domingo, 21 de junho de 2009

A HISTÓRIA COMO TRAGÉDIA TORNA-SE UMA GRANDE COMÉDIA

A HISTÓRIA COMO TRAGÉDIA TORNA-SE UMA GRANDE COMÉDIA


João dos Santos Filho


Um dos maiores pensadores do século XIX das Ciências Sociais Karl Marx, em seu livro “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” afirma que a história pode se apresentar diante de nós como tragédia ou como comédia. Na verdade, esse velho pensador se torna novamente atual, em suas reflexões sobre a sociedade capitalista, como diria meu saudoso professor e amigo Florestan Fernandes: se pensarmos que Marx está superado, então devemos pensar que a mais-valia, a manipulação econômica, social e política do exército industrial de reserva, a concentração, a centralização do Capital, a dominação de classe e o lobby terminaram.
Obviamente, que esses processos estão cada vez mais ativos no interior da economia-política brasileira, a tragédia é o elemento clássico e permanente do seu cotidiano, combinado com o poder econômico aliado aos interesses de classe dos coronéis do compadrio. Essa é a característica hegemônica da política brasileira, que está expressa no seio do Congresso-Nacional, esses são os representantes do povo brasileiro; donos de canais de televisão e cadeias de rádios; todos poderosos possuem o poder para nomear, demitir ou torná-los capachos, alguns representantes do poder judiciário, legislativo e do próprio executivo, são proprietários de empresas prestadoras de serviços ao governo federal. Praticam o lobby em setores que seu partido ganhou da partilha política, em razão da coligação para o apoio ao governo Federal e manipulam as emendas parlamentares com interesse particular.
Com fórum privilegiado para responder por sua conduta perante a sociedade civil, muitos armam verdadeiras teias de relações de compadrio buscando favorecer a blindagem de auto-proteção como o caso vergonhoso do presidente do Congresso Nacional o senador Renan Calheiros. Em que, o Conselho de ética não consegue achar um relator, pois um sai por licença de saúde, outro desistiu por ser acusado de conseguir favores antigos do senador em questão e o último senador Leomar Quintanilha é acusado pelo Ministério Público de receber propina para a liberação de emendas parlamentares ao Orçamento da União em 1998, o alvo de investigação da Procuradoria são três emendas do senador, do ano de 1998, que somam R$ 280 mil. A acusação gerou dois inquéritos sigilosos no STF (Supremo Tribunal Federal). ( fonte: Folha online )
Além de trágico, indecente e imoral o fazer e militar (militância) na política brasileira mancha a vida pública de políticos comprometidos com a coletividade que é obrigada a travar constantemente uma batalha para desviarem do lobby, dos mimos, dos favores políticos e das tentações legais que podem vir a se constituir armas de suborno para a vida parlamentar, essa tragédia desenhada por essa acidez mordaz pode vir se constituir em uma grande comédia. Ela possui algo licencioso e sensual como as histórias de Giovanni Boccaccio, patético como graça infantil despolitizante de Didi Mocó e imbecil como seriado de Chaves.
A comédia política trouxe um desserviço à democracia brasileira com fatos caricatos, comportamentos de deboche, o mentideiro predileto da tagarelice da desordem pública. A imagem denunciou, o áudio comprometeu, a documentação falsa ou adulterada existiu, o flagrante do transporte de valores monetários pela cueca aconteceu, o empreendedorismo do político arrochado pecuarista que enriqueceu da noite para o dia transformou-se em premio nacional pelo SEBRAE.
Nada substitui a consciência política do povo brasileiro, hoje aditivada pelo processo de emulação e calejada pelos fatos que ocorrem no cenário da política nacional. O povo não é mais coadjuvante e sim ator principal do processo político brasileiro, por isso, a linguagem irracionalista, metafísica, idealista e existencialista só alimenta um rançoso e falido discurso conformista, mentiroso e fétido.
O sucesso das CPIs quando transmitidas pelos meios de comunicação revelam um alto índice de audiência, pois é lá que podemos conhecer, quem é quem, na política nacional. Presenciar aqueles senadores e deputados que se escondem em seus mantras jurídicos, viajam para não emitir opinião, fogem quando sentem a pressão popular, aumentam seus salários na calada da noite e não abrem mão dos foros privilegiados para a defesa de seus atos ilícitos.
Caro leitor, para que a nossa história não permaneça como comédia, defenda o direito à liberdade de expressão e opinião na democracia e não deixe que o patrulhamento fascista invada as relações humanas e que o pensar atrasado vença o novo. O discordar, o investigar, o fotografar, o gravar e o filmar deve ser entendido como necessário para o combate ao crime organizado que está instalada em todos os setores da sociedade brasileira.


BIBLIOGRAFIA

MARX, Karl. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. Portugal; Brasil. Presença; Martins Fontes, 1983.

FERNANDES, Florestan. Nós e o marxismo. In Cadernos Ensaio: Série Grande Formato. Marx Hoje. São Paulo: Editor Ensaio, 1987.

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