terça-feira, 23 de junho de 2009

OS CRIADORES CRIARAM A CRIATURA

OS CRIADORES CRIARAM A CRIATURA


- A criação da Embratur -

“Também dentro do país, apesar do terror que implantou, a ditadura veio sendo denunciada cada vez mais amplamente. A princípio, o ditador e seus cúmplices tentaram negar seus crimes. Diziam:” No Brasil não há torturas. Não há nem mesmo presos políticos.”“.
(...) Gastaram enormes somas de dinheiro para subornar jornais, revistas e jornalistas corruptos, aqui e no exterior. Tudo para melhorar a “imagem” do regime.
(Livro Negro da Ditadura Militar. Editora Libertação)



O presente artigo tem por objetivo responder aos apontamentos inteligentes e assertivos feitos por Joandre Antonio Ferraz em seu comentário: A criação da Embratur. Bem como, pretende manter um dialogo respeitoso e democrático de pontos de vista ideológicos diferentes, pois o articulista em questão, necessita saber que todo discurso é ideológico, inclusive o de vossa senhoria.
Como diz o filosofo húngaro George Lúkács não há ideologia inocente, sugiro para quem deseja dominar o assunto o livro do referido autor “Existencialismo ou Marxismo?” ou ainda os estudos da encantadora e brilhante filosofa brasileira Marilena Chauí.
Com referencia ao Decreto-lei n.55 de 1966, com o devido respeito devo concordar com o articulista, pois o mesmo, não menciona a divulgação do país no exterior. Como também, os Atos Institucionais formulados pela ditadura militar não mencionavam sobre a tortura em sua redação lingüística. Porém como afirma o escritor Elio Gaspari em seu livro: “A Ditadura Escancarada”, a mesma se constitui na marca da ditadura militar:

“Os oficiais-generais que ordenaram, estimularam e defenderam a tortura levaram as Forças Armadas ao maior desastre de sua história. A tortura torno-se matéria de ensino e prática rotineira dentro da máquina militar de repressão política da ditadura ...”•

A leitura dos fatos deve feita dentro de uma perspectiva histórica e não linear como é próprio do pensamento positivista e existencialista, pois é no desenrolar desse processo que entendemos a realidade concreta. Por de traz das leis, decretos e escritos e da fala dos homens, há toda uma produção social que foi construída, e se não for captada, acaba ocultando a riqueza dialética dos homens. Isso nós leva a concluir que a realidade é mais rica que os conceitos e, portanto, impossível de ser rotulada como uma definição dentro de uma única episteme.
O decreto de criação da Embratur é evidente que busca dar ao país uma organização instrumental para a administração do turismo, como na verdade deu, porém com já afirmei em meu artigo sobre a Embratur. Essa entidade foi pensada e usada pelo aparelho de Estado para veicular a visão oficial idílica e ufanista do Brasil. Hoje retoma essa função de forma mais radical, pensando prioritariamente em termos do turismo receptivo acoplado idéia de Convention Bureau. Esclareço a vossa senhoria que os estudos que venho desenvolvendo há anos indicam que o uso da Embratur pelos militares foi intencional, abusiva e completamente maléfica para o trade nacional. O exemplo disso que afirmo é o apelo que a Embratur imprimiu às propagandas veiculadas no exterior em todos esses anos, por meio de um marketing baseado no erotismo da mulher brasileira, mar e sol um verdadeiro paraíso que tudo é possível.
Criticamos erros, mas também, como vossa senhoria deve ter percebido faço questionamentos à transformação da Embratur em um imenso Convention Bureau e a irresponsabilidade que a atual administração da entidade esta ocorrendo ao estimular de forma indiscriminada a criação de conventions em todo território nacional.
Reafirmo a vossa senhoria com o respeito que tenho ao próximo, que afirmações de que minha fala é ideológica ou que o discurso de vossa senhoria é supra-ideológico e apolítico, carece de base cientifica e sacode as ciências sociais em sua base epistemológica. Não existe atitude ou ato apolítico, bem como, a fala dos homens é ideológica, pois somos animais sociais que se explicam em razão da categoria trabalho, isto é, produto da ação de outros homens.
Com todo respeito, afirmo que a Embratur do passado me traz nostalgias pelo que fez, porém, também alguns pesadelos que me despertam na madrugada, principalmente quando me retorna a idéia que seu anterior presidente declarou ser contra a nossa regulamentação profissional. Fato que retrocedeu politicamente a luta da categoria na construção do seu sindicato e enfraqueceu a politização dos turismólogos, permitindo que o Instituto de Hospitalidade sinaliza-se em querer nós certificar.
Espero que esse diálogo aprofunde a discussão do fenômeno do turismo e de fato traga o respeito a novos perfiz epistemológicos e que seja visto como importante para entendimento da historia do turismo e não classificado como erroneamente ideológico ou meramente discursivo.
Todos querem o desenvolvimento do turismo brasileiro, inclusive vossa senhoria pelo trabalho orientador e jurídico que sempre desempenhou quando esteve trabalhando na Embratur, demonstrando ética e defesa dos turismólogos na sua luta pela a regulamentação profissional.
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Cordialmente,
João dos Santos Filho

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