domingo, 21 de junho de 2009

CARTA A VOSSA EXCELÊNCIA MINISTRA DO TURISMO MARTA SUPLICY: SOS TURISMO

CARTA A VOSSA EXCELÊNCIA MINISTRA DO TURISMO MARTA SUPLICY: SOS TURISMO

João dos Santos Filho

Cara companheira Marta Suplicy, aprendi com nosso saudoso amigo e professor Florestan Fernandes que devemos cultivar as relações partidárias, explicitando a visão de mundo a qual acreditamos e desenvolvendo ações para que a mesma ocorra, esse é um ato de dignidade que reflete nosso grau de cidadania e participação política. Por isso, entendemos que devemos dizer claramente quem somos e como pensamos a sociedade e suas contradições.
Partindo desta premissa, tomamos a liberdade de expor as seguintes reflexões:
A história do turismo nacional nos mostra que essa atividade sempre foi uma preocupação constante que iniciou com a vinda da família real portuguesa e sua corte ao Brasil em 1808. Com eles vieram, a biblioteca nacional, a escola de medicina, a academia de armas, a reurbanização e embelezamento do Rio, a criação do Jardim botânico, os primeiros hotéis e estalagens, os teatros, o comércio de produtos europeus para atender uma elite nacional, portuguesa e cosmopolita.
Contribuindo para isso, a beleza natural do Rio que encanta a todo visitante (turista) junto ao sincretismo cultural que vai concretizando um modo de ser – brasileiro -. Não é por acaso que foi a Capital Federal até 21 de abril de 1961.
O Brasil ganha uma dimensão de nação em que a indústria aparece no cenário econômico e o Rio de Janeiro, cidade que sempre foi preparada para preservar sua beleza natural e abrigar sua identidade cosmopolita para o estrangeiro, foi a primeira unidade do território nacional a se preocupar com o turismo, a qual sempre esteve nos comentários dos estrangeiros, como escreve o cientista alemão Hermann Burmeister em 1853 em livro publicado sobre o Brasil:

Nunca empreendi excursões maiores nos arredores do Rio, pois exigem alguns dias e só podem ser feitas a cavalo, circunstância que, devido ao meu estado de saúde, se tornavam impossíveis para mim. Há, porém, muitos outros pontos interessantes, a maior ou menor tempo da cidade, os quais se recomendam especialmente aos turistas que, demorando-se pouco no Rio, desejam conhecer de perto a paisagem (sic) e a vida campestre do povo.

O Rio de Janeiro sempre despertou ao estrangeiro o gosto pelo belo, pela natureza, pelo místico, pelo mágico, pelo lúdico, pela praia e pelo sol. As descrições vão da declaração de amor a essa terra e seus habitantes, até o deboche crítico para se questionar a política do imperador:

Sabemos que nenhum país da terra foi mais ricamente abençoado pela natureza do que este Brasil, que se acha em cultura e desenvolvimento intelectual tão atrasado em relação aos países europeus; é deveras um paraíso, que a superstição vigia qual querubim com sua espada chamejante, de onde a árvore da ciência da história natural e universal, com seus dourados frutos de hespéridas, é enredada e quase sufocada pelas parasitas do fanatismo, do escravagismo e da ignorância.


Esse clima de amor a natureza e de apego a uma religiosidade amparada a saudades dos estrangeiros explicam para nós como essa religião se amparou na nostalgia existencial dos indivíduos representando o apego efetivo e direto da Igreja Católica nos negócios de Estado. Obviamente, o governo de Getúlio, necessitava do apoio da igreja para manter o processo político “revolucionário” e se firmar perante a massa de trabalhadores que seria a base da existência de seu governo, portanto, impõe uma organização da classe trabalhadora dentro dos limites da vida sindical segundo os interesses do Estado.
Em 12 de outubro de 1931, Getúlio que necessitava do apoio da Igreja, oferece dois grandes momentos a essa instituição; a inauguração da estátua do Cristo Redentor no Corcovado e permite o ensino da religião nas escolas públicas e escreve em um de seus diários:

Realizam-se, na capital, grandes festas comemorativas da inauguração do Cristo no Corcovado.44 Compareço a esta e recebo a bênção apostólica do papa.


Com Decreto n. 19.941 de 30 de abril de 1931, Getúlio dispõem sobre a instrução religiosa nos cursos primário, secundário e normal e atende uma antiga reivindicação da Igreja católica que retribui dando apoio aberto e direto ao governo:

A Igreja levou a massa da população católica a apoiar o novo governo. Este, em troca, tomou medidas importantes em seu favor, destacando-se um decerto, de abril de 1931, que permitiu o ensino da religião nas escolas públicas.

Esse nosso esforço em tentar demonstrar a influencia da Igreja no governo irá diretamente determinar a cidade do Rio de Janeiro no desenvolvimento do turismo, pois o Brasil acaba criando a primeira marca turístico-religiosa do maior portão de entrada de estrangeiros em território brasileiro. Nesse sentido, o Cristo Redentor do Corcovado se transforma no cartão postal do turismo brasileiro e o Rio de Janeiro o ícone da hospitalidade brasileira.
Não é por acaso, que Getúlio ao firmar a imagem de protetor dos trabalhadores, recorre para o fato de ter que construir um aparato que lhe permitisse controlar a opinião pública, e assim, aplica a censura aos meios de comunicação. Em 1931 surge o Departamento Oficial de Publicidade, primeiro passo para o Estado organizar e direcionar a opinião pública em torno do personagem de Getúlio Vargas, posteriormente em 1934 com a constituição, a máquina burocrática reorganiza-se criando o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC)
.A questão social, baseada no assistencialismo fincado na imagem do presidente, passou a ser o grande destaque no país: direitos democráticos foram conquistados, a participação popular no processo político aumentou e foi estimulada pelo próprio Estado em troca do apoio ao presidente
Em 1939, cria-se o DIP que congrega a Divisão de Turismo, que foi criada graças ao apoio de lideranças ligadas ao jogo, classe artistica nacional e o apoio decisivo de Alzira Vargas. O objetivo era divulgar a imagem de Vargas no território nacional e internacionalmente.
A Divisão de Turismo, vai produzir uma folheteria ( cartazes, cartões postais, revistas ) direcionada ao turismo receptivo, bem como, usa da música e cantores como portadores da idéia de Estado Novo ( Ary Barroso com a musica Cidade Maravilhosa – faz de Carmem Miranda o símbolo da brasilidade )
Juscelino Kubitschek cria a Combratur e dá por razões obvias o comando desse órgão a D. Lucy esposa de Adolfo Bloch. A idéia de JK era aproveitar a criação de Brasilia e o ufanismo que reinava na sociedade nacional e canalizava isso para o turismo receptivo.
Com o golpe militar de 1964, os algozes do poder criam em 1966 a Embratur com o objetivo de coordenar o turismo e divulgar a imagem de paraíso terrestre da convivência de hospitalidade, “da democracia racial” e de apoio ao governo norteamericano.
Em 2003, com o Partido dos Trabalhadores no poder tinhamos a idéia de que a Embratur e o novo Ministério de Turismo seriam voltados para desenvolver o turismo interno e receptivo. A Embratur transformou-se e ficou responsável em captar e eventos e fazer o Marketing do Brasil no exterior. Ao Ministério cabería incentivar o turismo interno. Infelizmente, nem uma coisa e outra foi realizada de forma plena.
1 – A Embratur acabou desenvolvendo internamente um processo de destruição, daquilo que já existia - entidades públicas atuando no turismo tanto a nível Municipal, Estadual e Federal - foram fechadas, desativadas e até em alguns casos incorporadas a estruturas privadas. Pois, a criação dos Convention Visitors Bureaux em 70 cidades acabou passando à iniciativa privada a articulação do turismo local. A mudança de público para privado, num primeiro momento pode parecer salutar como diz o senso comum “se o governo não faz a iniativa privada faz”. Mas não podemos esquecer que somente o poder público entende que saúde, educação e turismo devem ser considerado investimento social.
Em muitas cidades em que o Convention esta atuando o poder municipal deixou de ter em seu organograma a Secretaria de Turismo; Divisão de turismo o setor de turismo ou até Diretória de turismo. Esse processo acelerou o entendimento do fenômeno do turismo como uma atividade reservada as elites e reforça a idéia do turismo receptivo.
2 – Rever a fantasia da criação dos escritórios Internacionais, o que vem ocorrendo de fato é uma política desenvolvida pela Embratur que cria uma falsa ansiedade junto às prefeituras e à sociedade civil, pois cidades de pequeno e médio porte estão reivindicando a criação dos Convention Visitors Bureaux, como forma de se tornar centros de captação de eventos. Isso tudo em nome do turismo receptivo e da insensibilidade da visão de turismo de quem é responsável pela Embratur. O festival da criação dos escritórios internacionais da Embratur, cujos salários são em Euros, reforça nossa idéia de que o turismo no Brasil é Made in Brazil e não Made in Brasil.
3 - As ações do Ministério para desenvolver o turismo interno estão pulverizadas em pequenos (programas) que na verdade são atividades de marketing como digo “de efeito hollywoodiano”, que só fazem marola no imaginário e fortalece a ideologia do fetiche. Como o falido PMNT que só serviu para usar e abusar de uma mão de obra voluntária e diminuir a empregabilidade do turismólogo no mercado de trabalho e claro para promover na época seu presidente; Vai Brasil que usou como apelativo os serviços de marketing da diarista Mariete; Programa de Regionalização do Turismo que até agora não saiu do papel; e o Empreendetur um programa que nasceu morbo e representa o uso e abuso do privado sobre o público.
3 – Observar que a estrutura privada da Federação Brasileira dos Conventions Visitors Bureaux é sustentada com dinheiro público, bem como, os Escritórios Internacionais de Turismo, pois o Ministério tem convênio com a Federação
Presidente
João Luiz dos Santos Moreira
E-mail: joao.moreira@fbcvb.org.br

Vice-Presidente
Paulo César Boëchat Lemos
E-mail: paulo.boechat@fbcvb.org.br

Vice-Presidente Secretário
Danilo Távora Pedrosa
E-mail: danilo.pedrosa@fbcvb.org.br

Vice-Presidente de Administração e Finanças
Elydio Santoro de Barros
E-mail: elydio.barros@fbcvb.org.br

Vice-Presidente Jurídico
Márcio Santiago de Oliveira
E-mail: marcio.santiago@fbcvb.org.br

Vice-Presidente de Novos Negócios
Fernando Ferrero
E-mail: fernando.ferrero@fbcvb.org.br

Vice-Presidente de Marketing
Paulo Senise
E-mail: paulo.senise@fbcvb.org.br

Vice-Presidente de Feiras
Marco Antônio Lemos
E-mail: marco.lemos@fbcvb.org.br

Superintendente Executiva
Claúdia Maldonado
E-mail: claudia.maldonado@fbcvb.org.br

Gerente Executivo
Eduardo Só Gay
E-mail: eduardo.gay@fbcvb.org.br

Gerente de Eventos
Elias Borges Filho
E-mail: elias.borges@fbcvb.org.br

Coordenadora de Convênios
Marcia Ramos
E-Mail: marcia.ramos@fbcvb.org.br

Coordenadora de Feiras
Mírian Murata
E-mail: mirian.murata@fbcvb.org.br

Assistente Financeiro
Claubert Pereira
E-mail: claubert.pereira@fbcvb.org.br

Assessora Jurídica
Denise Lima
E-mail: denise.lima@fbcvb.org.br

Assistente de Diretoria
Cintia Higashi
E-mail: cintia.higashi@fbcvb.org.br

Secretária
IdalinaNeta
E-mail: secretaria@fbcvb.org.br

Estagiária
Berenice Souza
E-mail: berenice.souza@fbcvb.org.br

Coordenador da Unidade de Estratégias de Desenvolvimento
Aristides de La Plata Cury
E mail: aristides.cury@fbcvb.org.br


Convênios MTur:

Assessor de Imprensa do Programa Turismo Sustentável & Infância
Marcio Vieira
Email: imprensatsi@turismo.gov.br


4 – Não poderia deixar de nos referir à dolorosa e mentirosa exposição realizada pela EMBRATUR: 40 anos Embratur: Um passeio pela história do turismo no Brasil. Um erro imperdoável que explicita bem, o pensar dessa entidade pública para a memória histórica do país. Sem mencionar o seminário “O impacto do turismo na economia”.
Realizado pelo Brasil, onde a exposição se apresentava, cara Marta foi lamentável.
Para finalizar, torcemos que o enfoque do turismo interno ganhe visibilidade em sua gestão e o Ministério e a Embratur assimile que o mesmo deve ser prioridade nesse governo.

Atenciosamente;
João dos Santos Filho
joaofilho@onda.com.br

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