domingo, 21 de junho de 2009

MOURO DESMISTIFICOU A RIQUEZA E DEU (A)DEUS À MISÉRIA: A EDUCAÇÃO NO INTERIOR DA FAMILIA MARX.

MOURO DESMISTIFICOU A RIQUEZA E DEU (A)DEUS À MISÉRIA: A EDUCAÇÃO NO INTERIOR DA FAMILIA MARX.


João dos Santos Filho



III – Saudação

( Ave Miséria )

Salvé, Miséria, que esmagais e que domesticais o trabalhador, que rasgais as suas entranhas pela fome, torturadora infatigável, que o condenais a vender a sua liberdade e a sua vida por um bocado de pão; que quebrais o espírito de revolta, que infligis ao produtor, à sua mulher e aos seus filhos os trabalhos forçados das galés capitalistas, Salvé, Miséria, cheia de graça.
Virgem santa, que gerais o lucro capitalista, deusa temível que nos entregais à classe envilecida dos assalariados, bendita sejas.
Mãe terna e fecunda do supertrabalho, geradora de rendimentos, velai por nós e pelos nossos.
Ámen. ( Paul Lafargue. “O direito à preguiça e outros textos.” Editorial Estampa. Portugal, p. 192 e 193, 1977).


Todos los acontecimientos que tienen lugar por una necesidad natural traen su consuelo con ellos, a pesar de lo terribles que puedan ser. Así sucedió en este caso. La experiencia médica habría podido proporcionarle algunos años más de una existencia vegetativa, la vida de un ser indefenso que no moriría de repente – el triunfo del arte de la medicina -, sino pulgada a pulgada. Pero nuestro Marx jamás habría podido soportar eso. Haber seguido viviendo con todas sus obras sin concluir ante él, atormentado por el deseo de terminarlas y, sin embargo, incapaz de hacerlo, habría sido mil veces más amargo que la dulce muerte que le sobrevino. ( Philip S. Foner. Cuando Carlos Marx murio. Engels a Sorge em 15 março de 1883. Editorial de Ciencias Sociales. Habana,1984, p. 19. )

“Os filhos deviam educar os pais” ( frase atribuída a Karl Marx, segundo seu genro Paul Lafargue no livro de Erich Fromm. Conceito marxista do Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1962, p. 210 )




Resumen



El presente texto retrata la relación de Karl Marx en el interior de su espacio familiar, su convívio con esposa e hijos, bien como, los sentimientos que el mismo poseía para con la situación de miseria y pobreza de la población trabajadora.
Considerado como uno de los mayores pensadores contemporáneos de este siglo, consiguió estudiar científicamente las condiciones objetivas de la exploración del sistema económico y político capitalista. Demostrando históricamente como van se cristalizando las relaciones de trabajo para mujeres y niños. En ese contexto, Marx muestra extrema sensibilidad al relatar la vida cotidiana de esas personas, discurriendo sobre sus condiciones de exploración y la capacidad del capitalismo en transformar todo en cosas (objetos), mera mercancía.
Aquel que llamó para si las iras del capital quedó siendo maldecido por los dogmas del capitalismo y clasificado como inmoral, rudo, autoritario, materialista demoníaco y dictador. Estos atributos han reproducidos una literatura y una percepción histórica donde Kart Marx es tenido como pernicioso, satánico y comunista.

Palabras clave: Karl Marx; Familia Marx; Capital; Método de la economía política; Relaciones familiares.


O presente texto retrata a relação de Karl Marx no interior de seu espaço familiar, seu convívio com esposa e filhos, bem como, os sentimentos que o mesmo possuía para com a situação de miséria e pobreza da população trabalhadora.
Considerado como um dos maiores pensadores contemporâneos deste século00 conseguiu estudar cientificamente as condições objetivas da exploração do sistema econômico e político capitalista. Demonstrando historicamente como vão se cristalizando as relações de trabalho para as mulheres e as crianças. Nesse caso, Marx demonstra extrema sensibilidade ao relatar a vida cotidiana destas pessoas, discorrendo sobre suas condições de exploração e a capacidade do capitalismo em transformar tudo em coisa( objetos), mera mercadoria.
Aquele que chamou para si as iras do capital acabou sendo amaldiçoado pelos dogmas do capitalismo e classificado como imoral, rude, autoritário, materialista diabólico e ditador. Estes atributos acabaram reproduzindo uma literatura e uma percepção histórica na qual Karl Marx é tido como pernicioso, satânico e comunista.

Palavras-chave: Karl Marx; Família Marx; Capital; método da economia política; relações familiares.


A proposta deste artigo foi trazer à tona as discussões sobre as ações historicamente desenvolvidas pelo Estado liberal no combate à miséria e à pobreza. Para podermos assim proceder, sem sermos repetitivos e tidos como pouco criativos dentro da academia, optamos por trabalhar com os relatos feitos por Karl Marx sobre o sistema capitalismo, no que se refere às condições de vida da classe trabalhadora que era composta em parte por crianças, adolescentes e mulheres. Na seqüência, retrataremos as situações mais contemporâneas do trabalho que vêm ocorrendo no campo da tortura, repressão e assassinatos nos chamados crimes contra a humanidade.
Neste sentido, delimitamos nosso campo de investigação no interior da história contemporânea da América Latina, procurando entender as condições das crianças e adolescentes no interior dos Estados ditatoriais e o quanto isso veio se constituir em um instrumento facilitador para que miséria e a pobreza se alastrassem pelo continente.
Na verdade foram os estudos desenvolvidos por Karl Marx sobre o capitalismo que marcaram expressivamente a forma de pensar do mundo contemporâneo, apresentando uma nova racionalidade capaz de desmistificar o real. É com a criação do Método da Economia Política, que o modo de pensar burguês existencialista cotidiano de expressão empirista da riqueza, se mostra como resultado do produto de um sistema econômico concentrador e desigual, criador do seu contrário como alerta Marx no Manifesto do Partido Comunista, a burguesia produz seus próprios coveiros.
O conteúdo deste artigo permite-nos trabalhar com duas interpretações: 1 - Aquela que entende o Estado como omisso na solução da pobreza e miséria, pois delega à sociedade civil e às instituições de perfil religioso e filantrópico a função do atendimento assistencialista e caritativo, aliviando assim, as contradições imediatas do sistema econômico capitalista.
2 - Outra que entende o capitalismo como um estágio histórico a ser superado. E assim, menciona Marx, que se construirão as bases ontológicas “do reino da liberdade,” desmascarando o sistema capitalista e apontando sua superação através do socialismo, trazendo por conseqüência a emancipação humana e o fim da miséria e pobreza no mundo.
Tanto uma como a outra, demonstram que Marx por meio de suas idéias conseguiu apresentar uma trajetória nova para o pensamento filosófico mundial, demonstrando a fraqueza dos princípios do existencialismo econômico burguês que sustentam o sistema capitalista. Essa sua condição de critica ao existencialismo, nos afirma que, além de ter conseguido demonstrar que a riqueza e a pobreza produzidas no capitalismo são quantitativamente imensas, sua distribuição está inversamente colocada: poucos concentram a quase totalidade da riqueza e a maioria compartilha da pobreza em diversos níveis de miserabilidade.
No campo da injustiça e desigualdade, restam duas saídas: apelar para a providência divina, acreditando que a sabedoria religiosa pode responder às causas dos problemas sociais; como as campanhas da Fraternidade criadas pela igreja católica “Sem emprego, por quê”? ou tratar de explicar as determinações do objeto por meio do apriorismo empirista, fora da referência histórica. A outra saída é entender que Marx opera seu pensamento com base nas leis históricas que explicam a humanidade, demonstrando as contradições e sinalizando uma nova etapa de desenvolvimento ( o socialismo ).
Hoje essa busca pelo aprimoramento do homem como capaz de exercer plenamente sua racionalidade, se configura no interior da luta de classe, onde o capital desenvolve todo um processo ideológico junto à temática de defesa dos direitos em geral e das crianças e adolescentes em específico. O qual faz parte do projeto neoliberal de luta em “busca pela paz” via o desmonte dos movimentos guerrilheiros considerados delicados para o capital, seja no campo político, econômico ou social. Essa lógica se estende por toda latinoamerica na desculpa de atuar em favor da paz identifica os grupos guerrilheiros da América como sendo sustentado pela produção do narcotráfico e propondo ações de bélicas de combate aos guerrilheiros e não a droga.
A preocupação extremamente persistente dos Estados Unidos em querer ajudar os países latino-americanos na busca da paz, facilitando aos mesmos recursos financeiros para o estabelecimento de acordos com as guerrilhas e do suposto combate ao narcotráfico. Vem demonstrando um desmonte aos grupos de oposição ao capital e tornando mais eficaz e penetrante a dominação do projeto neoliberal, como exemplo, a Guatemala, Peru e Colômbia.
A questão dos direitos humanos se configura em uma bandeira que o capital incorpora para desenvolver o seu projeto neoliberal, usando-a para justificar à necessidade do desarme político e beligerante de grupos que poderiam vir a se constituir em possíveis entraves para o pleno desenvolvimento do modo de produção capitalista.



Família Marx


Com essas referências iniciais, partimos para nossa primeira proposta; demonstrar o convívio da família Marx, procurando traçar seu cotidiano. Não podemos esquecer que Karl Marx nasceu em um ambiente familiar de classe média, onde seu pai Heinrich Marx:

(...) era conselheiro da Alta Corte de Apelação de Trier, e também advogado (...) presidente da associação dos advogados da cidade e tinha uma posição respeitável na sociedade de Trier.
Para conservar seu cargo Heinrich Marx teve de renunciar ao judaísmo e converter-se ao protestantismo. Seria difícil encontrar alguém com uma ascendência mais judaica do que Karl Marx: quase todos os rabinos de Trier, desde o século XVI, estavam entre seus antepassados paternos; e sua mãe, que era holandesa, não estava menos ligada à tradição rabínica do que o marido.


Viver em uma Alemanha em que se ouviam os ecos dos princípios de um liberalismo proveniente dos franceses do século XVIII, Rousseau e Voltaire, onde a razão hegeliana explicava o mundo. Aceleram-se os processos de luta pelas liberdades junto às ruas e praças, contra o absolutismo e posições antifrancesas e anti-semitas de Frederico Guilherme III.
A família Marx teve de se adaptar a essas circunstâncias políticas convertendo-se ao protestantismo entre 1818 a 1819 e cinco anos depois todos seus filhos receberam o batismo evangélico para desviar a atenção das autoridades prussianas como assim afirma Henri Lefebvre:

A primeira vítima desta reação em Trier foi um advogado de origem judaica, Hirschel Marx [ pai de karl Marx ]. De judaico, Hirschel Marx apenas tinha a ascendência. Os seus amigos descreveram-no como um << verdadeiro francês do século XVIII, sabendo de cor Voltaire>>, e professando << como Newton, Locke e Leibniz>>, uma vaga crença num Deus longínquo. Foi-lhe portanto fácil converter-se no protestantismo, não por convicção mas para executar as ordens das autoridades prussianas que o perseguiam pelo seu liberalismo .

Marx em sua infância conviveu nesse ambiente de luta pelas liberdades democráticas vindas da França e sentiu no interior de sua família a perseguição da polícia prussiana. De 1830 a 1835 permanece estudando no Liceu Friedrich-Wilhelm, escola secundária em Tréveris, com a fama de aluno de fácil relacionamento, porém considerado extremamente crítico para aqueles que eram seus inimigos não economizava brincadeiras com uma linguagem pontuada de versos satíricos e pasquins habilmente inseridos na retórica.
Com o domínio da maestria do discurso e da retórica Marx vem armando seus escritos contra o governo Alemão e todas as formas de opressão. Convive com o abuso das autoridades germânicas que após descobrirem livros que estavam censurados prendem um colega de ginásio, Marx presencia esse fato. Nesse momento, para contrapor à repressão, desenvolve a idéia de felicidade para humanidade, começando a esboçar a noção da emancipação do homem, mesmo que nesse primeiro momento as mesmas estejam ainda no campo do humanismo existencialista. Esse esforço esta demonstrado em seu trabalho apresentado para a disciplina da língua alemã, quando afirma:

La historia denomina grandes a los hombres que se han ennoblecido obrando por el bien común; la experiencia consagra como el más dichoso a quien más dicha forja para los demás (...) Habiendo elegido el destino por el cual más podemos beneficiar a la humanidad, no habrá carga que nos doblegue, pues en aras de todos serán los sacrificios; la nuestra no será entonces una satisfactión mezquina, limitada y egoísta, sino una felicidad compartida con milliones .

A amizade e o carinho paternalizado por seu vizinho amigo de seu pai o barão Ludwig von Westphalen, que vivia numa bela casa do lado à dos Marx o desperta para à leitura dos socialistas utópicos franceses como Fourier e Saint-Simon e como aluno do Liceu de Trier teve contato com fontes do materialismo e era amigo de Edgar filho mais novo do barão. Mas esse convívio com um de seus mais fortes admiradores o permitiu compartilhar da amizade com a filha do barão, que acabou se tornando sua esposa.
Saindo de Triers, pois havia concluído seu bacharelado, Marx despede-se de seus professores com exeção do professor de latín professor Loers por ser conhecido como delator e dedo duro da polícia prussiana no ginásio.
Dirige-se a Bonn para cursar direito segundo desejos de seu pai, começa estudar outras matérias de seu interesse como Filosofia, arte e literatura, ampliando seu campo de conhecimento e se distanciando cada vez mais do campo jurídico.
Como estudante, participou também do mundo da boêmia de Bonn, foi membro dos treverinos, associação que agrupava estudantes dessa região, para conversar sobre política e organizar festas e reuniões de estudos. Marx, no começo aderiu a esses encantos de juventude e chegou a tomar vários pileques, segundo Leandro Konder:

Uma vez, tomou tamanho pileque e promoveu tal desordem que foi detido por 24 horas na prisão da universidade (junho de 1836). De outra feita, imbuído do mais ardente espírito romântico, bateu-se em duelo com um jovem aristocrata e saiu com um ligeiro ferimento logo abaixo do ôlho esquerdo ( agôsto de 1836 ) .

Em outubro de 1836, por imposição de seu pai preocupado com sua vida de farras e bebedeiras, Marx abandona Bonn para continuar seus estudos agora na Universidade de Berlim, considerada mais seria pelas raízes deixadas pelo professor Georg Wilhelm Friedrich Hegel. É nesse período que fica noivo em segredo com Jenny amiga de infância quatro anos mais velha do que ele e resolve esquecer sua vida de estudante boêmio de Bonn. Imediatamente se integra ao conjunto dos hegelianos de esquerda por influencia de seu professor de direito criminal Eduardo Gans e ingressa:


No Doktorklub (clube dos Doutores), círculo de universitários e escritores hegelianos, faz amizade com os irmãos Bruno e Edgar Bauer, Karl Friedrich Koppen etc. Escreve versos e ensaia gêneros romântico e dramático.

Em 10 de novembro de 1837, Marx escreve para seu pai informando sobre a vida que esta levando, comenta suas angústias intelectuais e já sinaliza os embates que vão caracterizar a trajetória do seu cotidiano junto a seus pares e no mundo da filosofia. Nessa carta, Marx começa afirmando que há necessidade de rever posições”... Hay momentos en la vida que son como jalones puestos a lo largo de la ruta recorrida, pero que indican a la vez una nueva derección y una nueva certidumbre ( ARMAS FONSECA, Paquita. 1989, p.13). Continuando, declara-se apaixonado por sua Jenny comentando de forma plena seu amor capaz de aliviar sua angústia por estar longe de sua amada:


En el momento en que os he dejado, un mundo nuevo se levantaba para mí, el mundo del amor, y de un amor en sus comienzos, lleno de deseos, mas vacío de esperanzas. E incluso el viaje a Berlín que, en otras disposiciones, me hubiera encantado de manera suprema, e incitado a la contemplación de la naturaleza, inflamado de alegria de vivir, me dejó frío; más aún, me puso de un asombroso mal humor, porque las rocas que veía no eran más rudas, más altivas que los sentimientos de mi alma, ni las grandes ciudades más vivas que mi sangre, ni las mesas hospedaje más cargadas, más indigestas que los paquetes de ilusiones que llevaba, y el arte, en fin, no era tan bello como Jenny .



Confessa a seu pai, sua seriedade com os procedimentos de estudo, quando se refere ao resumo que faz de todos os livros que lê, bem com, suas descobertas no campo da filosofia, quando afirma que” ... escribí un nuevo sistema metafísico ...”
Relata que os esforços nos estudos acabaram trazendo complicações medicas, pois a mudança de visão de mundo lhe obrigou o descortinar novas concepções. O Marx de Berlim é um outro homem, apaixonado e extremamente reflexivo em suas idéias, com um instrumental filosófico ainda misturado por um existencialismo ingênuo, comanda o inicio das polemicas, que irão torna-lo conhecido perante a sociedade mundial. Marx quer a companhia de Jenny e Jenny a companhia de Marx os dois sofrem por amor.
Marx começa a desvendar o sistema capitalista em sua essência, para tanto, aprofunda seus estudos filosóficos e convence-se que o mundo não pode ser explicado pelo idealismo subjetivo de Hegel. Mergulha no estudo da história da filosofia com sua tese de doutorado “Diferença da filosofia da Natureza de Demócrito e de Epicuro”, demonstrando seu ateísmo militante e alimentando-se para trilhar o caminho para o materialismo histórico. Esse procedimento possibilita uma crítica à propagada riqueza do sistema burguês que por sua ação inicial revolucionária demonstra imensa superioridade quantitativa na produção das mercadorias e imensa concentração da riqueza.
O motivo exclusivo da descoberta de Marx e que suas conclusões, se cristalizaram marcando e questionando as posições dos pensadores burgueses, durante o processo histórico, desmistificando a tão falada riqueza da humanidade.
O processo de construção mental de karl Marx se solidifica quando este realiza aquilo que mais desejava, casar com Jenny:

O casamento foi realizado na igreja protestante e no juizado de paz de Kreuznach, a 19 de junho de 1843. O registro oficial descreve o casal como ”Herr karl Marx, doutor em filosofia, residente em Colônia, e Fraulein Johanna Bertha Julie Jenny von Westphalen, sem ocupação, residente em Kreuznach”. Marx e Jenny partiram imediatamente para uma lua-de-mel de várias semanas. Foram primeiro à Suíça para ver as Quedas do Reno, perto de Schaffhausen, e, em seguida – percorrendo a província de Baden – demoraram-se na viagem de volta a Kreuznach.


Depois de sete anos de noivado, finalmente Marx começa a construir uma família, que viria ser objeto de especulação maldosa por parte de seus inimigos declarados e em potencial. Independente das condições dadas por aquele período histórico, em que a vida era difícil os seus adversários menores, atuaram sempre nos bastidores de suas descobertas procurando atingir sua personalidade e a honra de sua família. Não faltaram insinuações com referência a sua pessoa tentando classifica-lo como bruxo, satânico, ditador, repressor, autoritário, machista e promiscuo na relação conjugal. Tudo era valido para combater as idéas anti-capitalistas de um socialismo que começava deixar de ser utópico, para vir a ser científico e viável historicamente.






OLHOS DO MOURO VOLTADOS PARA AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Vida em família sua constituição


No dia 1ºde Maio de 1844, nasce em Paris sua primeira filha Jenny, isto é, onze meses depois do casamento. A recém nascida foi levada para Trier por sua mãe para conhecer a família e consultar o médico dos Westphalen, pois apesar da situação financeira momentaneamente estável de Marx naquele mês em virtude de ter recebido uma indenização, Jenny Marx decidiu que seu primeiro filho tivesse perto da família de sua mãe.
Na volta de Trier, Jenny ainda tem dificuldades no trato com bebe, em uma dessas ocasiões ela e Marx são salvos pelo poeta amigo da família Henry Heine. Segundo consta na biografia das edições soviéticas:

Jenny, filha de Marx, que nascera a 1 de maio de 1844 e tinha então seis meses, foi tomada por uma súbita crise de convulsões. Em casa, todos – os pais, a ama – estavam completamente transtornados quando Heine chegou. Este, com notável sangue-frio e sem esperar a chegada do médico, deu com as suas próprias mãos banho ao bebê, que voltou ao estado normal, sossegando assim os pais, que não ganharam para o susto .

Em 26 de Setembro de 1845, nasce em Bruxelas a segunda filha de Marx que vai se chamar Laura, exatamente um ano depois da primeira. Em Dezembro de 1846 nasce também em Bruxelas Edgar, em homenagem ao irmão mais velho de Jenny, amigo de Marx durante a juventude. Falecendo em 6 de Abril de 1855, aos oito anos de idade nos braços de Marx. Nesse mesmo ano a família Marx recebe da mãe de Jenny a ajudante Helene Demuth (Lenchen) de 22 anos que havia sido criada junto à Jenny filha, segundo o professor Heinrich Gemkow:

Enérgica y avispada, la campesina del Mosela subsanaba con gran maestría las numerosas dificultades del diario vivir, cosa que Jenny no siempre conseguía, sin hablar ya de Carlos Marx. Sus sentido práctico, prudencia, abnegación y economía, les servían para superar las horas de más negra necesidad. A lo largo de su vida, Lenchen compartió con los Marx alegrías y sinsabores; era como un miembro de la familia (...) Las hijas de Marx tuvieron en Lenchen a una segunda madre .

No dia 5 de novembro de 1849 nasce o quarto filho de Marx, Heinrich Guido ( Foxchen – raposinha ). Mas em 19 de novembro de 1850, com apenas um ano de idade acaba falecendo, após uma pneumonia em razão das condições de vida que levavam.
Em 28 de março de 1851 nasce o quinto filho de Marx, Francisca Marx que foi amamentada por uma ama–de-leite e morre em 14 de Abril de 1852 de bronquite.
Em 23 de junho de 1851 nasce o sexto filho de Marx, mas desta vez, com a criada Helena Demuth, o qual é assumido por Engels.
E em 16 de janeiro de 1855 nasce o sétimo filho de Marx, Eleonor (Tussy) a mais querida dos Marx, acaba se tornando a secretaria e a protetora de seu pai.
Segundo a biografia editada na Russia, Jenny deu à luz ao oitavo filho de Marx, um menino que morreu imediatamente após o parto em julho de 1857.
Na verdade a família Marx ficou constituída por três filhas com personalidades diferentes, mas politicamente articuladas em torno da luta acadêmica e intelectual travada por seu pai. Tanto Jenny como Laura as filhas mais velhas:

(...) alegravam o ambiente com seus êxitos escolares. Ambas alcançavam prémios na escola, escreviam perfeitamente em inglês, que se tornou a sua língua materna, falavam corretamente francês, liam Dante no original. Mas tinham dificuldade em aprender o alemão, apesar dos esforços dos pais. Jenny desenhava maravilhosamente e os seus desenhos ornamentavam as paredes do seu quarto. Laura era dotada para a música e o canto .

Laura, segundo comentários de seu pai existentes em um diário entregue em 1960 pelo seu bisneto Carlos Longuet, discorre sobre as características preferidas de suas filhas. Os comentários que Marx faz à Laura se referem a uma personalidade que busca: “La verdad está por encima de todo y triunfará ”. A família Marx chama Laura pelos apelidos de hotentote e cacatúa e em 2 de Abril de 1868, Laura casa-se com Paul Lafargue, cubano de nascimento que era estudante de medicina tendo por destemunha Engels.
Jenny era chamada carinhosamente por seu pai de “negrita” e segundo ele a característica de sua personalidade e que “A través de los espinos hacia las estrellas ” na década de sessenta trabalha como secretária e assistente dele, ocupando as tardes e noite nesses afazeres e na parte da manhã dava aulas particulares para ajudar no sustento da família. Com um perfil delineado na busca da justiça e do engajamento político, luta em favor do povo irlandês contra a dominação dos britânicos e acaba escrevendo artigos de forma tão profunda como seu pai. Jenny casa-se em outubro de 1872 com Charles Longuet importante membro da internacional.
Eleanor ( Tussy ) a filha mais nova era a mais mimada, segundo Marx, estava sempre disposta a “... marchar adelante “.Desde pequena foi uma propagandista do socialismo, lutando também pela Irlanda, traduziu documentos e discursos. Viveu com Edward Aveling, doutor em ciências e acabou sendo a companheira e secretária mais próxima de seu pai.
Essas mulheres junto a seus pais foram responsáveis por parte da direção dos movimentos em favor do socialismo, trabalhando de forma integrada ou separada, suas ações desempenharam um papel universal e aproximou a humanidade ao socialismo.
Segundo o filósofo e psicanalista Erich Fromm, admirador das obras de karl Marx, as idéias desse pensador na verdade foram manipuladas pela historiografia de direita que ao tentar atacar o chamado marxismo e estagnar os movimentos em busca da em emancipação humana, acabaram criando uma leitura falsa do marxismo e da própria vida íntima de Karl Marx:

A incompreensão e a interpretação errônea das obras de Marx só encontram paralelo na interpretação desvirtuada de sua personalidade. Exatamente, como no caso de suas teorias, a distorção de sua personalidade também segue uma chapa repetida por jornalistas, políticos e até mesmo cientistas sociais que tinham obrigação de estar melhor informados .

Afirma também, que a descrição negativa que a historiografia faz de Karl Marx é intencional e possuidora de extrema fragilidade acadêmica. Ao grande pensador só restava então escrever e ser militante, para que a sociedade fosse modificada pelos homens e suportar os adjetivos referentes à sua personalidade tais como: “solitário, isolado dos semelhantes, agressivo, arrogante e autoritário”.
Essas acusações não correspondem a nenhuma fase de sua vida na verdade Marx e sua esposa Jenny conheceram-se na adolescência e foram profundamente apaixonados, apesar da vida difícil que enfrentaram junto, como relatado está nas cartas escritas pela família Marx e em particular naquelas que Jenny, de forma realista e impressionante, narra à Kugelmann a situação familiar.
Na biografia de Marx publicada pelo Instituto de marxismo – leninismo da União soviética há uma passagem em torno da vida familiar de Marx em que sua filha mais nova Eleanor, ao escrever suas recordações, comenta que pouco antes da morte de sua mãe, presencia uma relação de carinho e amor existente entre seus pais que desqualifica qualquer tentativa de colocá-los ( a família Marx ) como destruidores da relação humana ou querer colocar Jenny mãe como objeto dos desejos machistas por parte de Marx:

Nunca esquecerei a manhã em que ele se sentiu suficientemente forte para ir ao quarto da mamã. Rejuvenesceram ambos: era uma jovem amante e um jovem apaixonado que entravam juntos na vida e não um velho arruinado pela doença e uma velha moribunda despedindo-se definitivamente um do outro .



Paul Lafargue no texto, “Reminiscências de Marx”, se torna mais um destemunho desse fato, pois descreve a relação de Karl Marx para com os filhos:

Ele era um pai amoroso, meigo e indulgente. “Os filhos deviam educar os pais”, costumava dizer. Nunca houve um traço de pai mandão em suas relações com as filhas, cujo amor por ele era extraordinário. Nunca lhes dava ordens, mas pedia-lhes que fizessem o que desejava como um favor, ou fazia-as sentir não deverem fazer aquilo que queria proibir-lhes de fazer. No entanto, difìcilmente algum pai poderia ter filhos mais dóceis do que ele. Suas filhas consideravam-no um amigo e tratavam-no como companheiro; não o chamavam “pai”, mas “Mohr” [Mouro] – um apelido (...) que ele devia à sua tez morena e aos cabelos e barba pretos como azeviche (...)
Marx costumava passar horas brincando com as filhas. Estas ainda se lembram das batalhas navais em uma grande bacia cheia de água e da queima de esquadras de barcos de papel que ele fazia para elas e depois incendiava para grande alegria de tôdas.
Aos domingos, as filhas não o deixavam trabalhar: ele lhes pertencia o dia inteiro. Se o tempo estava bom, a família inteira saía para dar um passeio pelo campo. No caminho, paravam em uma modesta estalagem para comer pão com queijo e tomar um refresco. Quando as filhas eram pequenas, ele fazia a longa caminhada parecer menor, contando-lhes intermináveis estórias fantásticas que ia inventando (...).


As descrições de Marx apresentadas por Paul Lafargue, colocam-no como pai exemplar, apesar de todas as situações pelas quais ele e sua família passaram. A paixão por sua prole foi sempre procurada e cantada junto aos versos do dramaturgo inglés Shakespeare e nas brincadeiras conduzia suas filhas para excitantes contos criativos capazes de passarem horas exercitando a imaginação, sempre procurando desmistificar o real por meio da busca na verdade.
Segundo sua filha mais nova Eleanor de apelido “Tussy” que assumiu o papel de secretária e confidente de suas idéias e ações políticas, após o casamento de Jenny, as atitudes de Marx no convívio familiar são assim descritas:

Em sua vida doméstica, assim como em colóquios com amigos, e até com meros conhecidos, creio poder-se dizer que as principais características de Karl Marx eram seu ilimitado bom humor e sua irrestrita compaixão. Sua delicadeza e paciência eram realmente sublimes ( ...)
Era em suas relações com os filhos, porém, que Marx talvez fosse mais fascinante. Por certo, nunca crianças tiveram um companheiro de brincadeiras mais encantador. Minha mais remota lembrança dele é de quando eu tinha cerca de três anos, e “Mohr” ( o velho apelido de casa escapou-me ) me levava nos ombros em volta do nosso pequeno jardim em Grafton Terrace, pondo flores “campainha” nos meus cachos castanhos. “Mohr” era reconhecidamente um cavalo esplêndido. Antes disso – não me lembro, mas ouvi contar – minhas irmãs e o irmãozinho – cuja morte logo após meu
nascimento foi uma dor que afligiu meus pais a vida inteira – “atrelavam “Mohr” a cadeiras, em que eles montavam e ele tinha de puxar ... Pessoalmente – talvez por não ter irmãs de minha idade – eu preferia “Mohr” como cavalo de sela. Sentada em seus ombros, agarrando-me a sua vasta cabeleira então negra, mas com um salpico grisalho, dei magníficos passeios em nosso jardinzinho e pelos campos – agora cheios de prédios – que rodeavam nossa casa em Grafton Terrace.


Para Eleanor (Tussy) seu pai é um indivíduo extremamente amoroso e um particular amigo, passando a ser sua companheira de viagens em suas atividades profissionais, acompanhando de perto seu tratamento pulmonar, como também, do fígado e do tumor na axila do braço esquerdo e os inconvenientes furúnculos na região das nádegas que a tempos vinham afetando o querido Mouro. Com hábitos não muito sadios, Marx adorava um puro de Havana e cigarro se deliciava com um bom pescado e comidas fortes curtidas em vinagre e azeite. Uma vida que sempre trilhou a miséria, não podendo muitas vezes comprar papel para seus escritos, pagar os médicos para sua família ou o mais trágico, não poder sair de casa, pois suas roupas para enfrentar o frio estavam no penhor e tendo de alimentar-se com batata e pão.
Nessa fase aguda de miséria, no ano de 1849, nasce seu filho Heinrich Guido que viria a falecer com um ano de vida em virtude de uma congestão pulmonar. De sua outra filha, Franzisca que nasceu em 28 de Março de 1851 e morreu em 14 de Abril de 1852, Jenny Marx em uma de suas cartas faz o seguinte comentário:

(...) se nos enfermó la pobrecilla Francisca de una aguda bronquitis. Tres días estuvo luchando la pobre criatura entre la vida y la muerte. Sofrió mucho. Su cuerpecito inanimado yacía en el cuartito trasero; los demás nos pasamos todos juntos al de alante; y al caer la noche nos acostamos sobre el suelo. Allí estaban, con nosotros, los tres niños que aún nos vivían, y todos llorando al angelito, cuyo cuerpo frío yacía allí al lado. Su muerte ocorrió por los días en que mayor era nuestra pobreza. Corri a casa de un emigrado francés, que vivía cerca de nosotros y que nos visitara días antes. Me acogió con gran cariño y me dio dos libras esterlinas. Con ellas compramos la cajita en que mi pobre niña reposa en el cementerio. La pobrecita se encontró sin cuna al nacer, y estuvo a punto, de serle negado también el último refugio.


E para finalizar, seu único filho Edgar chamado carinhosamente de Musch, (Mosca) já com 8 anos morre em 6 de Abril de 1855 nos braços de Marx. Entretanto, apesar da vida extremamente difícil da família Marx, em carta de 11 de fevereiro de 1869 seu patriarca comenta para com Kugelmann:

Soy abuelo desde el primero de enero, a little boy [Charles Étienne Lafargue] [un varoncito] fue el regalo que recibí para el año nuevo. Lafargue logró que lo exoneraran de tres exámenes, de modo que le quedan dos por pasar en Francia.

Mas esse neto de Marx morreu de cólera com 4 anos de idade, o desespero de Laura e Lafargue que iria se formar em medicina ( como expresso na citação acima, buscando eliminar os exames de medicina que foram cursados na Inglaterra junto à universidade na França). Foi angustiante não poder salvar seu filho. Esse é um momento que vai marcar profundamente a vida dos Lafargues, pois outros dois filhos também acabam falecendo.
Em 1874, morre outro neto de Marx, filho de Janny Longuet. Isso entristece a Mouro que sofre, mas procura consolar sua filha, dizendo:

O meu coração sangra quando penso nele. Como se pode esquecer um pequenito tão doce, tão adorável! Mas espero, minha filhinha, que permaneças forte por amor a teu pai.


Por que a historiografia oficial e setores do pensamento acadêmico se tornaram tão intolerantes e críticos a Marx? Não bastava a perseguição que este sofreu dos estados por onde passou quando estava vivo? Depois de morto, Marx continua vilipendiado. Ele cometeu um equivoco, quando disse que o problema não está com os mortos, mas sim com os vivos. Essa afirmação só não se enquadra no próprio Marx, pois o mesmo hoje é o ser humano morto mais odiado e questionado da história do pensamento econômico, social e político da humanidade.
Em primeiro lugar, Marx como todo intelectual de expressão da época, mantinha um linguagem escrita tremendamente irônica. Ele se empenhava para que os fatos fossem trabalhados por meio da verdade e de racionalizações através da essência, buscando resolver os problemas da existência humana.
Em segundo lugar, os erros cometidos nos países “considerados socialistas” e a crise do capital que os acabou afetando, trouxeram uma atmosfera de derrota para todos que acreditavam no socialismo por ser exótico e estar na moda. Esse processo caracterizado como excesso de marxistas e poucos marxianos, configura perante a mídia e aos menos esclarecidos uma derrota que vai ser sentida na configuração ideológica dos indivíduos, quando num dado momento ser comunista e marxista significa um atraso e grande parte pulam para o existencialismo.
Os fatos mencionados nos obrigam a sermos mais audazes e finalizarmos a nossa descrição sobre Marx em dois momentos diferentes. O primeiro, com um dos textos mais importantes para os comunistas, um trecho do discurso de Engels nos funerais de Marx em 22 de março de 1883, em que seu fiel amigo faz uma declaração da grandeza ao maior ser humano do século:


El 14 de marzo, a las tres menos cuarto de la tarde, dejó de pensar el más grande pensador de nuestros días ( ...) Marx era el hombre más odiado y más calumniado de su tiempo. Los gobiernos, tanto los absolutistas como los republicanos, le expulsaban.
Los burgueses lo mismo los conservadores, que los ultrademócratas, competían en lanzar difamaciones contra él. .


O segundo, uma literatura do próprio Marx ,ele demonstra seu enorme amor para com sua esposa, passagem esta expressa em uma carta escrita em 1856. Com 38 anos era um marido e pai apaixonado pela família e esposa, apesar de sua referência cotidiana de vida parecer estar muito mais limitada a uma parcela da intelectualidade da época e envolvido na militância do movimento mundial da classe trabalhadora, foi sempre admirado como intelectual e homem. Vejamos:

“Desde que estás ausente, mi amor por ti se me presenta como lo que es: un gigante en el cual se agolpa toda la energía de mi espíritu, todo cuanto alberga mi corazón. Me siento hombre otra vez, embargado por una gran pasión (...) Hay, en efecto, muchas mujeres en el mundo, y algunas de ellas son hermosas. Pero, ? dónde hallaré otro rostro en el que cada rasgo, incluso cada arruga, evoque los recuerdos más dulces de mi vida? En tu semblante sereno leo hasta mis dolores infinitos, mis pérdidas irreparables, y besando tu amado rostro olvido los sufrimientos “ .




A SITUAÇÃO DAS CRIANÇAS RETRATADAS NAS OBRAS DO MOURO

O Capital

No seu livro “O Capital”, Karl Marx apresenta uma análise sobre a exploração do trabalho humano, afirmando que certos ramos de produção onde não se opõe ainda ou até recentemente não se opunha nenhum limite à exploração da força de trabalho. Em comentários de uma reportagem do jornal “Daily Telegraph”, Marx destaca os seguintes dados:

O juiz do condado Broughton (...) declarou que naquela parte da população, empregada nas fábricas de renda da cidade, reinavam sofrimentos e privações em grau desconhecido no resto do mundo civilizado (...) Às 2, 3 e 4 horas da manhã, as crianças de 9 e 10 anos são arrancadas de camas imundas e obrigadas a trabalhar até as 10, 11 ou 12 horas da noite, para ganhar o indispensável à mera subsistência. Com isso, seus membros definham, sua estatura se atrofia, suas faces se tornam lívidas, seu ser mergulha num torpor pétreo, horripilante de se contemplar (...) “


Baseado em inquéritos que apuravam o trabalho escravo de crianças e adolescentes em uma fabrica de cerâmica, Marx recolhe alguns depoimentos dessas crianças:

“Wilhelm Wood, um garoto de 9 anos, tinha 7 anos e 10 meses de idade, quando começou a trabalhar”(...) Chega, todo dia da semana, as 6 horas da manhã e acaba sua jornada por volta de 9 horas da noite (...)
J.Murray, um menino de 12 anos, depõe: (...) Chego ao trabalho às 6 horas da manhã, às vezes às 4. Trabalhei toda a noite passada, indo até às 6 horas da manhã. Não durmo desde a noite passada. Havia ainda 8 ou 9 garotos que trabalharam durante toda a noite passada. Todos menos um voltaram esta manhã. Recebo por semana 3 xelins e 6 pence. Nada recebo a mais por trabalhar toda a noite.


Esses depoimentos demonstram as condições trágicas do trabalho infantil em uma Inglaterra que estava a todo vapor ampliando e otimizando ao máximo suas forças produtivas, para poder desenvolver suas relações de produção. Foi nesse quadro de horrores que a degeneração da classe trabalhadora começa ser objeto de denúncia por parte dos médicos. Segundo Marx, o Dr.Boothroyd da clínica em Hanley e Dr. McBean afirmam respectivamente:

“Cada nova geração de trabalhadores de cerâmica é mais raquítica e mais fraca que a anterior”.
“Desde que iniciei minha clínica há 25 anos entre os trabalhadores de cerâmica, tenho observado sua pronunciada degeneração progressiva pela diminuição da estatura e do peso”

Como investigador que soube como ninguém tratar os dados empíricos em sua dimensão histórica, dando a eles o peso exato de sua referência ontológica, Marx demonstra uma sensibilidade na escolha e seleção dos dados que necessita para justificar seus pressupostos. Uma das descrições mais impressionantes da qual se utiliza é a do relatório da Comissão de 1863 do Dr. J.T. Arledge, diretor do hospital de North Staffordshire:

“Como classe, os trabalhadores de cerâmica, homens e mulheres,... representam uma população física e moralmente degenerada. São em regra franzinos, de má construção física e freqüentemente têm o tórax deformado. Envelhecem prematuramente e vivem pouco, fleumáticos e anêmicos, patenteiam a fraqueza de sua constituição através de contínuos ataques de dispepsia, perturbações hepáticas e renais e reumatismo ... A degenerescência da população deste distrito não é maior exclusivamente porque ocorre o recrutamento de pessoas das zonas adjacentes, além do casamento com outros tipos raciais mais sadios” .


Marx comenta de uma fabrica de fósforos, onde as condições de trabalho eram extremamente insalubres e metade de seus trabalhadores eram meninos com menos de 13 anos que trabalham entre 12,14 e 15 horas por dia, inclusive com trabalho noturno e refeições irregulares no próprio local de trabalho.
Em um depoimento feito pelos empregados de uma fabrica, Marx seleciona as seguintes falas:

“No inverno passado(1862), entre 19 moças não compareceram 6 em virtude de doenças causadas por excesso de trabalho. Tinha de gritar para elas a fim de mantê-las acordadas”. W.Duffy: “Às vezes, os garotos não podiam abrir os olhos de cansaço e o mesmo sucedia conosco. J. Lightbourne: “Tenho 13 anos de idade ... no último inverno trabalhávamos até as 9 horas da noite e no inverno anterior até as 10. No inverno passado, meus pés feridos doíam tanto, que eu gritava todas as noites. G. Apsden: “Este meu filho quando tinha 7 anos de idade, eu o carregava nas costas através da neve, na ida e na volta, e ele trabalhava 16 horas ... Muitas vezes ajoelhei-me para lhe dar comida, enquanto ele estava junto à máquina, pois não devia abandona-la nem deixa-la parar .


Marx procura mostrar o processo de adulteração que as mercadorias sofrem no processo de produção capitalista, pois para ele a falsificação de produtos alimentares demonstra que a realidade se transforma em mera aparência, de acordo com o que se constata via relatórios dos inspetores do Estado Inglês, segundo os quais a população:

... está condenado a comer o pão com o suor de seu rosto, mas não sabia que tinha de comer diariamente, com o pão, certa quantidade de suor humano misturado com supurações de abscessos, teias de aranha, baratas mortas e fermento podre alemão, além de alúmen, saibro e outros ingredientes minerais agradáveis


Segundo Marx, os que vendem mais barato, assim o conseguem em virtude dos produtos falsificados como forma de ampliar seus lucros. Nesse sentido, o capitalismo para produzir “riqueza,” utiliza de todos os métodos reservados para aqueles que podem consumir, independente da qualidade dos produtos por ela produzidos.
Portanto, a morte pode vir pela exagerada quantidade de comida que alguns acabam ingerindo, pela falta de comida, por aquilo que se come ou por trabalho em excesso, como assim continua Marx:

Moças que trabalham ininterruptamente 16 horas, durante a temporada às vezes 30 horas consecutivas, sendo reanimadas, quando fraquejam, por meio de xerez, vinho do porto ou café.
“Mary Anne Walkley morreu por ter trabalhado em excesso ...

Marx utiliza-se da citação de um médico que afirma. “A palavra de ordem é trabalhar até morrer não só nas oficinas das modistas, mas em milhares de outros lugares onde se desenvolvem as atividades ...
O processo de trabalho imposto pelo desenvolvimento capitalista demonstra que essas atividades estão contidas no interior da sociedade burguesa como assim foi exposto por Marx , quando ao tentar sinalizar essas idéias afirma no Manifesto Comunista:

As declamações burguesas sobre a família e a educação sobrem os doces laços que unem a criança aos pais, tornam-se cada vez mais repugnantes à medida que a grande industria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho .

Para finalizar essa breve síntese, sobre como Marx tratava as questões relativas ao trabalho infantil em alguns dos seus escritos, transcrevemos uma parte da entrevista feita ao jornal “Chicago Tribune,” em dezembro de 1878, em que defende:

Jornada de trabalho correspondente às necessidades sociais. Proibição do trabalho aos domingos.
Interdição do trabalho das crianças, bem como do trabalho cuja natureza prejudique à saúde e seja ofensivo à moral da mulher .


CONCLUSÃO

“SU NOMBRE VIVIRÁ A TRAVÉS DE LOS SIGLOS,Y COM ÉL SU OBRA”


Sabiamente, Friedrich Engels pronunciou essas palavras no funeral de karl Marx em 17 de março de 1883, no cemitério de Highgate em Londres. Na verdade, as aguçadas observações teóricas de Marx estão mais atuais do que nunca – sua obra permanece sendo objeto de debates, seminários, estudos em geral junto a centros sindicais, universidades, partidos políticos e intelectuais que buscam manter vivo o pensamento marxiano como ocorre com o chamado “Espaço Marx” – nome que se tornou o principal parceiro dos críticos do sistema capitalista, pois foi o filosofo que criou as bases teóricas para sua própria destruição.
Nada nos coloca tão próximos de uma realidade, já sinalizada onde a barbárie capitalista está mais explicita e poucos foram tão felizes teoricamente em suas investigações como Marx, demonstrando que o capitalismo em toda a sua existência para manter sua plenitude “vampiresca”, necessita exercitar o uso da violência e da exploração do trabalho infantil.
Na América Latina, segundo a especificidade e a particularidade de cada nação, o desenvolvimento capitalista apresenta desenvolvimentos desiguais, porém combinados em sua universalidade, onde o capital determina os avanços de cada país dentro de uma configuração histórica. Entender a dinâmica do capital em cada um deles é compreender o processo de como se configura a sociedade contemporânea.
Por isso, os dados apresentados pela Organização Internacional do Trabalho – OIT - retratam uma realidade dificílima para as crianças. Os números chegam à cifra de 300 milhões de trabalhadores infantis no mundo.
Na América Latina, segundo dados da UNICEF, existem 90 milhões de crianças pobres que potencialmente estão em estado de risco, ou seja, direta ou indiretamente atreladas a alguma forma de trabalho para poder sobreviver, como assim comenta Marcelo Novello em seu artigo pela Internet:

... Pero la lógica del capital sigue aún vigente, porque los niños son fuente de enormes beneficios para os capitalistas, no sólo por ser superexplotados en función laboral, sino también por el negocio del ‘comercio sexual’ ( prostitución), o a través del tráfico de menores. Todas estas ‘actividades’ son organizadas por grandes corporaciones multinacionales (líneas aéreas y turismo, entre otras), que cuentan com la complicidad de los funcionarios estatales. En países como República Dominicana la prostitución infantil se convirtió en un “Factor macro económico” que permite “equilibrar la balanza de pagos” y así pagarle la deuda externa al capital financeiro internacional .


No Brasil, são 7 milhões de crianças que estão empregadas em atividades de alto risco, entre as quais podemos destacar os cortadores de cana, carvoeiros, prostituição, industria de sapatos e distribuidores de drogas. Essas crianças como filhos do capital, se tornam os seres mais vulneráveis da sociedade, sofrendo de imediato com a ampliação da mais – valia, que apela para a barbárie em dimensões equivalentes às ocorridas no século XVIII.
A corrida pela restauração do capital em sua dimensão clássica, tanto no terceiro mundo como nos chamados países “socialistas”, provocaram um crescimento profundo quantitativo e qualitativo da miséria e pobreza. O aumento de crianças abandonadas e meninos de rua se generalizou pelo mundo, aliado ao crescimento do desemprego, ou seja, a crise da sociedade contemporânea.
As crianças foram transformadas em simples mercadorias a serem comercializadas, transformando-se em um dos principais rendimentos deste século. Os Estados nacionais organizam, congressos, simpósios e encontros alegando a defesa dos direitos das crianças, propondo simplificar suas leis( códigos, estatutos e portarias ) no campo da adoção de crianças, com o objetivo de que a livre circulação da mercadoria( criança ) ocorra.
A maioria dos países da América Latina possuem uma elevada taxa de crescimento demográfico acompanhado de uma multiplicação da miséria e pobreza. Campo propício para que ocorra a comercialização de uma futura mão-de-obra por países em que o crescimento demográfico está aquém de suas necessidades, por isso a existência de uma rede de agencias de adoções estrangeiras nesses países. O tráfico de crianças possui uma abrangência junto aos órgãos do estado e entidades públicas e privadas de atendimento social. Segundo novamente, Marcelo Novello, afirma:

Outra manifestación de la catástrofe que implica la restauración capitalista, es el creciente aumento del tráfico de menores ( tanto legal como ilegal ). A partir de 1990 se registra un verdadero ‘boom’ capitalizado por auténticas mafias, que trafican menores desde los ‘países del Este’( principalmente Rumania y Rusia ) hacia el ‘Primer Mundo’. Existe inclusive todo un ‘mercado’ capitalista que tiene sus ‘preferencias’ reguladas por la ‘oferta y demanda’ de menores recién nacidos, de sexo femenino y tez blanca, que se cotiza en miles de dólares. El ‘negocio’ es tan generalizado y jugoso que muchos Estados, por ejemplo Brasil, hicieron cambios en la ‘regulación’ del sistema legal de adopciones .



O Capital transforma o ser humano em mercadoria podendo utiliza-lo conforme oscilam seus interesses, reprimindo e criando os estados de exceção via seqüestro, tortura e eliminação física ou criando leis e estruturas de confinamento tidas como de proteção à criança e adolescente. Aparecem as chamadas “casas de engorda ” que hoje se multiplicam na América latina.
A situação das crianças de hoje se equipara com a das crianças da Inglaterra do séc. XVII e XVIII. Karl Marx foi um pensador que caminhava com e na frente da história, desenvolvendo uma capacidade de análise só permitida a muitos poucos gênios da época e preocupado com o ser humano em sua dimensão ontológica, defendia o homem desde seu nascimento até a morte.
Marx mostrou à humanidade que inexiste nas relações capitalistas, qualquer vinculo humanitário e social a não ser o interesse em tornar o cidadão em instrumento capaz de aumentar a mais – valia do capital.
A vida de Marx, pai e família revelam uma infinita sensibilidade humana deste para com os seus e a humanidade. Sempre lutou por uma sociedade materialmente igual para todos, acompanhada de um crescimento da racionalidade humana. Podemos afirmar, sem medo de errar que Marx desmistificou as relações capitalistas e sinalizou que a pobreza por ela criada, acabou sendo ignorada pelo próprio capitalismo ou dada para as entidades sociais para desenvolverem a caridade. Nesse sentido, Marx demonstrou que a miséria e pobreza só teriam solução fora das relações capitalistas.

BIBLIOGRAFIA
ARMAS PONSECA, PAQUITA. Moro: el gran aguafiestas. Havana: Editorial Pablo de la Torriente, 1989.
BIOGRAFIA DE KARL MARX. Instituto de Marxismo-Leninismo. Lisboa: Editora Progresso, 1983.
FONER, S. PHILIP. Cuando Carlos Marx murió ( comentarios de 1883 ). Havana: Editorial de ciencias sociales, 1984.
FROMM, ERICH. Conceito marxista do homem. Rio de janeiro: Zahar editores, 1962

GEMKOW, HEINRICH. Sus vidas. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 1990.

KONDER, LEANDRO. Marx – vida e obra. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1981.

LAFARGUE, Paul. O direito à preguiça e outros textos. Lisboa: Editorial Estampa, 1977.

LEFEBVRE, HENRI. Para compreender o pensamento de karl Marx. Lisboa: Livraria Editora Pax, limitada, 1981.

.MARX, K. O Capital-crítica da economia política, livro1 - O processo de produção do capital. Volume II. São Paulo: Editora Bertrand Brasil-Difel, 1987.

.MARX, K e ENGELS, F. Obras Escolhidas. Volume 1. São Paulo: Editora Alfa- Omega, s/d.
.__________________.A Ideologia Alemã I. Portugal: Editorial Presença, 1976.

___________________ Cartas a Kugelmann. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 1975.

___________________ O capital-crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1982.

___________________ Manifesto do partido comunista. São Paulo: Global editora, 1987


.

NOVA ESCRITA ENSAIO. Marx Hoje. São Paulo: Editora Escrita, 1983.

NOVELLO, MARCELO. El capital tampoco sabe de niñez. http://po.org.ar/po/po393/e12.ntm

PLEBE, ARMANDO. Karl Marx: un ensayo de biografia intelectual. Barcelona: Editorial Hispano Europea, 1973.

Nenhum comentário: