domingo, 21 de junho de 2009

DICAS NECESSÁRIAS PARA FAZER TURISMO NO BRASIL: “AVENTURA BRASILIS”

DICAS NECESSÁRIAS PARA FAZER TURISMO NO BRASIL: “AVENTURA BRASILIS”

João dos Santos Filho

Cansado de produzir textos científicos sobre o fenômeno do turismo, resolvemos escrever este de gênero provocativo e irreverente. Percebemos existir outros estilos de comunicar-se com aqueles que acompanham nossos textos, bem como, para os que rejeitam nossas opiniões. Esperamos assim, estar contribuindo para que o trade melhore seu entendimento e aprofunde seu senso crítico sobre o significado de uma verdadeira “Política Nacional de Turismo” – Homo Turisticus Brasilis –.
Apesar do tom galhofista do nosso discurso, nada nós impede de trazer uma contribuição para o turismo brasileiro e expressar opiniões diferentes das tradicionais, subvertendo a ordem do pensamento de parte do trade sobre a compreensão do turismo. Esclarecemos, que como estudioso e pesquisador do fenômeno turístico, nosso interesse está localizado na criação de Políticas Públicas que subsidiem o turismo interno junto à população brasileira.
A escrita irreverente deve ser encarada de frente, como um alerta para a hegemonia que hoje o Estado brasileiro dá ao turismo receptivo (estrangeiro), e a pouca ao quase nenhuma ação eficaz voltada para o turismo interno. Devo esclarecer que os programas e ações em torno do turismo, desde a criação da EMBRATUR foram em sua maioria voltadas para o turismo receptivo.
Em um pequeno resgate da ação de cada gestão dos presidentes da EMBRATUR, contada no livro “EMBRATUR40ANOS” publicado em 2006, podemos entender que a prioridade sempre foi e continua sendo para o turismo receptivo.
Em 1967, a Ditadura Militar estimulava o turismo em um discurso que afirmava ser o mesmo “indústria básica”, constituindo uma atividade de interesse nacional, pois o aumento da entrada de turistas estrangeiros no país seria ativado pela simples criação da EMBRATUR, como podemos perceber na citação abaixo:

a) o turismo externo pode representar para o Brasil um saldo de divisas capaz de equilibrar o balanço de pagamentos no capítulo correspondente a viagens e turismo;
b) em conseqüência, a receita anual de 120 milhões de dólares como primeira meta exigirá uma expansão de oferta de alojamento e uma reestruturação dos serviços de promoção, a fim de trazer anualmente 500 a 600 mil turistas do exterior, mais que triplicando o atual fluxo de visitantes (DA SILVEIRA, s.d, p. 32).

Este foi um período conduzido por constante ufanismo, orquestrado pelos militares, que buscam conectar o turismo aos ideais da chamada “revolução” golpista de 64 na qual o Estado começa a tomar medidas para a criação de uma infra-estrutura pensada em facilitar a vinda de turistas estrangeiros. As iniciativas foram propostas pelo diretor da poderosa Associação Comercial do Rio de Janeiro – ACRJ Joaquim Xavier da Silveira, indicado com apoio do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais - IPES para ser o primeiro presidente da EMBRATUR, isto é, homem de confiança dos militares e da classe dominante, é comentado o período de seu mandato como:

Realização, em 1967, do I Encontro Nacional de Turismo, com a participação de ministros, governadores, presidentes de entidades e empresas do setor;
Aprovação da construção de hotéis de padrão internacional em vários locais turístico do país, como Sheraton, no Rio de Janeiro, Tropical, em Manaus, e Hilton, São Paulo (EMBRATUR40ANOS, 2006, p. 38)


Como sabemos muitos desses empreendimentos hoteleiros colocaram cotas de ações a venda no mercado financeiro durante sua construção, permitindo que grande parte do dinheiro necessário para sua realização fosse arrecado no próprio mercado brasileiro. O que desmistifica parte da idéia de que cadeias internacionais trouxeram capital para o desenvolvimento da hotelaria brasileira, o que eles trouxeram na verdade foi à tecnologia de ponta de como administrar hotéis internacionais para o turismo receptivo.
Esse processo prossegue com a criação do Fundo Geral de Turismo - Fungetur em 1971 que propunha ser instrumento financiador voltado para pequenas e médias empresas no campo do turismo, mas que na prática serviu para o financiamento de hotéis cinco estrelas de redes internacionais. Os empresários nacionais tiveram dificuldades para requerer esses empréstimos, pois, poucos conseguiam atender a todos os requisitos exigidos para aprovação do cadastro.
Em 1972, o segundo Presidente da EMBRATUR Carlos Alberto Andrade Pinto, apesar da mídia e ações desenvolvidas sinalizarem uma vontade política voltada para o turismo interno, as suas realizações vieram premiar de forma inconteste o turismo receptivo. O Governo Militar utilizou do turismo para implementar seus ideais ufanistas de “projetos impactos”, quando para justificar a criação da rodovia Transamazônica, usa o marketing - TURISMO - FATOR DE INTEGRAÇÃO NACIONAL -.
Em 1973, o terceiro Presidente da EMBRATUR Paulo Manoel Protásio, mais um homem de confiança da poderosa Associação Comercial do Rio de Janeiro – ACRJ desenvolveu programas e ações no campo do marketing:

Prossegue o processo de estruturação da EMBRATUR, divulgação e promoção internacional do Brasil, além de projeção da imagem da empresa dentro do país. Atrair turistas estrangeiros e incentivar o turismo interno são algumas das prioridades, bem como a participação da EMBRATUR em eventos internacionais, a reorganização do setor hoteleiro e a ampliação do turismo cultural e de negócios (EMBRATUR40ANOS, 2006, p. 46).


Com a proposta ideológica da “segurança e desenvolvimento” buscou-se criar uma “vontade coletiva” para que o ufanismo de um Brasil Grande e cristão se tornasse a lógica da vontade popular. Músicas de motivação nacionalista, propagandas de conteúdo cívico e frases de crítica a todos que se opunham à Ditadura Militar como “Brasil ame-o ou deixo-o”.
Dentro desse processo surgiram programas também de intensa retórica nacionalista, mas que não deixaram de serem interessantes para despertar o turismo nacional, como: “Projeto Rotur, que consiste na produção de 20 mil fotogramas relativos aos principais atrativos turísticos do território nacional” (EMBRATUR40ANOS, 2006, p. 46). O qual não se conhece o destino desse material iconográfico.
Não podemos esquecer-nos do projeto Turis que foi lançado no auge da euforia da ideologia nacionalista, na qual foi contratada uma empresa italiana para fazer o levantamento da costa de Santos – Rio. Gastou dinheiro público para um estudo que careceu de uma série de análises sociológicas da cultura local, da floresta tropical e do ecossistema. Os dois projetos devem fazer parte do arquivo morto da EMBRATUR ou estar perdido em uma das gavetas empoeiradas de algum Ministério.
O quarto presidente da EMBRATUR é senhor Said Farhat, homem ligado aos meios de comunicação e propaganda foi convidado a servir o governo do presidente Ernesto Geisel pelo Ministro da Indústria e do Comércio, senador Severo Gomes. Segundo informações;

A EMBRATUR segue em seu processo de modernização, com investimento na estruturação interna e na criação de diretorias que irão permitir melhor planejamento de suas ações e atuação, por exemplo, junto às embaixadas do Brasil no exterior. É neste período que o trade nacional passa a comparecer sistematicamente a eventos fora do país. A EMBRATUR institui uma legislação turística específica e abrangente para que o setor possa atender às novas demandas de uma indústria em crescimento (EMBRATUR40ANOS, 2006, p. 50).

É nesse período, que a EMBRATUR via prefeituras iniciam um processo de construção de balneários destinados a classe média. Municípios aplicaram parte de seus recursos e por falta de um planejamento integrado com setores de infra-estrutura, os empreendimentos são abandonados e vendidos para a iniciativa privada.
O quinto presidente da EMBRATUR período de 1979 a 1984 o economista Miguel Colasuonno do grupo político de Paulo Maluf, segundo comentário da EMBRATUR:

Período caracteriza-se, principalmente, pela divulgação do Brasil no exterior por intermédio de programas de incentivo, além da dinamização e incremento da participação dos fundos de financiamento no setor turístico. Os recursos desses fundos são aplicados em programas de estimulo ao turismo interno. A EMBRATUR investe na sua informatização, aumentando a agilidade na obtenção de informações sobre os fluxos turísticos do país. O cálculo da receita turística é incluído na balança de pagamentos, o que faz o setor aparecer em sua real significativa contribuição.
• Investimentos para atrair turistas no exterior, com a implantação de escritórios nos Estados Unidos (Nova York), Alemanha (Frankfurt) e França (Paris)
• Criação do Programa Portões de Entrada do Nordeste, lançado nos Estados Unidos, Suíça e na Alemanha
• Criação de vôos charters a partir da Europa e Estados Unidos, com tarifas especiais para destinos brasileiros como Manaus, Belém, Fortaleza, Recife e Salvador
• Criação do programa Financiamento de Turistas para o Brasil, que financia viagens de estrangeiros com juros subsidiados
• Criação do bilhete Brazil Air Pass, que permite ao turista estrangeiro viajar por 21 dias (sem limite de quilometragem) em qualquer vôo doméstico (EMBRATUR40ANOS, 2006, p. 56)



Esse é um período voltado exclusivamente para o turismo receptivo, onde a divulgação da imagem do Brasil está a gosto de parte do trade, que apostava alto no turismo receptivo, por meio de uma folheteria que abusava das imagens de mulheres seminuas, período que acabou demarcando o Brasil como rota do turismo sexual.
Os objetivos foram promover a nação brasileira na América Latina, Estados Unidos e Europa, com a vinda de jornalistas e empresários que tivessem dispostos a divulgar o Brasil, independente do apelo publicitário que usassem.
O sexto presidente da EMBRATUR Hermógenes Teixeira Ladeira permaneceu no cargo por cem dias. O sétimo presidente da EMBRATUR Joaquim Affonso Mac Dowell leite de Castro deputado pela UDN e PMDB foi presidente da EMBRATUR entre 1985 a 1986, voltou sua administração para o turismo social, criando pacotes destinados à classe média, mas também investiu em campanhas de marketing tanto para o mercado interno e externo.
O oitavo presidente da EMBRATUR João Dória Junior esteve à frente dessa entidade de 1986 a 1988 criou o Passaporte Brasil, um projeto de promoção do Turismo internacional, que agregava uma série de pacotes turísticos organizados por operadoras nacionais e cria o dólar-turismo.
O nono presidente da EMBRATUR Pedro Grossi Júnior de 1988 a 1989 permaneceu um ano administrando as atividades deixadas por João Doria Junior.
O décimo presidente da EMBRATUR Ronaldo do Monte Rosa, volta à vontade política de organizar o turismo interno, mas como sempre não encontra eco junto ao trade.
O décimo primeiro presidente da EMBRATUR Lúcio Bello de Almeida Neves, de 1992 a 1993, a prioridade é a imagem exterior para estimular o fluxo de estrangeiros para o Brasil.
O décimo segundo presidente da EMBRATUR Flávio José de Almeida Coelho de 1994 a 1995 retoma a prioridade do turismo interno, com a organização burocrática e filosófica do turismo rural e de saúde.
O décimo terceiro presidente da EMBRATUR, Caio Luiz Cibella de Carvalho de 1995 a 2002 se caracterizou por período de intensa força de propaganda e publicidade em torno de sua imagem atrelado ao Programa Nacional de Municipalização – PNMT. Essa gestão de sete anos se pautou pelo processo irresponsável de emulação junto aos prefeitos municipais das cidades brasileiras que na esperança de conseguir os selos do PNMT-EMBRATUR que prometiam verbas para desenvolver o turismo em suas cidades. Submeteram a população local a participar de três cursos sobre o programa, que automaticamente lhe trariam recursos, que hoje sabemos nunca chegaram às prefeituras.
Lembramos que o dinheiro para os treinamentos acabaram sendo bancados pelos prefeitos, que ficaram também sem verbas para desenvolver os projetos que foram pensados pelos participantes que eram manipulados pelo método ZOOP, para se aprofundar no assunto recomendamos ler meus seguintes artigos:
• Carta Ao Excelentíssimo Presidente Da República: SOS Turismo/Turismólogo.
http://www.espacoacademico.com.br/018/18jsf.htm
http://www.espacoacademico.com.br/093/93jsf.htm

O décimo quarto presidente da EMBRATUR, Luiz Otávio Caldeira Paiva, permaneceu um ano a frente da entidade, incentivou o ecoturismo e realizou seminários e Fóruns Empresariais na Europa.
O décimo quinto presidente da EMBRATUR, Eduardo Sanovicz, transformou a entidade em um grande Convention Visitors Bureaux, pois conseguiu fazer com que os interesses privados subjugassem aos interesses coletivos. E castrasse de vez com o turismo interno, isto é, a estrutura burocrática do Estado brasileiro foi direcionada para o turismo receptivo.
O décimo sexto presidente da EMBRATUR, Jeanine Pires, uma funcionária de carreira que sabe administrar sem o ufanismo e empáfia dos que lhe antecederam.
Com esse breve comentário sobre os presidentes que responderam pela EMBRATUR. Se é que dá para comentar algo, pois alguns usaram da entidade (como casa de engorda. http://www.espacoacademico.com.br/080/80jsf.htm) para galgar cargos mais importantes tanto na área pública como privada, processo em que se caracteriza a falta de compromisso com Políticas Públicas em Turismo no Brasil.
Nesse sentido, podemos galhofar tanto com os problemas que o turista nacional e estrangeiro enfrenta para viajar pelo país, sugerimos que os mesmos montem um kit de viajem e conte com a sorte de todos os orixás;
1. O turista estrangeiro e classe média alta brasileira podem contar à sua disposição hotéis de rede internacional ou nacional despossuídos de qualquer característica da hospitalidade brasileira. Sugerimos que comprem antes de entrar no hotel; pé-de-moleque, cocada, bolo de milho, tapioca, curau, paçoca, quindim, pão de queijo, goiabada, doce de leite e queijo. Para não ser obrigado a consumir industrializados multinacionais.
2. Uma barraca de camping, independente de ir acampar, pois os vôos e conexões podem ser cancelados, atrasar horas ou até dias;
3. Não usar jóias verdadeiras, mas sim imitações artísticas da Rua 25 de março ou José Paulino;
4. Repelente contra a Dengue;
5. O jogo War Rio para poder saber como se afastar das áreas consideradas de risco “o famoso GPS do turista”;
6. Um colete a prova de balas, para evitar as balas perdidas, esse item é imprescindível dependendo da área para onde irá se deslocar;
7. Sendo bebedor de leite, trazer “longa vida” de seu país;
8. Trazer o cartão do seguro medico plastificado e pendurado no pescoço. Para evitar que num acidente, o turista seja levado para o atendimento de saúde público;
9. Ao sair para a rua não levar dinheiro, a não ser uma nota de cinqüenta reais no bolso, para o ladrão, segundo orientação do site do Ministério das Relações exteriores da França;
10. Evitar "parecer-se um turista". Não sair a passeio, vestindo roupas como "chapéu de caçador africano" ou camisetas gravadas "I love Brazil", “I love Rio” Aquelas que foram distribuídas pela EMBRATUR, não usar bolsas grandes e para as compras mais caras, utilizar o cartão de crédito;



Bibliografia

DA SILVEIRA, Joaquim Xavier. Turismo Prioridade Nacional. Rio de Janeiro: Record, s.d.

EMBRATUR, Ministério do Turismo. EMBRATUR40ANOS: Uma trajetória do turismo no Brasil. Brasília, 2006.

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