantação dos cassinos no Brasil, segundo informações da CPI;

O uso desse método transforma o turismo em um objeto assaz vulnerável, pois revela as contradições da relação econômica e a submissão que o mesmo se vê obrigada a se sujeitar. O desvendar desse processo é característico do pensamento crítico que esse método proporciona, portanto fundamental para a formação do cidadão politizado, crítico e democrático.
A importância desse método esta no fato de poder compartilhar as determinações que compõem o objeto, levando-o a compreensão das suas causas últimas. Esse poder de desmistificar o real transformando-o em concreto lhe permite apreender as causas e entender a lógica histórica.
Para o turismo esse método, permite desvendar quais os interesses econômicos e políticos que levaram a implantação de qualquer equipamento turístico, expondo as relações de poder que determinaram sua existência. A aplicabilidade desse método é limitada, pois não interessa aos interesses do capital e do capitalista, entretanto se torna um eficaz instrumento quando usado para desenvolver uma análise crítica e de totalidade de qualquer objeto.

















BIBLIOGRAFIA

1 – Vásquez, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 210p.

2 – Ministerio de Gobernacion:Programa Educativo sobre Cultura Democratica y Derechos Humanos. Popol Vuh: Livro dos Mayas-Quichés de 1524. s/d. 106 e 107.

3 – Karl, Marx., Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã. 3ª. ed. Lisboa: Editorial Presença,1976. 41p.

4 - Morgenbesser, Sidney. (coord). Filosofia da Ciência. Nagel, Ernest. Ciência: Natureza e Objetivo. São Paulo, editora Cultrix, s/d. 23p.

5 – Marx, Karl. O Capital V.III, T. 2 cap. XLVIII.

6 – Hegenberg, Leônidas. Explicações científicas: introdução à filosofia da ciência. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 1969. 20p.

7 - Barreto, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Editora Papirus, 1995. 129 e 130p.

8 - Fernandes, Florestan. Elementos de sociologia teórica. São Paulo: Editora nacional, 2ª. Ed. 1974.194p.

9 - Beni, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Editora SENAC, 1998. 19p.

TURISMO DE LUXO OU DE LIXO

TURISMO DE LUXO OU DE LIXO

João dos Santos Filho

O que seria turismo de luxo? Passar as ferias em Miami, Orlando ou ir ao Rio de Janeiro, São Paulo. Isso irá depender dos motivos que induziram o nosso deslocamento.
Para Miami e Orlando foi à magia da bicharada assexuada e humanizada de Wall Disney, aliada ao Sanduíche do McDonald’s e a estética original das orelhas de Mickey e Dumbo ou aos sapatos da Margarida, a inteligência de Pateta, o “QI” do Pluto, os tecnocratas luizinho, Zezinho e Huguinho os Sobrinhos que humilham o tio Donald, a delicadeza de João Bafo de Onça, a beleza de Madame Mim, o Gastão que não trabalha, mas tem a sorte ou ao sovina e explorador do tio Patinhas. Esse fetichismo só pode ser entendido quando lemos uns dos livros clássicos da ciência da comunicação de Ariel Dorfman e Armand Mattelart, chamado “Para Ler o Pato Donald”
Nada pode ser mais subjetivo do que o motivo que levaram essas crianças e seus pais a escolherem essa viagem, será que eles conhecem o pequeno livro de Paulo Guilherme Martins chamado “Um dia na vida do Brasilino” de 1961 e sabem o que são multinacionais ou tem consciência da existência de um texto chamado “Nosotros Latinos Americanos” do incrível e brasileiríssimo Darcy Ribeiro, antropólogo namorador e amante da causas brasileiras que nos deixou, depois de anos de luta cerrada contra o câncer foi derrotado entregou-se aos braços de Tupã.
É evidente sem ser vidente que os motivos foram vários, mas nenhum deve ser criticado, mas sim, entender que esse passeio pode ser considerado um luxo, mas na verdade é um lixo quando comparado a outros, pois vejamos:
No Rio de Janeiro estão as praias mais lindas badaladas do mundo, com uma calçada que acabou determinando um estilo de vida nacional, um cristo cansado de enxergar o assalto a turistas e o massacre aos meninos da candelária, como também, o gingado daquilo que ele criou com grande cuidado que foi a mulher brasileira. A baia da Guanabara, o Bateau Mouche que matou no reveillon, os Arcos da Lapa, Copacabana Palace o hotel mais famoso do mundo, encontrar com rei do carnaval em uma das travessas da rua Barata Ribeiro o mundialmente famoso Clóvis Bornay, pisar na calçada do posto seis da praia de Ipanema onde Vinícius de Moraes, contemplava o andar da garota de Ipanema. Ver Ilza Carla disfilando a magia da cultura brasileira, tomar um chope no amarelinho, ir ao maior estádio de futebol do mundo, visitar o museu de arte Moderna localizado na praia do Flamengo que foi corroído pelo fogo como também o aeroporto Santos Dumont. Caminhar pelas ruas, pois os carros ocuparam as calçadas e as populações caninas transformam-as em grandes zonas para fazer suas necessidades, ir a confeitaria “Colombo” sentir o glamour dos anos 50. Visitar a quadra da Portela e Mangueira. Sentir Nara Leão a musa da Bossa Nova, relembrar de Pixinguinha, comer no calabouço para recordar da UNE verdadeira, visitar a ilha de Paquetá e o forte do Império, ir à casa de Ivo Pitangui, passear pela cinelândia, visitando o teatro municipal, a casa Ruí Barbosa, o palácio do Catête o museu Carmem Miranda e o fabuloso Instituto Histórico nacional.
Em São Paulo, comer uma verdadeira pizza com um chop’s, ir ao maior museu de arte moderna da América Latina o MASP, almoçar na consolação no famoso “Bar das Putas”, provar a feijoada do Bolinha, comer o verdadeiro “Tartufo” de la Itália na cantina do “Nellos” o produtor de “Bela camisinha Fernandinho”, ir à decadente rua Augusta ver os travestis, visitar as diferentes boates, ir ao Ibirapuera ou seria Parque Ingá, ir ao restaurante do Vavá, freqüentar um dos inúmeros teatros, comprar nos shopping. Perder-se na Malufada dos inúmeros viadutos que entrecruzam e cortam uma das maiores cidades do mundo, visitar a cidade Universitária de São Paulo – USP para entender por que construiu em sua entrada a academia da polícia. Ir ao bairro da Bexiga se deliciar com as massas da cozinha italiana e conhecer a história da migração dos nossos nonos. Lembrar da mais italianíssima e completa de todas as brasileiras paulista e sambista inesquecível “Míriam Batucada” e do mestre “Adoniran Barbosa”.
Visitar o teatro Municipal no centro de São Paulo, encontrar com os papas do estudo do fenômeno turístico no Brasil os mestres Sara Bacal e Mário Carlos Beni.
Leitor deve incentivar o turismo interno, por isso o plano Nacional de regionalização do turismo deve ser aplicado e adotado pelas prefeituras do Brasil, como uns dos instrumentos capazes de ampliar nosso mercado de trabalho. Portanto, hurra ao nosso turismo interno que se constitui em um dos mais caros do mundo, por quê? É isso que discutiremos nas próximas colunas.

POR QUE SABOTAM A REGULAMENTAÇÀO DA PROFISSÃO DE TURISMÓLOGO?

POR QUE SABOTAM A REGULAMENTAÇÀO DA PROFISSÃO DE TURISMÓLOGO?

" Quem tem medo desse profissional ?"

João dos Santos Filho


Caros turismólogos será que somos descartáveis, insignificantes enquanto força de trabalho, não possuímos nenhuma representação política e qual a razão de professores fazerem campanha contra nossa representação sindical, afinal quem somos e a quem incomodamos dentro do trade turístico? Tenho a convicção que não nos enquadramos em nada disso, mas quem nos rejeita? O mercado, a incompetência profissional, os curiosos do turismo, a recessão econômica ou quem sabe a falta da disciplina "salvadora" de todos os cursos; o milagre do empreendedorismo que caminha em conjunto com as palestras de auto-ajuda lideradas pelo místico da literatura Paulo Coelho. Obviamente essas indagações não podem ser respondidas como definitivas, pois de tudo há um pouco, como em qualquer outra atividade profissional, pois o mercado esta crivado desses ensinamentos decorrentes da lógica neoliberal.
Os nossos inimigos estão presentes no interior da própria lógica capitalista ditada pela atual vertente econômica do neoliberalismo, a qual não admite que qualquer força de trabalho atue de forma sindicalizada, implantando a lógica da desagregação ou da desregulamentação, não percebendo que a questão política está presente no cotidiano acadêmico e prático da ação do turismólogo. E que nossa presença no território nacional em termos quantitativo e teórico está aumentando e ganhando terreno no campo da produção cientifica.
Somos mais de 546 cursos de turismo no Brasil, lutando no mercado de trabalho para exercer uma profissão que segundo economistas e cientistas políticos e a atividade de trabalho mais promissora para os próximos 10 anos. Considerados os novos elementos dinamizadores para tirar os países capitalismo da linha de recessão e esgotamento da qual ele padece.
O turismo abre a perspectiva de ser o tônico que dará ao Capital seu saudoso desempenho de criação da riqueza, bem como, demonstra que o mesmo permanece com o entendimento que sempre o caracterizou, como produtor de divisas. Essa visão reducionista, simplista e linear de entender o mundo é própria dos arautos do capital, traduzindo-se no discurso dos ventrículos que mandam no turismo e continuam a desenvolver a política continuísta do turismo de décadas passadas.
Será que nossos inimigos são produtos do imaginário, ou de perseguições reais? . Há um lobby que permanece premente nesse setor do culto às dinastias do comando turístico nacional. Entra governo, sai governo o turismo apresenta a mesma lógica, nada muda, existe uma adoração às políticas formulada por curiosos que permaneceram por décadas nas estruturas de poder.
Existe um poder paralelo que está articulado junto aos órgãos de poder do turismo que desenvolvem uma política elitista e de exclusão, apesar de estarmos num governo sindicalista e de participação popular que infelizmente não possui tradição e militantes nesse campo, bem como, entende o turismo como uma política secundária.
Contra quem devemos lutar? Entendemos que com ninguém que esteja ocupando os cargos máximos do turismo, pois independente de quem esteja como Ministro do turismo e de presidente da Embratur, todos querem acertar, mas não podemos nos esquivar de mostrar os erros e os equívocos da ação dos mesmos em algumas medidas.


A QUEM NOS REFERIMOS.

1 . A toda estrutura administrativa e política que foi montada para organizar o turismo desde 1966 com a criação da Embratur, que a princípio surgiu em virtude da necessidade de vender e montar uma imagem de Brasil no exterior e não somente para organizar o turismo nacional. Na base dessa lógica está a necessidade de combater a idéia de ditadura militar instalada em 1964, pois “o regime militar e sua radicalização comprometeram a imagem do país no exterior, subtraindo credibilidade à sua ação" ( Luiz Cervo, Amado. História da Política exterior do Brasil. 1992 pg.336 ). Assim nada mais vantajoso para o estado militar criar um órgão como a Embratur para cuidar da imagem do país no exterior que por sinal acabou divulgando a idéia de país erótico, exótico, carnavalesco e onde o prazer da companhia feminina que habita à hospitalidade brasileira vai além do bem receber.
A idéia inicial era de mostrar um país da paz, harmonia, católico, mult-racial, onde se localizava o paraíso das liberdades democráticas garantidas pelo combate eficaz contra o perigo comunista.
Portanto, a Embratur nasceu de forma abortiva e sempre foi comandada por políticos de carreira, que erraram muito mais do que acertaram, apesar de ter desenvolvido um aparato de normativas e regulamentos que deram ao país certa funcionalidade organizacional ao turismo.
A Embratur sempre foi reticente ao nosso projeto de regulamentação profissional, entra presidente sai presidente o discurso permanece o mesmo, adquire adjetivos novos e tonalidades muitas vezes populistas, porém, sempre finaliza por não nos apoiar em nossa luta sindical.
2 . Há estudiosos do turismo que entendem o fenômeno turístico como descolado das questões políticas maiores, como se o turismólogo fosse uma simples força de trabalho submissa às leis do Capital. Não o enxergam como uma categoria politizada e preocupada com seus deveres profissionais.
3 . Aos neoliberais de plantão que insistem em se travestir de guardiões do Estado, protegendo seu equilíbrio e cultuando o processo de despolitização por meio do processo de inculcação contra a regulamentação em nossos alunos.
4 . Há aqueles que insistem em afirmar que a regulamentação irá restringir o campo de trabalho do bacharel em turismo, pois entende, o fenômeno turístico como algo acidental e impossível de ser delimitado.
5 . Aos que temem nossa organização política em volta de um sindicato forte e não patronal.
6 . Os que nos chamam de radicais e até de comunistas, quando observamos que deveria haver uma sindicância na Embratur para apurar quais estados foram mais beneficiados com as verbas desse órgão, nos governos anteriores.
7 . Os voluntaristas e políticos que estão envolvidos com o PNMT que apoiaram esse programa sem saber o crime que estavam cometendo junto às populações folk.
8 . A disputa política para preencher os cargos das representações dos escritórios da Embratur no exterior, vale tudo desde a existência de capachos profissionais até os velhos e persistentes coronéis da política nacional fazendo lobby.
9 . Os que fazem uma leitura linear e funcional do fenômeno turístico enquadrando seu entendimento no campo do econômico.
10 . Aos "chicagos boys" como certamente diria Darcy Ribeiro que invadiram setores da política nacional e tentam imprimir ao turismo a lógica de que devemos vender o Brasil para que aumente o fluxo do turismo estrangeiro, bem como, criar e aprimorar uma infra-estrutura ao gosto deles.



O QUE DEVEMOS FAZER?

Em primeiro lugar, entender que o sistema capitalista se alimenta em decorrência do processo de movimentação das classes sociais, requerendo que a força de trabalho a qual nos referimos, bacharéis de turismo ( turismólogo ) possam ter poder de barganha no jogo político e que estejam integrados em volta de seu sindicato. Portanto urge a necessidade da regulamentação da profissão.
Em segundo lugar, entender que o processo político não esta descolado do mundo da educação na luta para a formação de um indivíduo crítico, defensor de seus direitos e consciente de sua existência social. O que nos obriga entender a educação como um processo que só é completo quando atua e participa com ações extra-classe, combinando o cotidiano à sua formação integral.
Em terceiro lugar, temos o direito de lutar pela organização política de nossa categoria e para isso a etapa inicial é exigir com todas nossas forças a regulamentação profissional. Fomos vítimas de categorias profissionais que nos quiseram paternalizar em razão do imposto sindical.
Em quarto lugar, entendemos que só por meio de uma organização política sindical forte poderemos ser respeitados e ouvidos perante o trade turístico, deixemos de lado as visões ingênuas de roupagem liberal, que o sistema acaba alimentando.
Em quinto lugar, devemos fazer uma corrente com nossos pares para que em todos os eventos de turismo que ocorrerem em nossas faculdades ou universidades o assunto regulamentação será abordado, convidando pessoas para um debate sobre esse assunto.
Em sexto lugar, exigir que o Ministro do Turismo e principalmente o presidente da Embratur se posicionem publicamente com referência a regulamentação da profissão.
Em sétimo lugar, pressionar para que o CBTUR faça lobby para que o assunto regulamentação da profissão seja um dos temas desse encontro, pois projetos no senado existem, o que necessitamos é vontade política do trade e dos órgãos públicos federais.
Em oitavo lugar, pressionar para que a Embratur se manifeste sobre nossa regulamentação, anos atrás, a mesma se posicionou contra. Esse parecer existe e deve ser colocado ao conhecimento público.
Em nono lugar, utilizar o site "estudosturisticos" para escrevermos sobre esse assunto como brilhantemente fez Valéria Mônaco com seu artigo "Por que a regulamentação de bacharel em turismo não sai...”. Ou como sempre o faz em seus preciosos escritos, o também amigo de site Marcelo Veloso.
Em decimo lugar, integrar as ABBTUR'S na luta pela regulamentação, formando grupos para pensar formas de pressionar os políticos de suas regiões ( Os Conselhos Municipais de Turismo, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores e governadores ) para que assumam como meta de seus compromissos com o povo a defesa de nossa regulamentação profissional.
E, finalmente esclarecer aos turismólogos que esse governo tem uma história e tradição que se formou no campo da organização sindical devendo portanto, a nós bacharéis de turismo um apoio definitivo para que consigamos nossa tão sofrida regulamentação profissional.
A todas que lerem esse artigo, gostaria de receber sugestões para que juntos possamos ampliar nossa luta por nossos interesses profissionais. Por esse motivo deixo meu e-mail. Joaofilho@onda.com.br

OS CRIADORES CRIARAM A CRIATURA

OS CRIADORES CRIARAM A CRIATURA


- A criação da Embratur -

“Também dentro do país, apesar do terror que implantou, a ditadura veio sendo denunciada cada vez mais amplamente. A princípio, o ditador e seus cúmplices tentaram negar seus crimes. Diziam:” No Brasil não há torturas. Não há nem mesmo presos políticos.”“.
(...) Gastaram enormes somas de dinheiro para subornar jornais, revistas e jornalistas corruptos, aqui e no exterior. Tudo para melhorar a “imagem” do regime.
(Livro Negro da Ditadura Militar. Editora Libertação)



O presente artigo tem por objetivo responder aos apontamentos inteligentes e assertivos feitos por Joandre Antonio Ferraz em seu comentário: A criação da Embratur. Bem como, pretende manter um dialogo respeitoso e democrático de pontos de vista ideológicos diferentes, pois o articulista em questão, necessita saber que todo discurso é ideológico, inclusive o de vossa senhoria.
Como diz o filosofo húngaro George Lúkács não há ideologia inocente, sugiro para quem deseja dominar o assunto o livro do referido autor “Existencialismo ou Marxismo?” ou ainda os estudos da encantadora e brilhante filosofa brasileira Marilena Chauí.
Com referencia ao Decreto-lei n.55 de 1966, com o devido respeito devo concordar com o articulista, pois o mesmo, não menciona a divulgação do país no exterior. Como também, os Atos Institucionais formulados pela ditadura militar não mencionavam sobre a tortura em sua redação lingüística. Porém como afirma o escritor Elio Gaspari em seu livro: “A Ditadura Escancarada”, a mesma se constitui na marca da ditadura militar:

“Os oficiais-generais que ordenaram, estimularam e defenderam a tortura levaram as Forças Armadas ao maior desastre de sua história. A tortura torno-se matéria de ensino e prática rotineira dentro da máquina militar de repressão política da ditadura ...”•

A leitura dos fatos deve feita dentro de uma perspectiva histórica e não linear como é próprio do pensamento positivista e existencialista, pois é no desenrolar desse processo que entendemos a realidade concreta. Por de traz das leis, decretos e escritos e da fala dos homens, há toda uma produção social que foi construída, e se não for captada, acaba ocultando a riqueza dialética dos homens. Isso nós leva a concluir que a realidade é mais rica que os conceitos e, portanto, impossível de ser rotulada como uma definição dentro de uma única episteme.
O decreto de criação da Embratur é evidente que busca dar ao país uma organização instrumental para a administração do turismo, como na verdade deu, porém com já afirmei em meu artigo sobre a Embratur. Essa entidade foi pensada e usada pelo aparelho de Estado para veicular a visão oficial idílica e ufanista do Brasil. Hoje retoma essa função de forma mais radical, pensando prioritariamente em termos do turismo receptivo acoplado idéia de Convention Bureau. Esclareço a vossa senhoria que os estudos que venho desenvolvendo há anos indicam que o uso da Embratur pelos militares foi intencional, abusiva e completamente maléfica para o trade nacional. O exemplo disso que afirmo é o apelo que a Embratur imprimiu às propagandas veiculadas no exterior em todos esses anos, por meio de um marketing baseado no erotismo da mulher brasileira, mar e sol um verdadeiro paraíso que tudo é possível.
Criticamos erros, mas também, como vossa senhoria deve ter percebido faço questionamentos à transformação da Embratur em um imenso Convention Bureau e a irresponsabilidade que a atual administração da entidade esta ocorrendo ao estimular de forma indiscriminada a criação de conventions em todo território nacional.
Reafirmo a vossa senhoria com o respeito que tenho ao próximo, que afirmações de que minha fala é ideológica ou que o discurso de vossa senhoria é supra-ideológico e apolítico, carece de base cientifica e sacode as ciências sociais em sua base epistemológica. Não existe atitude ou ato apolítico, bem como, a fala dos homens é ideológica, pois somos animais sociais que se explicam em razão da categoria trabalho, isto é, produto da ação de outros homens.
Com todo respeito, afirmo que a Embratur do passado me traz nostalgias pelo que fez, porém, também alguns pesadelos que me despertam na madrugada, principalmente quando me retorna a idéia que seu anterior presidente declarou ser contra a nossa regulamentação profissional. Fato que retrocedeu politicamente a luta da categoria na construção do seu sindicato e enfraqueceu a politização dos turismólogos, permitindo que o Instituto de Hospitalidade sinaliza-se em querer nós certificar.
Espero que esse diálogo aprofunde a discussão do fenômeno do turismo e de fato traga o respeito a novos perfiz epistemológicos e que seja visto como importante para entendimento da historia do turismo e não classificado como erroneamente ideológico ou meramente discursivo.
Todos querem o desenvolvimento do turismo brasileiro, inclusive vossa senhoria pelo trabalho orientador e jurídico que sempre desempenhou quando esteve trabalhando na Embratur, demonstrando ética e defesa dos turismólogos na sua luta pela a regulamentação profissional.
]


Cordialmente,
João dos Santos Filho

O EMBUSTE DA CERTIFICAÇÃO NA LUTA CONTRA A REGULAMENTAÇÃO PROFISSIONAL: AS FALAS QUE RETARDAM A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS TURISMÓLOGOS

O EMBUSTE DA CERTIFICAÇÃO NA LUTA CONTRA A REGULAMENTAÇÃO PROFISSIONAL: AS FALAS QUE RETARDAM A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS TURISMÓLOGOS


João dos Santos Filho
Joaofilho@onda.com.br


Nas sociedades capitalistas liberal-conservadoras do ocidente, o discurso ideológico domina a tal ponto a determinação de todos os valores que muito freqüentemente não termos a mais leve suspeita de sermos levados a aceitar, absolutamente sem questionamento, um determinado conjunto de valores... .
Naturalmente, aqueles que aceitam tacitamente a ideologia dominante como a estrutura objetiva do discurso “racional” e “erudito” rejeitam como ilegítimas todas as tentativas de identificar as suposições ocultas e os valores implícitos com que está comprometida a ordem dominante. (Mészáros, 1996, p.13 e 14).





INTRODUÇÃO



Inacreditável, mas estão naturalizando o entendimento do fenômeno turístico, considerando-o como uma disciplina nitidamente distinta da própria ciência, algumas instituições de ensino superior e centros de investigação parece embarcar nesse novo modismo pseudo - acadêmico dado pelo arcabouço teórico da fenomenologia. Esse processo, decorrente da nova lógica do Capital se explicita na forma dos capitalismos denominados neoliberal, apresentados como o instrumento salvador que permitiria estimular os mecanismos para um novo estágio de acumulação do próprio Capital.
Entretanto, a citação de Mészáros no inicio do texto colabora para o entendimento do processo de despolitização em que a racionalidade normativa de base oficialista acompanha uma universalidade decorrente do movimento dado pela economia neoliberal. A sociedade civil caminha nos trilhos da falsa cidadania, em que a ausência de auto crítica e o refletir do cotidiano dentro da ideologia reificada impedem a formação da consciência crítica.
Servindo de orientação para alguns docentes e organismos oficiais, seus escritos e falas estão ilustrados nas amaras de uma secundarização de nossa organização política e sindical aliados a um discurso messiânico e ufanista que afirma que o “profissional competente" sempre terá colocação no mercado de trabalho, independente das condições da economia. Esse entendimento é muito próximo de uma visão religiosa, pois acredita que nós turismólogos somos os próprios messias, pois o que vai valer é nossa capacidade de fazer milagres, portanto, ser um santo competente dos afazeres divinos na terra, capaz de conseguir trabalho, mesmo que a economia esteja em plena recessão.
O que tem acontecido é que respeitados professores e pesquisadores acabam se curvando diante das diretrizes dadas pelo banco mundial e muitas vezes sem saber ou até sabendo, tornam-se defensores do processo ideológico da despolitização. Transformando-se em maestros do concerto para o "consenso", explicando-se por si mesmo, uma perfeita apologia ao egoísmo separatista e desagregador do pensamento burguês, em que a noção de existência da neutralidade cientifica ganha adeptos.
No turismo esse processo se mostra forte, pois a falta de estudos científicos nesta temática, acaba facilitando o avanço hegemônico do pensamento tecnicista, dando ao curso uma tonalidade de cunho tecnológico e experimental, em que a base empírica prevalece dentro do projeto pedagógico.
Paralelo a essas questões de base epstemológica existem outras de natureza política, organizativa e sindical que apesar de parecerem distintas, estão extremamente interligadas em um processo para a construção do saber turístico.
Por ser um fenômeno que nesses últimos anos tem sido objeto de certa regularidade investigativa, permite hoje possuir o status de ciência, requerendo dos estudiosos deste fenômeno um repensar de seu papel no cotidiano da sociedade. Impossível pensar o fenômeno turístico fora dos contornos do movimento da história, pois o mesmo, desenvolve-se nas referências do econômico, social e cultural em que pessoas agem por meio da ação da categoria trabalho, oferecendo um produto que dê conta do lazer e turismo no interior da sociedade contemporânea.
Neste sentido, confirmamos a lógica histórica marxiana na qual o pensamento científico não este deslocado de suas bases materiais de produção, capaz de realizar uma leitura concreta da realidade e com isso, reafirmar nossa postura de não compactuarmos com a fenomenologia e com os apologistas do neoliberalismo2.
Como Turismólogo e Cientista Social repudio toda e qualquer tentativa de despolitização e naturalização do fenômeno turístico. Aos pós-modernos que trabalham na trama do discurso vacinado pela ideologia liberal, entendemos haver necessidade de aprofundar essa questão e discuti-lá em cima do desenvolvimento da ciência, pois só assim, poderemos nos eximir de embates pessoais pautados nos preconceitos ideológicos que infelizmente ainda marcam alguns setores da academia e de entidades representativas de nossa categoria.
Para podermos proceder nessa linha de avanço da ciência e do embate acadêmico das idéias, necessitamos entender o desenvolvimento da sociedade contemporânea em sua dimensão histórica, percorrendo o caminho da crise do Capital e suas implicações para o capitalismo. Essa leitura permitirá compreender a questão ontológica do processo e apreender toda a essencialidade do fenômeno turístico.
Nossa contribuição esta centrada na reflexão do fenômeno turístico e do turismólogo, buscando entende-los e problematiza-los nas falas contrárias existentes à regulamentação da profissão.
Salientamos que nosso embate deve ser compreendido no interior do campo das idéias e nunca dirigido às pessoas, respeitando opiniões divergentes e sabendo aceitar às diferenças no estudo da ciência do turismo. Nesse sentido, avançaremos como cidadão na busca de uma qualidade de vida superior e aderimos a uma racionalidade capaz de permitir a convivência entre os homens.
O uso da delação em tempo virtual pela internet como prática política e da injúria como habito que existiam nos tribunais da inquisição, aparecem no cotidiano de nossa sociedade. Se constituindo em armas dos incompetentes e/ou daqueles que possuem inexpressivo grau de sociabilidade diante do "homo sapiens".
Nesse sentido, vale a pena destacar a existência e a importância do "Código de Ética do Bacharel em Turismo" que em seu artigo13º afirma: O Bacharel em Turismo deve abster-se de:

1º - praticar qualquer ato que possa prejudicar os legítimos interesses de outro profissional;
2º - criticar de maneira desleal os trabalhos de outro colega de profissão;
3º - apropriar idéias, planos e projetos de iniciativa de outros profissionais, sem a
devida autorização dos autores;
4º - rever ou retificar o trabalho de outro profissional, sem a anuência do autor;
5º- realizar qualquer ato inidôneo que prejudique a reputação ou a atividade
Exercida por outro colega;
6º- intervir na relação comercial entre outros profissionais e seus respectivos clientes, exceto nos casos em que sua participação tenha sido expressamente solicitada.
Os itens acima nos garantem uma certa liberdade para defesa, quando formos objeto de atitudes fascistas e covardes que não sabem respeitar as diferenças de pensamento, e julgam que acender profissionalmente só é possível às custas da negação física do outro.


SOCIEDADE PÓS-MODERNA: O ENCOLHIMENTO REVOLUCIONÁRIO E POLÍTICO DA SOCIEDADE CAPITALISTA.

Nada mais desafiador para um turismólogo e ao mesmo tempo reconfortante para um sociólogo, poder colaborar na organização política e sindical dos bacharéis de turismo, apesar dessa dupla formação profissional, existe uma unidade de interesses que se completam. Ao cientista social cabe a função de mostrar a importância de se ter uma categoria politizada e defensora de seu mercado de trabalho e ao bacharel em turismo permitir o conhecimento de uma referencia crítica sobre seu objeto de trabalho.
Entretanto, para podermos iniciar essa discussão, devemos mostrar qual a premissa que orienta nossa visão de mundo e nos levou para o ponto máximo de nossa racionalidade permitindo o livre transito no exercício do pensamento crítico. A primeira é aquela que afirma: toda sociedade para poder de fato existir deve ter seu próprio sistema educacional.
A realidade social não pode ser vista como estruturas pré – idealizadas, onde os elementos da produção e da troca sejam considerados exclusivos e os únicos determinantes para a explicação do funcionamento de uma sociedade. Essa organização humana se explica por meio de seus atos teleologicamente definidos na qual denominamos trabalho, desenvolvendo um “modus – operantis” próprio que se plasma na relação dialética entre os homens:

Não existe atividade humana da qual se possa excluir toda intervenção intelectual, não se pode separar o Homo faber do Homo sapiens. Em suma, todo homem, fora de sua profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um “filósofo”, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isto é, para promover novas maneiras de pensar.

O sistema educacional, nesse sentido, também produz e reproduz a estrutura de valores na qual os indivíduos definem seus interesses e agem quotidianamente, com isso, afirmo que o capitalismo força a criação de uma estrutura material e ideológica de perpetuação, porque o sistema educacional desempenha um papel fundamental na interiorização e inculcação dos conteúdos nos indivíduos. Forma-se uma poderosa ideologia de defesa do sistema e quando a ela nos referimos podemos afirmar sem grandes erros que a mesma guarda, resguarda, cultua e privilegia concepção de mundo da classe dominante.
O campo da crítica permanece sob controle, nada escapa ao crivo daqueles que a usam para diminuir e ocultar a compreensão da realidade, esse processo é empregado em todos os campos da educação, principalmente no estudo do fenômeno turístico. Em virtude de este possuir poucos anos de investigação científica e explicitar-se pedagogicamente por uma enorme referência de base técnica, em que o treinamento e o adestramento aparecem como capazes de melhorar o trabalho profissional de uma gama apreciável de profissionais que compôem a atividade turística. Esse imediatismo pragmático que muitas vezes aparece disfarçado pela busca da "qualidade total" encobre o estudo teórico do turismo restringindo qualquer visão crítica que possa abalar o status-quo do estado Capitalista.
O processo de destruição da razão crítica e ascensão do irracionalismo vão atingir o fenômeno do turismo em duas grandes frentes; na organização política e sindical da categoria e na concepção teórica-científica de entendimento de seu objeto.
A primeira de base sindical e de organização política, refere-se à união dos turismólogos na defesa de seus interesses profissionais para atuação no mercado de trabalho. Esse processo exige uma certa paciência histórica, pois requerer a criação de uma representação que lute em favor dos interesses da categoria e deva passar pelo crivo da mesma e ser aprovada pela massa dos trabalhadores. Uma primeira etapa foi vencida com a criação de vinte “Associações Brasileiras de Bacharéis de Turismo” – ABBTUR em vinte Estados brasileiros orientadas por umas organizações nacionais, que com uma luta persistente, conseguiu em todos esses anos estabelecer representações em todos os níveis do governo Federal e sensibilizar o “Ministério da Educação e Cultura” na criação de um conselho próprio que nos legitima perante os órgãos educacionais do país.
E com o apoio de todos os presidentes da ABBTUR/Nacional e regionais, esses trinta anos de luta, conseguimos que o nosso projeto de regulamentação tramita-se em todas as instancias da estrutura administrativa do governo Federal, com apoios ora efusivos ora discretos. Porém, necessitamos dar mais um passo em favor de nossa organização política e sindical, ou seja, a criação das “Associações Profissionais de Bacharéis de Turismo – APBTUR e ativação e/ou criação dos Conselhos de Ética nas entidades para podermos requerer e lutar na formação de nosso futuro sindicato”.



Por quê insistir na ativação ou criação dos Conselhos de Ética e na regulamentação da profissão?
• Em primeiro lugar por entendermos que na sociedade capitalista a categoria profissional que não se organiza demonstra fraqueza, incompetência e possuí uma existência inconclusa enquanto classe para poder enfrentar o cotidiano na defesa dos seus interesses profissionais. A nós turismólogo ficaria reservado uma vida de agregados e parasitas, colando-nos na rabeira de outras organizações profissionais para não perecer-mos. Como nós ocorreu com a intromissão indevida e nefasta do Conselho Federal de Administração que tentou substituir nossa identidade, quando autorizou nossa filiação em seu Conselho.
• Com a existência de nosso Código de Ética que foi criado em 29 de maio de 1999 instituiu–se extra-oficialmente o Conselho Nacional de Ética. As seccionais deveriam ter instituído as suas Comissões Estaduais de Ética, mas pouco fizeram para que isso acontecesse, pois as ABBTURs regionais direcionaram seus esforços políticos e financeiros na consolidação da própria entidade. E aqui cabe uma homenagem a todos turismólogos que direta e indiretamente permitiram que hoje fossemos uma categoria profissional de ponta no campo do turismo.
• Os Conselhos de Ética possuem uma história no meio do movimento operário brasileiro que se explica pela necessidade de vir a defender os interesses individuais e coletivo do trabalhador é natural que apareçam as chamadas questões corporativas. Os Conselhos são necessários para impedir a invasão do nosso campo de trabalho por curiosos e leigos ou por outras áreas profissionais. Portanto a sua principal finalidade é proteger, defender o espaço de atividade do turismólogo e zelar para que o mesmo cumpra seu papel profissional de forma eficiente e social.
• Cabe ressaltar que por sermos um numero pequeno ainda de turismologos, convivemos com profissionais de outras áreas que assumiram cargos de coordenação no curso de turismo e sem qualquer constrangimento perante a categoria são aceitos, por sua competências e defesa intransigente do turismólogo. A eles devemos parte de nossa luta como profissionais que souberam respeitar e dignificar nossas funções e conosco cerram fileiras nas lutas por nossa regulamentação.
• A função do Conselho é lutar para podermos nos credenciar perante a sociedade, fiscalizando e acompanhando o exercício da profissão, atuando em assessorais para realização de concursos públicos na área e disciplinador do exercício profissional. Significa contribuir para uma organização sindical brasileira constituída de trabalhadores críticos, conscientes e qualificados que possuam o respaldo de uma legislação do exercício profissional.
• A regulamentação da profissão que deveria ser o movimento natural de uma organização política sindical se constituiu em um mecanismo de defesa da própria sociedade, pois coloca à disposição das mesmas profissionais qualificados para atenderem os indivíduos em suas necessidades de lazer, recreação e turismo. Portanto, são profissões que exigem uma relação pessoal, pois começam com uma prestação de serviço direta que se utilizam uma macro- estrutura que deve estar sintonizada com os interesses do cliente e é sempre de responsabilidade do profissional que iniciou o contato.






DISCURSOS E LADAINHAS USADAS PARA NÃO ENCAMINHAR A LUTA PELA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.

Em primeiro lugar, gostaríamos de esclarecer aos turismólogos e leitor em geral teve o privilegio de ser um dos fundadores da ABBTUR/SP em 14 de novembro de 1981. Desenvolvemos com alguns companheiros a gerencia da instituição de forma democrática, em que todos tinham o direito de expressar sua opinião em prol da união da categoria, faço questão de nominar até com o perigo de minha memória me trair os seguintes companheiros: Maria José Giaretta, Marlene Matias, Araci Miranda, Elizabeth Wada, Antônio Carlos Tabet, Vera Lucia Gomes Jardim, Luiz Antônio Braga e Francisco de Canindé Gentil Vieira. Esses amigos e parceiros de luta em prol do processo de regulamentação da profissão. Em muitos momentos colocaram suas vidas em risco, pois estávamos em plena ditadura militar e alguns chegaram a sofrer ameaças de processos políticos por serem acusados de comunistas, isto é, perseguição de cunho ideológico que hoje não deveria existir mais.
Nunca nos curvamos ou recuamos diante do aparato intimidador do Estado militar, mas sim, fomos ousados e persistentes em Brasília e mantivemos a prontidão sempre na vanguarda diante dos presidentes da Embratur que acabaram tendo de nos aceitar e respeitar uma categoria aguerrida, unida e consciente de nossos direitos.
Essa história de luta aliada a experiências de cada um atuando nas mais diferentes áreas do turismo com profissionalismo seja no mercado ou na academia, trouxeram uma unidade de parte do grupo que continua lutando em torno dos interesses da categoria. Esse processo estendeu-se pelo Brasil e hoje contamos com 20 ABBTUR’s no território nacional, sendo atualmente a de Minas Gerais a que responde pela entidade nacional, que por sinal vem desempenhando um papel fundamental de formação, informação e politização da categoria.
O primeiro tipo de discurso que aparece contra a regulamentação é aquele muito comum no universo da lógica neoliberal, o qual denominei de discurso do consenso que instrumentaliza-se na capacidade profissional e individual como elemento diferenciador da demanda imposta pelo mercado. Costuma-se afirmar que os melhores profissionais conseguirão sobreviver no mercado e os outros irão perecer.
Essa lógica possui uma explicitação de cunho racista, muito utilizada pelos políticos que vivem do estado brasileiro que na desculpa de não poderem explicar a sistemática seletiva e exploradora do sistema econômico capitalista, colocam a culpa dos insucessos aos profissionais no mercado como resultado de indivíduos despreparados, como se fosse um processo seletivo. Os fundamentos dessa explicação foram dados no século XIX pelo francês Gobineau que na tentiva de justificar a existência da aristocracia como seres superiores os colocavam como indivíduos iluminados. Portanto, aquela ladainha que o mercado aproveitará os melhores preparados pode não ser tão verdadeiro assim, depende da classe que ele pertence e das melhores oportunidades educacionais que o mesmo usufruiu. Entretanto, isso tem servido de argumento para afirmar que a nossa regulamentação é desnecessária, pois o mercado é o melhor codificador de nossas atividades profissionais.
Essa fala se apresenta como padrão em quase todos os lugares tornando-se um consenso no interior do discurso político do sistema educacional brasileiro, que assim consegue desviar seu descaso para com a educação, pois coloca a culpa nos alunos que tem de travar uma luta feroz para sobrevir pela baixa demanda apresentada pelo mercado, por isso chamados de incompetentes. Essa lógica dita de mercado não atende a nenhum padrão de racionalidade, mas sim a um fetiche determinado pelo Capital que usa dos preceitos racistas para explicar o real.
Uma outra fala é aquela que de forma míope e despolitizada enxerga a regulamentação da profissão como uma maldita reserva de mercado e, portanto maléfica para a sociedade e para a própria atuação profissional. Essa forma equivocada de entender a reserva de mercado leva as pessoas a posturas do tipo: sou a favor da regulamentação, mas não da reserva de mercado; a regulamentação é fundamental, mas não prioridade no momento, necessita aprimorar primeiro nosso atuação profissional.
Com esse discurso, pouco sobra na defesa de nosso campo de trabalho, pois a lógica que esta por detrás desses enunciados favorecem principalmente aos curiosos e aqueles campos profissionais que estão caminhando para a saturação de suas áreas no mercado. Isso ocorreu com a ciência da administração que por vários momentos e maneiras diferentes tentou nós adotar por não termos nenhuma regulamentação jurídica que se demarca nossa atuação profissional.
O discurso do Estado liberal brasileiro é a favor de um processo amplo de desregulamentação das atividades profissionais, esse mecanismo dito como processo natural e sadio para o desenvolvimento do sistema, nos coloca em uma situação extremamente grave, pois cultiva e inculca a ideologia de que os melhores preparados sobreviverão no mercado, como explicitamos acima. E afeta drasticamente os cursos superiores de turismo que acabam recebendo uma carga imensa de indagações por parte dos alunos sobre como se comporta a demanda de mercado frente ao turismólogo formado, criando um clima de desanimo quando percebe que o estado regulamenta outras atividades profissionais da área do turístico e há vinte anos vem desmobilizando ou vetando as propostas de projetos lei sobre a nossa regulamentação.
Descobre o estudante que o estado que se diz contra a regulamentação profissional, continua regulamentando outras profissões, tais como; peão boiadeiro e professor de Educação física, as quais merece toda nossa distinção e congratulações pela luta sindical desenvolvida que lhes permitiu serem reconhecidos como profissionais que tem sua atividade laboral registrada e protegida pelas leis trabalhistas. Nos parece ingênuo persistir no antigo e desgastado discurso contra a reserva de atividades ou de mercado que tanto marca a fala de pessoas descomprometidas com a organização sindical de várias categorias existentes.
Além do que, esse discurso de impacto que cultua a não reserva de mercado não poderia ser fala de lideranças sindicais, mas sim, daqueles que compactuam com o governo, com o objetivo de conseguir migalhas com o intuito de trazer à categoria o consenso do estado nas questões sindicais e, portanto retardar o processo de regulamentação.
Uma outra fala, muito comum é aquela que passa pela pseudopreocupação da qualidade dos cursos esse discurso é próprio dos políticos que respondem a questões relacionadas ao turismo e acabam tornando nossa situação profissional cada vez mais longe do processo de reconhecimento. Trabalham com dados quantitativos citando o elevado numero de cursos de turismo e o derrame de uma mão de obra não perfeitamente qualificada.
Esse processo de criticar o grande numero de cursos e a qualidade dos mesmos tem procedência correta, porem esse comentário vem carregado muitas vezes de uma vulgaridade, pois para se conseguir regulamentar a profissão há necessidade de em primeiro lugar melhorar os cursos de turismo e atuar na qualificação da mão de obra. Para posteriormente no momento certo buscar a regulamentação.
A separação do político do pedagógico que tentam fazer com fenômeno turístico é desastrosa, como se a qualidade do mesmo fosse algo atingível em qualquer momento, esquecendo-se que o mesmo é resultado de um processo histórico e por assim se expressar sua relação com as questões de organização política e sindical da categoria fazem parte de seu cotidiano desde a criação dos cursos. Quem tenta mostrar essa dicotomia padece da formação de cidadania e desconhece que é parte do processo educativo a formação política sindical do cidadão.
E uma das piores posturas é aquela que usa de vocabulário ligado a um passado de terror e repressão, insinuando e advertindo seus pares com um palavrório danoso porque este carregado dessa época em que muitos se recordam. E o convívio com o diferente nessa lógica aparece como algo impossível, pois a intolerância de certas entidades publica e civis quando não democráticas, produzem a conhecida linguagem da desmoralização individual, tais como; covardes, instigadores, mentirosos, frustados profissionalmente ( da qual fui alvo ) usam política partidária, irresponsável por quererem desunir a categoria. Essa é a fala mais dolorida, pois é aquela em que o sistema se torna irredutível num programa de caça aos que destoam da entidade, adora atingir a moral dos outros e de suas famílias, tentam muitas vezes provocar a demissão invocando denúncias ideológicas e destruí-los academicamente, reeditando dentro das entidades as antigas formas do período militar.























AS FUNÇÕES DO EDUCADOR VÃO ALÉM DA SALA DE AULA

A função de uma instituição de ensino superior estão descritas na LDB que junto a foros próprios possuem seus órgãos de fiscalização para o exercício de suas funções e não pode permitir que pense a educação como uma atividade fora da organização política da categoria, como assim fez questão de frisar seu criador, um dos maiores antropólogos e educador desse século o hoje ausente mas sempre presente pela produção que deixou para a humanidade. Em um dos seus itens afirma:
Educar e preparar o indivíduo para o mundo e torná-lo consciente, crítico e defensor de seus direitos, a educação, portanto, ultrapassa o conteúdo acadêmico e do ementário, pois não deveria existir educador sem a visão de totalidade. A escola deve associar os seus conteúdos pedagógicos às lutas maiores da sociedade nacional e internacional.
Assim entendemos que é função também do educador orientar e iniciar seus alunos, na discussão de sua organização profissional, questionar as ações dos projetos institucionais e das entidades relacionadas ao turismo. Buscar politizar o conteúdo deve estar calcado na realidade social e política, pois não podemos desconecta-la da vida social e nem toma-la como algo neutro como bem defenderia Émile Durkheim no estudo do fato social como coisa.
Umas educações militantes, competentes, democráticas para ser crítica exige seriedade e leitura disciplinada dos textos clássicos das Ciências Sociais, não passar por essa fase é permanecer no plano sincrônico do movimento da história. Mantendo umas compreensões tradicionais, congeladas e imutáveis da sociedade, que acabam estimulando a intolerância pelo diferente e o novo. Denominado pelas falas pesadas e ofensivas de baderneiros, desaglutinadores, comunistas e professores irresponsáveis, pois não deveriam misturar política com a academia.
Que falta fazem professores com perfil de Florestam Fernandes, educador e sociólogo de fama internacional, pai intelectual de todos os outros com suas devidas influências, marcou a produção acadêmica no Brasil e no exterior com a criação de uma teoria latino americana no campo das Ciências Sociais. Uns dos intelectuais cobiçados pelas universidades norteamericas e agraciados com convites e honrarias como professor honores causa por grandes universidades europeas. Fazendo pensar um Brasil no campo da história política do racismo e do processo da contra revolução do Capital.
Darcy Ribeiro o antropólogo historiador e educador que decifrou a formação cultura brasileira, descrevendo os atores que compõem a idiossincrásia nacional. Um verdadeiro Vinícius de Moraes que ao escrever sob a sociedade indígena a fazia com a arte de um poeta, cadenciando o desfilar de uma cultura que agonizava, mas lutava para se manter.
Os dois considerados os mestres dos mestres, pois faziam de suas aulas tribunas de luta contra as injustiças sociais e iniciavam seus alunos na crítica da sociedade capitalista, capacitando-os com imenso arcabouço teórico capaz de enfrentar qualquer embate acadêmico e destruir as falas dos irracionalistas. Que sempre argumentam que política esta separada dos conteúdos acadêmicos, esse equivoco leva entender a universidade e faculdades como instrumentos transmissores de um saber desqualificado de vida e extremamente tecnicista. Colaborando para a despolitização dos nossos alunos e conseguente a atrofia na formação da cidadania.
Exigir a regulamentação da profissão não é algo atrasado como afirmam os soldados guardiões da qualidade total que pretendem nos impor a certificação. Transformando-nos em "ISO" como se fossemos mercadorias, trocando a importância de um conteúdo pedagógico crítico e humanistico, pela ideologia do pragmatismo vulgar em que o valido é o adestramento para as tarefas do bem servir ao alheio. A isso não podemos nos submeter, basta de institutos que se arrogam o direito de classificarmo-nos como se fossemos coisa. Por isso leitor não permita que em sua instituição de ensino o discurso ácritico e despolitizante daqueles que dizem defender a categoria surja. Combata-os no campo das idéias exigindo explicações acadêmicas.
Professor discuta este texto com seu aluno, não deixe que outras categorias nos assimilem e que perdemos nossa identidade. Turismólogo é nossa designação profissional, lutemos contra aqueles que quando estavam nas esferas de poder impediram e boicotaram nosso processo de regulamentação. A eles hoje respondemos com certa desconfiança, pois o processo de organização sindical se constituiu na única forma de sermos ouvidos e defender nosso campo de trabalho.
Reflexione com seu aluno as normativas da Embratur n.390 e 421 e vejam o absurdo que fizeram com nossas funções profissionais, para quem hoje as mesmas estão delegadas.
Professor pense na cidadania de nossos futuros turismólogos.





BIBLIOGRAFIA
Durkheim, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.
Cadernos de metodologia e Técnica de Pesquisa ( suplemento especial de Ciências Sociais ) n.8, publicado pela Universidade Estadual de Maringá em 1997 - UEM.
CRAMSCI, Antônio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. São Paulo: Círculo do Livro, s/d, p.11.
Fernandes, Florestan. A natureza sociológica da Sociologia. São Paulo, editora Ática, 1980.
------------------------------ Fundamentos Empíricos da Explicação Sociológica. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1978.

----------------------------- Elementos de Sociologia Teórica. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1974.
------------------------------ A Condição de Sociólogo. São Paulo: Editora Hucitec, 1978.
Moesch, Marustschka Produção do Saber Turístico ““.

Ribeiro, Darcy. Aos trancos e barrancos; como o Brasil deu no que deu. Rio de Janeiro - 1966: Guanabara Dois, 1985. P s/n.

IANNI, Octavio. Sociologia da Sociologia latino-americana. Rio de janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1976.

RIBEIRO, Darcy. O Brasil como Problema. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.
---------------------- O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

O CONCEITO DE PÓS-TURISMO UMA BREVE DIMENSÃO CRÍTICA

O CONCEITO DE PÓS-TURISMO UMA BREVE DIMENSÃO CRÍTICA

João dos Santos Filho

Fascinante e desafiador é o campo das ciências humanas em que os conceitos são resultados de uma práxis configurada no âmbito da objetividade e subjetividade ganhando dimensões alternadas e até antagônicas, segundo as diferentes epistemologias que realizam a leitura da realidade social. Neste sentido, o aparecimento de conceitos é resultado do movimento histórico dos homens na busca para satisfazer suas necessidades, podendo muitas vezes apresentar-se com diferentes significações, pois é apropriado por teorias de tronco episteme distintas.
Esse processo de produzir ciência tem por princípio a universalidade que deve conter cada conceito, pois sua validade não pode ser generalista e nem ocasional, mas sim, produto do movimento da história, em que:

[...] Em primeiro lugar, o ser em seu conjunto é visto como um processo histórico; em segundo, as categorias não são tidas como enunciados sobre algo que é ou que se torna, mas sim como formas moventes e movidas da própria matéria: “formas do existir, determinações da existência” .

Os conceitos para serem validados como pressupostos axiomáticos devem expressar o todo, com isso, afirmamos que o surgimento do conceito de “Pós-modernismo” deve ser anteriormente compreendido, para podermos habilitar-nos a entender o conceito de “Pós-turismo”.
O termo Pós-modernismo vem da América hispânica, e surge de fato com toda sua carga de força literária em 1930 dentro do mundo hispânico e posteriormente entre a década 40 e 50 aparecem na Inglaterra e Estados Unidos, com a intenção de descrever o que estava ocorrendo no mundo contemporâneo. De um lado para criticar a chamada sociedade socialista na sua negação à participação popular, coletiva e pelo autoritarismo do Estado stalinista, como também, os ideais da sociedade capitalista estavam se exaurindo pela crise econômica, social e política em conseqüência da primeira e segunda guerra mundial e pela fase do capitalismo de acumulação que necessita criar governos fortes principalmente nos países latino-americanos.
Nos anos 60 a luta da Guerra Fria desenvolvida por ambas as potências econômicas mundiais, cujo objetivo era negar a liberdade de opção política dos indivíduos, restrição total ao aparecimento de novos valores e comportamentos, todos são considerados “subversivos” dentro do capitalismo e socialismo até que provem ao contrário. Esse período, deveras cerceador das liberdades democráticas e bloqueador do desenvolvimento do pensamento crítico carregam consigo a instalação de um fascismo de Estado “imposto à população” em ambos os sistemas.
Na década de 1970 com a guerra do Vietnã o modernismo na arquitetura e estética, como diz Lyotard:

[...] a chegada da pós-modernidade ligava-se ao surgimento de uma sociedade pós-industrial – teorizada por Daniel Bell e Alain Touraine - na qual o conhecimento tornara-se a principal força econômica de produção numa corrente desviada dos Estados nacionais, embora ao mesmo tempo tendo perdido suas legitimações tradicionais. Porque, se a sociedade era agora melhor concebida, não como um todo orgânico nem como um campo de conflito dualista (Parsons ou Marx), mas como uma rede de comunicações lingüísticas, a própria linguagem – “todo o vínculo social” – compunha-se de uma multiplicidade de jogos diferentes, cujas regras não se podem medir, e inter-relações agonísticas. Nessas condições, a ciência virou apenas um jogo de linguagem [...] .


Essas formas narrativas de leitura da realidade subestimam a questão da luta de classes e transformam o principal em secundário e o secundário em principal, isto é, retira da teoria marxista sua potencialidade revolucionária enfraquecendo e questionando o que é chamada pelos opositores de busca incessante da totalidade, como assim comenta Perry Anderson em seu livro Considerações sobre o Marxismo Ocidental: “A primeira e mais fundamental de suas características foi o divórcio estrutural entre este marxismo e a prática política” (ANDERSON, p. 43), pressionando os intelectuais militantes a se refugiarem dentro da academia, mas, apesar de tudo, o marxismo como corrente filosófica vem apresentando:

Assim, desde 1924 a 1968, o marxismo não <>, como pretenderia Sartre mais tarde, mas avançou por um desvio sem fim afastado de toda e qualquer prática política revolucionária

O Pós-modernismo, enquanto conceito do momento busca fragmentar a realidade para entendê-la em suas varias especificidades em seu processo de desconstrução, atingindo o pensamento histórico e obedecendo à lógica do pensamento antitotalizante, rejeitando as grandes interpretações. O que ocasiona um apoio à não mudança do modo de produção capitalista, auxiliando na criação de mecanismos que solidificam seu “status quo”. Portanto a pós-modernidade pressupõe ultrapassar o capitalismo não enquanto sistema econômico, mas sim, atender o princípio básico da expansão máxima da produção, circulação da mercadoria e tecnologia, estendendo o acesso da mesma aos vários extratos sociais, na perspectiva de ampliar o consumo e com isso, minimizar a exploração capitalista. Ampliando os horizontes da ampliação do capital, congelando o cotidiano revolucionário da realidade e formatando a linguagem do “pós”, como presente em todas as instâncias da sociedade.
Essa perspectiva de “pós” aliado ao moderno, segundo James Petras corresponde ao lado mais avançado das relações de produção, para ele:

Hoy en dia ser <> significa tener acceso a los circuitos industriales del comercio, las finanzas, las inmobiliarias y la industria turística. Ser<> hoy significa ser nacional, regional, local. Las élites internacionales son las que hacen la historia; los marginales son los objetos de esta: objetos de explotación, objetos típicos o sexuales del turismo, un emplazamiento para la apropiación y la inversión .


Neste sentido, a definição de Pós-turismo aparece no cenário acadêmico com Sergio Molina que não foge da caracterização do modernismo, para ele essa “categorização histórica” só existe com:

As tecnologias de alta eficiência e os fenômenos sociais e culturais da década de 1990 explicam o desenvolvimento do pós-turismo em contraste com princípios que alteram a continuidade dos tipos de turismo industrial.
No quadro do pós-turismo geram-se produtos competitivos com capacidade crescente de inserção no mercado. A base tecnológica disponível pode ser considerada como um elemento fundamental em seu desenvolvimento, formando parte de um sistema mais amplo, o sócio-técnico, que compreende também a força de trabalho, a organização para o trabalho e a gestão .


O entendimento do conceito de “pós-turismo” para ele está formatado dentro de uma base epistemológica estruturalista, reduzindo o termo “pós” a algo determinado pelo avanço tecnológico e não pela racionalidade humana, ou melhor, há um desprezo pela razão e um apego à criação de modelos para entender a realidade. Esses construtos mentais de fundo idealista para se defenderem tacham o movimento dialético e histórico como totalitários e ligados ao determinismo das leis da natureza.
Com esse comentário, podemos indagar, nós latino-americanos dificilmente poderemos ter em nosso continente a aplicabilidade do conceito de “pós-turismo”, em razão de não dominarmos a alta tecnologia no campo da informática. O “pós-turismo” estaria reservado aos países desenvolvidos? Ou esse conceito é por si equivocado?
Para Molina Pós-turismo são os parques temáticos, em que a tecnologia manipula o real e leva o cotidiano das pessoas ao sabor do lúdico que substitui a consciência da práxis social pelo imaginário metafísico do impossível, materializado pela fuga do mundo dos mortais para o patamar dos super-heróis. Esse apego ao mundo do irracionalismo reflete a negação e desprezo para com a razão e a história.
A sociedade não pode ser vista conforme o olho de quem a controla economicamente, politicamente e socialmente, bem como, os conceitos são resultado de uma práxis histórica, por isso Sergio Molina acabou contribuindo para o empobrecimento da definição de “pós-turismo”. Trazendo a compreensão do fenômeno turístico para o campo tecnicista e fenomenológico o que vulgariza a ciência do turismo, pois coloca o mesmo num patamar de negação da dimensão histórica:

[...] a serviço dos interesses dominantes da ordem estabelecida. Nesse espírito, as definições de “modernidade” são construídas de tal maneira que as especificidades socioeconômicas são apagadas ou deixadas em segundo plano, para que a formação histórica chamada de “sociedade moderna” nos vários discursos ideológicos sobre a ”modernidade” possa adquirir um caráter paradoxalmente intemporal rumo ao futuro, em virtude de sua contraposição, exagerada de modo acrítico, ao passado mais ou menos distante .


Concluindo esse breve comentário a respeito do conceito de pós-turismo, não poderíamos deixar de salientar que o mesmo definido por Molina oferece o risco da visão fragmentada, e da incorporação de uma historiografia hegemônica em detrimento a uma historiografia Latino-americana e acaba subestimando a intelectualidade regional. Por isso, terminamos com um pensamento de Georg Luckács que em seu livro clássico: El Asalto a la Razon – La trayectoria Del irracionalismo desde Schelling hasta Hitler, afirma que “[...] no hay ninguna ideología “inocente”. No la hay en ningún sentido, pero sobre todo en relación con nuestro problema, y muy en especial en lo que se refiere cabalmente al sentido filosófico […]”. (Luckács, 1972. P. 4 e 5)


REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

1. ANDERSON, Perry. Considerações sobre o Marxismo Ocidental. Porto:
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4. MÉSZÁROS, István. O poder da ideologia. São Paulo: Ensaio, 1996.

5. MOLINA, Sergio. O pós-turismo. São Paulo: Aleph, 2003.

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