terça-feira, 23 de junho de 2009

TURISMO CIÊNCIA OU TÉCNICA?

TURISMO CIÊNCIA OU TÉCNICA?

João dos Santos Filho
Joaosantos@nobel.com.br


... é a sociedade que regula a produção geral e me possibilita fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar de manhã, pescar à tarde, pastorear à noite, fazer crítica depois da refeição, e tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico.
( Marx – A ideologia Alemã, 1976, p.41 )



Los hijos no olvidaron los sabios consejos de sus padres. Decidieron un día ir a visitar en el oriente el lugar de dónde habían venido. Tres fueron los que hicieron el viaje: Cocaib, Coacutec y Coajau. Se pusieron en camino: pero antes se despidieron de sus hermanos y parientes:
- Volveremos; no moriremos.
Seguramente pasaron sobre el mar antes de llegar donde el señor Nacxit, monarca del oriente. Nacxit los recibió y les dió las insignias del poder y de la majestad. De allá vienen los insignias del Ahpop y del ahpop-Camhá. Les entregaron polvos de diferentes colores, perfumes, flautas, la señal del tigre, del venado, del pájaro, el caracol, plumas de diferentes colores. Todo vino de Tulán, del oriente. ( Popol Vuh – livro dos Mayas – Viajes, migraciones y grandeza, s/d, p.106 e 107.)



ESCLARECIMENTOS PRELIMINARES


O presente trabalho deve ser entendido como um esforço inicial no campo da discussão epistemológica e acadêmica do fenômeno turístico. Nossa pretensão foi retomar as questões relativas a discussão do turismo como ciência, para tanto, entendemos que o mesmo deva ser realizado entre professores, pesquisadores e estudantes. Neste sentido, a Associação Brasileira de Bacharéis de Turismo – ABBTUR, deve encabeçar esses estudos pois às modificações que vem ocorrendo no mundo do trabalho, exigem o resgate de novas reflexões sobre o ócio, lazer, tempo livre e o próprio turismo.
Para realizarmos tal intento, necessitamos ultrapassar as visões imediatistas e tecnicistas que recaem sobre o estudo do turismo e que proliferam no mundo acadêmico. Entendendo o fenômeno do turismo em sua totalidade histórica e considerando o mesmo como resultado da inter-relação entre tempo-livre, ócio e lazer. A relação entre estes conceitos, compõem o fenômeno turístico em suas mais diferentes combinações de sua essencialidade, com esse entendimento o mesmo ganha uma dimensão mais universal e histórica, recuperando sua solidez teórica.
Esses esclarecimentos iniciais, entendem que o turismo deva ser percebido como uma futura ciência que congrega em seu ceio as diversas dimensões do mundo do trabalho, buscando “... obter explanações simultaneamente sistemáticas e controláveis pela evidência fatual.” Compreendendo-o como mais próximo de uma sistematização passível de uma intervenção racional, portanto, com infinito espectro sinalizador no campo da ciência.
Alertamos que o fenômeno turístico em suas várias ramificações teóricas-pedagógicas, deva ser discutido como uma possível ciência, entretanto, isto é algo carregado de preconceito dentro academia e no mercado de trabalho que alimenta uma visão utilitarista. Essa conjuntura vem servir aos interesses alheios, de outras áreas do conhecimento que enxergam o turismo como algo meramente técnico capaz de revigorar por exemplo, outros campos do conhecimento que começam a apresentar desgaste mercadológico.
Hoje o curso de turismo, desponta no cenário educacional como uma das graduações mais promissoras e disputadas nos vestibulares. Com uma mão de obra já formada de 8.000 mil turismologos em aproximadamente 400 cursos (dados de maio de 2000) espalhados pelo Brasil, constituem uma verdadeira massa crítica capaz de pressionar as esferas governamentais para o estudo científico do turismo e a necessidade da regulamentação profissional.
O aparecimento de intelectuais orgânicos nacionais preocupados com o estudo científico do turismo foi produto de esforços individuais e persistentes e teimosia de pesquisadores e estudiosos que ousaram discordar dos curiosos do turismo. Essa rebeldia acabou empurrando-os para dentro da academia e lá produziram de forma autônoma contribuições que nos permitem caminhar sem os escritos dos professores espanhóis. Hoje temos estudiosos e pesquisadores da mesma importância capacitados que escrevem sobre turismo e a realidade brasileira.
Os importantes ensinamentos dos antigos mestres galegos foi um começo necessário que nada sabíamos no campo do turismo, entretanto acabou dificultando a compreensão da realidade brasileira. Mas ao mesmo tempo, permitiu a criação das bases de uma metodologia mais próxima das necessidades nacionais e a constituição de um corpo de professores, pesquisadores pioneiros dos estudos turísticos nacionais e a própria criação e organização sindical dos bacharéis de turismo em grande parte do território nacional.




















































CIÊNCIA E TÉCNICA


... Toda a ciência seria supérflua se a forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem imediatamente.
( Marx - O Capital V.III, T. 2 cap. XLVIII)


Alguns fundamentos: ( ciência )

A capacidade que o ser humano tem de racionalizar (abstrair) antecipadamente tudo que irá fazer, lhe dá a característica de Homo sapiens, na busca para satisfazer suas necessidades, afastando-o de sua natureza biológica e aproximando-o cada vez mais da esfera social. Essa busca em reproduzir sua existência se explica pelo domínio que o mesmo tem da ação teleológica que o homem desenvolve durante toda a sua existência.
É homem porque pensa, produzindo e reproduzindo sua forma de existência e conseguindo colocar a natureza a seu serviço, para beneficio da humanidade, tudo isso por meio do trabalho elemento explicativo da vida humana. Esse processo vitaliza - se em um desenvolvimento que sempre buscou caminhos novos na ânsia de sinalizar o reino da liberdade, a isto, chamamos de a eterna luta para subjugar a natureza a serviço do homem que vai se materializando pela ciência.
Sempre acompanhado da busca do novo para que a humanidade caminhe em direção à maior racionalidade dos conhecimentos que ela possui, denominamos esse processo de ciência, pois os homens estão sempre procurando suplantar seus conhecimentos.
Podemos afirmar que o turismo entendido com a complexidade definida anteriormente, pode ser visto como ciência, pois:

1. Busca a multidiciplinariedade no estudo do seu objeto e trabalha na construção de uma explicação capaz de resistir a procedimentos de prova reconhecidos, podendo sustentar-se dando conta dos fatos da vida real, buscando apreender à racionalidade da realidade humana;

2. Esse objeto constitui uma formação econômica – social determinada, específica e particular que possui determinações próprias, somente possíveis de explica-las na relação de sua multidiciplinariedade, pois o turismo é resultado do amalgama do lazer, ócio, tempo livre;

3. O fenômeno turístico se constitui em um fenômeno social e portanto passível de ser visto dentro das determinações econômicas, políticas, culturais e sociais. Como totalidade concreta que está no plano das evidências e o uso da razão e pensamento sistemático já elaborado;

4. Nesse caso a teoria se constitui em um instrumento para a leitura do real, que passa a ter uma importância singular para entendimento do fenômeno turístico, que pode ser explicado com o auxilio das varias ciências que buscam explicar essa realidade.









Alguns fundamentos: ( técnica )


A literatura existente no campo do turismo discute o fenômeno turístico quase que exclusivamente em sua dimensão técnica, por ser uma atividade em constante desenvolvimento e elemento atual e por estar na vanguarda econômica. Esta percepção acaba sendo hegemônica na maioria dos cursos que se limitam a transmitir ao aluno uma visão tecnicista na busca da qualidade total.
Com uma infra-estrutura de serviços a disposição e uma demanda sempre crescente de clientes, o turismo se fixa na quantificação de seus dados, buscando racionalizar os serviços com vistas ao custo beneficio. Esse procedimento esta preocupado com o processo de mais valia para acumulo de capital, neste sentido, pouco sobra ao profissional a não ser estar sujeito a esse tipo de mercado.
A visão crítica e histórica sobre esse fenômeno está reservada a uns poucos que ousaram transgredir a regra dos curiosos e dos políticos de carreira que sempre estão farejando os cargos públicos em turismo. Esses na década de 1970 nós agrediam chamando-nos de comunistas, tentando nos amedrontar a com a ameaça de processo pela lei conhecida por 477 que dava plena autoridade para que os donos de faculdades expulsassem os alunos considerados subversivos e baderneiros ou tentando negar a organização sindical dos bacharéis de turismo que conseguiram ultrapassar todas as barreiras impostas por seus opositores.
Por se constituir em um mercado que guardadas as crises diacrônicas do sistema, sempre esteve em expansão, isto é, não havia tempo para refletir o fenômeno em si, mas sim necessitava-se atender a sua demanda. Esta foi uma das razões que levaram o turismo a ser visto quase que exclusivamente como algo prático, que poderia ser tratado a base de um adestramento ( treinamentos rápidos e instrumentais ) comportamental esperado pelo mercado. Na verdade estamos pagando hoje, por esse imediatismo, pois a academia, os órgãos oficiais que dizem responder pelo turismo no Brasil e a própria categoria já perceberam que há um desencontro na perspectiva teórico - filosófica de entendimento do fenômeno turístico.
Considera-lo como uma atividade técnica, significa recorrer ao campo dos dados empíricos, onde a comparação explicitará as diferenças e semelhanças, capaz de quantificar tipos e formular uma classificação de graus e variáveis, buscando as modificações quantitativas. Esse procedimento facilita o manuseio dos dados, porém despreza qualquer referência histórica e se realiza via descrição linear dos fatos.
Essa interpretação atende aos interesses da lógica do mercado, fazendo com que o processo de circulação da mercadoria flua em toda a sua dimensão econômica, por isso, a maioria dos cursos universitários e outros de qualificação da mão de obra no campo do turismo são voltados para o adestramento e treinamento com quase total falta de reflexões críticas.
Essa processualidade pedagógica que ocorre no interior dos cursos de turismo se prende ao fato de como se entende o objeto do turismo: ciência ou técnica. Nesse sentido, a questão tem suas bases na referência filosófica do pragmatismo, como comenta de forma pontual o professor Adolfo Sánchez Vázquez:

Em vez de formulações teóricas, temos assim o ponto-de-vista do “senso comum”, que docilmente se dobra aos ditames ou exigências de uma prática esvaziada de ingredientes teóricos. Em lugar destes, temos toda uma rede de preconceitos, verdades estereotipadas e, em alguns casos, superstições de uma concepção irracional (mágica ou religiosa ) do mundo. A prática se basta a si mesma, e o “senso comum” situa-se passivamente, numa atividade acrítica, em relação a ela. O “senso comum” é o sentido da prática.











































PORQUE ENTENDEMOS O TURISMO COMO CIÊNCIA.


Motivos teóricos:

• O turismo se constitui em um fenômeno que só existe em razão de sua interdiciplinariedade, portanto é resultado da intercessão de varias outras atividades que tem como núcleo comum a categoria trabalho. Nesse sentido, para entendermos teoricamente o turismo necessitamos compreender as condições do mundo do trabalho em sua dimensão política e econômica.
Apreender a dimensão do significado do conceito de ócio na história e como isso vem se modificando com o desenvolvimento das relações de produção.
Entender como o lazer se configura no interior das classes sociais estudando seus diferentes dimensões de interação no campo da cultura e do esporte.
Compreender o tempo livre como produto das atividades de trabalho e sempre vinculado as condições de como estão constituídas as classes sociais.
• O turismo pode ainda não se constituir como ciência, entretanto possui o status para tal, pois se concretiza na relação com as outras ciências. Seu patamar teórico se forma e cristaliza na atuação com as outras, porem por ser ainda uma atividade totalmente dinâmica e muito ágil e de forte impacto econômico que acaba relegando a um papel secundário seus componentes de sustentação teórica.


Motivos políticos:
• Status de ciência que o fenômeno do turismo necessita possuir deve ser cultivado e defendido, independente do mesmo não poder vir a atender a todos os requisitos da chamada “atitude científica”. Com isso quero dizer que entende-lo ou não como uma ciência, não se constitui nenhuma fragilidade epistemologica do objeto por nos estudado, mas sim, daqueles que o julgam. Nesse sentido, endossa-lo como uma ciência ou como uma técnica faz parte do processo de desenvolvimento do pensamento histórico do próprio fenômeno, isto é, se torna a matriz alimentadora da formação de seus conceitos e axiomas.
O exemplo mais pontual dessa questão pode ser tirado do próprio marxismo, onde há autores que defende-o como sendo uma técnica e não uma ciência essa polêmica alimenta uma discussão teórica que traz consigo uma expressiva produção literária, que acaba proporcionando um avanço do pensamento da humanidade.
Com o turismo necessitamos que esse processo seja iniciado e saía do campo da especulação e do “censo comum”, avance para o campo da investigação e traga o embate para o campo das idéias. Fomente em nossos cursos a discussão e comprometa nossos professores para com a luta do turismo como ciência. Só assim poderemos edificar nosso arcabouço conceptual junto as outras ciências.
Portanto, a dimensão do fenômeno turístico deve ser trabalhado e ensinado dentro do contexto de sua cientificidade a ser ainda consolidada e da potencialidade que o mesmo possui junto ao mercado de serviços. Nada pode ser mais nocivo para ele do que ficar na dependência de especulações que na verdade vão refletir posturas filosóficas totalizantes e históricas que acabam limitando o fenômeno e fortalecendo as visões tecnicistas.
Necessitamos formar uma frente de pesquisa multidiciplinar diante do estudo do fenômeno turístico, fazendo com que nos congressos e encontros a questão do turismo como ciência seja discutida.
O mercado deve estar sintonizado com essa discussão, pois há necessidade de um trabalho político, que faça com que o mesmo comece a entender e valorizar a especificidade do turismo como um objeto que busca a formulação de axiomas e pressupostos próprios. Nesse sentido, é de fundamental importância que as reflexões de base filosóficas incorporem a dinâmica dos planejamentos turísticos, procurando delimitar e visualizar sua identidade.
Cabe as associações de classe e ou as entidades profissionais, desenvolverem uma campanha que busque trazer essa discussão para junto à categoria.



Motivos econômicos:

A importância de fluxo de capital e a dinâmica transformadora e de rentabilidade que a atividade turística apresenta no interior dos chamados sistemas econômicos e políticos. Seja no capitalismo ou no chamado socialismo revelam que essa atividade se constitui no grande suporte para a criação de riquezas.
O turismo esta entre a terceira ou quarta atividade de maior crescimento no mundo, estimulado pela globalização que a detecta como um dos setores ainda pouco explorados, porém com uma potencialidade de crescimento que supera todos os outros campos. Essa dimensão espancionista em que a mercadoria ( turismo ) se concretiza no interior dos sistemas econômicos estão acima de qualquer opção política ideológica, pois todas dependem do capital, nesse sentido, buscam implementar os processos de acumulação.
No capitalismo o turismo assume os primeiros postos como uma das atividades econômicas de maior rentabilidade, fabricam-se ilusões, criam-se estilos de vida, cultiva-se o hábito pelo descanso no período do não trabalho e cada vez mais tem-se a certeza que o turismo se constitui em uma das atividades em que o Estado pode recorrer para diminuir a sua crise neoliberal. Sacrificando o meio ambiente, pois muitas vezes autoriza a criação de equipamentos turísticos em áreas de preservação e ou permitindo a destruição de culturas regionais por meio da criação de equipamentos destinados ao turismo receptivo.
No socialismo o turismo também adquire as mesmas características que no capitalismo, pois a lógica de ambas é dada pelo capital, apesar de haver uma diferença. O socialismo cria inicialmente uma infra-estrutura voltada exclusivamente para o turista estrangeiro e proibida para os nacionais com o objetivo exclusivo de captar divisas. Desenvolvendo um turismo tão elitizado quanto aquele existente no capitalismo, pois impede que a população daquele país usufrua da infra-estrutura turística.
Esta situação acaba favorecendo o aparecimento de duas sociedades antagônicas e complementares ao mesmo tempo; aquela que trata o estrangeiro como um cliente vip, mostrando aquilo que era tido como exótico e curioso politicamente, pois esse era o marketing político desses sistemas para o mundo. E uma outra que durante muitos anos foi negada e ocultada pelos socialistas - o cotidiano da vida dessas populações que eram por meio da emulação levadas a sacrificar seu padrão de vida já deficitário, em favor do futuro turista estrangeiro.
Com isto, podemos afirmar que a questão econômica comanda a questão do turismo, dado o seu desenvolvimento multiplicador de atividades no campo da acumulação e reprodução do capital. Mas não podemos analisa-la somente como referência econômica, pois isso limita a compreensão do próprio fenômeno e impede uma leitura cientifica do mesmo.





ARGUMENTOS I

A crítica das explicações oferecidas pelo bom senso inicia o trabalho científico. Esse trabalho é governado por um tipo especial de atitude. Caracteriza-a a tendência de suspender juízos, evitar asserções “definitivas”, até que a evidência adequada tenha sido apresentada para só então acolher as afirmações, admitindo-as na medida em que a evidência as apoia e não excluindo a possibilidade de refutações futuras. ( Hegenberg. Explicações científicas, 1969, p. 20. ).

Os homens sempre procuraram solucionar seus problemas de sobrevivência, intervindo na realidade, por meio do senso-comum e procedimentos técnicos - científicos, modificando e colocando a mesma à serviço da humanidade. Esse “modus operandis” de ação alimenta o desenvolvimento histórico dos homens e sinaliza alguns perfis da sociedade futura.
Essa capacidade de modificar e compreender a realidade se constitui em um processo que categoriza os homens como produtores do saber e de novos conhecimentos. Com base nesses pressupostos, entendemos que o turismo é uma ciência, como diz a professora Margarita Barreto:

Fazer ciência significa criar saber ou conhecimento novo. No turismo, o tipo de saber ou conhecimento que pode ser criado varia de um produto turístico a uma pesquisa sobre motivações passando pela propaganda de um produto turístico. Em todos os casos está sendo gerado um conhecimento, seja sobre um assunto ou sobre um local.

O conhecimento começa a ser produzido no interior das estruturas acadêmicas de aproximadamente 400 cursos universitários de turismo em funcionamento no país. Em sua maioria, os mesmos, exigem trabalhos de conclusão de curso, pesquisas e estudos setorizados do imenso campo de ações relacionadas ao complexo turístico. Nesse sentido o saber e o conhecimento sistematizado das práticas cotidianas, começa a ser teorizado, as regularidades são aprendidas dando lugar as leis que são as expressões da base teórica que passa a ser desvendada e compreendida.
Os instrumentos imprencíndiveis para poder começar a pensar em produzir ciência estão dados, centros de estudos públicos e particulares produzindo investigações acadêmicas e uma intelectualidade atuante e crítica e segundo a professora Mirian Rejowski o estudo do fenômeno turístico era pequena mas até certo ponto significativa como podemos atestar pelo excelente trabalho feito por ela em seu livro Turismo e Pesquisa científica.
Não queremos aqui promover nenhuma crítica para com os defensores do turismo como uma atividade exclusivamente econômica, aqueles mesmos que derivam esse conceito para o turismo – industria, pois acreditamos que essa referência possua hoje pouquíssimos seguidores. Para nos educadores e pesquisadores desse objeto o envolvente é compreende-lo em sua totalidade histórica e no complexo de suas inter-relações com as outras ciências. “De uma maneira geral, pode-se dizer que a ciência do turismo está ligada aos estudos que dizem respeito à sociedade... “
A abrangência com o qual o fenômeno turístico se explicita, exigindo a participação de todos os campos da ciência, permite que o mesmo seja abordado dentro de vários métodos existentes, portanto, o fenômeno turístico, demonstra que já incorporou os princípios básicos de ciência. Entende-lo por meio de uma interpretação funcionalista da realidade social, significa buscar as conexões funcionais do complexo turístico em sua referência empírica e de regularidade, segundo o professor Florestan Fernandes:

... a análise funcional só consegue abarcar os problemas teóricos que possam ser formulados e entendidos funcionalmente, ou seja, que digam respeito ao período de função ...

O turismo sendo analisado via esse método, permite um descrição detalhada dos fatos é nesse momento que o empirismo, destaca a regularidade, harmonia, equilíbrio e a busca da função, fazendo uma descrição minuciosa da funcionalidade. Desenvolvendo estudos e analises altamente descritivas e etnológicas de imenso valor acadêmico. Porém, como todo método existem limitações lógicas e no caso podemos destacar, que o mesmo, não consegue captar a dinâmica das contradições sociais em sua referência histórica, pois só consegue captar os problemas referentes a função.
Essa analise atende aos interesses do fenômeno turístico, visto pelo lado da funcionalidade de seus recursos, uma analise que acaba destacando a qualidade total sem qualquer preocupação com o papel social daquele equipamento seja para com o meio ambiente ou para as classes sociais,. A busca é sinalizar a coesão social e as propostas para resolver qualquer conflito se dá pelo reformismo.
O fenômeno turístico analisado e entendido pelo método estruturalista, parte da categoria de estrutura e segundo o professor Mário Carlos Beni, que sempre defendeu o turismo dentro desse contexto, em seu livro define a análise estrutural como:

... análise estrutural é uma observação rigorosa e metódica do campo de abrangência da atividade, ou seja, dos elementos ordenados e inter-relacionados de forma dinâmica que o integram.

O livro do professor Mário desde quando foi lançado se tornou imediatamente um clássico para aqueles que estudam e trabalham no campo do turismo, sua preocupação não se limita a questões do formalismo sistêmico, que por sinal opera de forma brilhante. Mas vai além disso, pois discute tanto a estrutura formal do turismo, como também deixa sinalizado a falta de organização do Estado no comando e ordenamento de uma política Nacional para o turismo. Nesse caso podemos dizer que o autor soube escolher muito bem seus pressupostos teóricos optando pelo método estruturalista para esse tipo de estudo.
Com referência aos limites que esse método possui podemos esboçar alguns, tais como:

1. Entende que a mudanças só ocorram por meio da descontinuidade e justaposição dos fatos, esquecendo o processo dialético. Para o estruturalismo o processo de mudança não está localizado junto ao desenvolvimento das relações de produção, mas sim, nas contradições interna dos fenômenos ou da estrutura.

2. Por negar a contradição, acaba negando a luta de classe e sobre tudo o movimento do ser, portanto acaba caindo na tese da existência de algo exterior que movimenta o sistema.

A importância em analisar o fenômeno turístico via o método estruturalista, permite a elaboração de estudos como aquele que comentei acima, porém os limites que o mesmo ( método) apresenta podem ser mais profundos, dependendo de como o pesquisador encaminha seu estudo, pois:

• Retira ou minimiza a ação direta dos homens no que se refere a compreensão da realidade, pois nega as leis objetivas que regem a vida social, portanto, acaba dificultando o entendimento das determinações, ou seja, das causas históricas.
• Trabalha com a realidade, naturalizando a sociedade de classes, como sendo algo dado, pois propõe um turismo via a estratificação social, isto é diferenciado para as classes sociais.

Um outro método, na qual não podemos esquecer é o materialismo histórico, que permite desenvolver uma análise crítica, pois caminha por uma essêncialidade de negação da sociedade de classes e parte do pressuposto de ir para além do capital. Nesse momento, estabelece-se aqui uma discussão acadêmica e filosófica, onde a raiz da questão esta localizada fora dos limites restritos do fenômeno turístico, mas sim no campo da “Economia Política”.
Esse entendimento requer que compartilhemos de um pensamento crítico, onde o conceito de turismo só poderá ser de fato totalizante se configurado por meio das relações de produção. Nesse sentido, pouco serve aos interesses do capital que enxerga o fenômeno turístico como um fator de rápida acumulação de capital e inserido na sociedade de classes.
A idéia de totalidade histórica neste método reafirma sua referência de crítica, para com a realidade social e acaba expondo as contradições da sociedade capitalista no campo político, econômico e social. Nada pode ser mais suscetível a esse método de análise do que o fenômeno do turismo, pois acabaria denunciando:

1. Desmatamento em áreas de proteção ambiental, junto a serras e praias para implantação de projetos turísticos;
2. Destruição de núcleos históricos regionais com a criação de equipamentos para implementar o turismo receptivo;
3. Ocultação da pobreza, por meio do maquiamento arquitetónico ou utilização da mesma como forma de explorar o exótico, como se expressou uns dos políticos que estava a frente do Ministério do Esporte e Turismo;
4. Destruição de parques arqueológicos, com a exploração indevida por parte do poder público e empresários locais;
5. A distribuição política de verbas públicas para o turismo, segundo os interesses de grupos políticos locais;
6. A distribuição de cargos públicos na área de turismo para políticos de carreira, segundo os interesses políticos do Estado e não da nação;
7. Envolvimento da máfia internacional do jogo na implantação dos cassinos no Brasil, segundo informações da CPI;

O uso desse método transforma o turismo em um objeto assaz vulnerável, pois revela as contradições da relação econômica e a submissão que o mesmo se vê obrigada a se sujeitar. O desvendar desse processo é característico do pensamento crítico que esse método proporciona, portanto fundamental para a formação do cidadão politizado, crítico e democrático.
A importância desse método esta no fato de poder compartilhar as determinações que compõem o objeto, levando-o a compreensão das suas causas últimas. Esse poder de desmistificar o real transformando-o em concreto lhe permite apreender as causas e entender a lógica histórica.
Para o turismo esse método, permite desvendar quais os interesses econômicos e políticos que levaram a implantação de qualquer equipamento turístico, expondo as relações de poder que determinaram sua existência. A aplicabilidade desse método é limitada, pois não interessa aos interesses do capital e do capitalista, entretanto se torna um eficaz instrumento quando usado para desenvolver uma análise crítica e de totalidade de qualquer objeto.

















BIBLIOGRAFIA

1 – Vásquez, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 210p.

2 – Ministerio de Gobernacion:Programa Educativo sobre Cultura Democratica y Derechos Humanos. Popol Vuh: Livro dos Mayas-Quichés de 1524. s/d. 106 e 107.

3 – Karl, Marx., Engels, Friedrich. A Ideologia Alemã. 3ª. ed. Lisboa: Editorial Presença,1976. 41p.

4 - Morgenbesser, Sidney. (coord). Filosofia da Ciência. Nagel, Ernest. Ciência: Natureza e Objetivo. São Paulo, editora Cultrix, s/d. 23p.

5 – Marx, Karl. O Capital V.III, T. 2 cap. XLVIII.

6 – Hegenberg, Leônidas. Explicações científicas: introdução à filosofia da ciência. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 1969. 20p.

7 - Barreto, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Editora Papirus, 1995. 129 e 130p.

8 - Fernandes, Florestan. Elementos de sociologia teórica. São Paulo: Editora nacional, 2ª. Ed. 1974.194p.

9 - Beni, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Editora SENAC, 1998. 19p.

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