terça-feira, 23 de junho de 2009

O EMBUSTE DA CERTIFICAÇÃO NA LUTA CONTRA A REGULAMENTAÇÃO PROFISSIONAL: AS FALAS QUE RETARDAM A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS TURISMÓLOGOS

O EMBUSTE DA CERTIFICAÇÃO NA LUTA CONTRA A REGULAMENTAÇÃO PROFISSIONAL: AS FALAS QUE RETARDAM A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DOS TURISMÓLOGOS


João dos Santos Filho
Joaofilho@onda.com.br


Nas sociedades capitalistas liberal-conservadoras do ocidente, o discurso ideológico domina a tal ponto a determinação de todos os valores que muito freqüentemente não termos a mais leve suspeita de sermos levados a aceitar, absolutamente sem questionamento, um determinado conjunto de valores... .
Naturalmente, aqueles que aceitam tacitamente a ideologia dominante como a estrutura objetiva do discurso “racional” e “erudito” rejeitam como ilegítimas todas as tentativas de identificar as suposições ocultas e os valores implícitos com que está comprometida a ordem dominante. (Mészáros, 1996, p.13 e 14).





INTRODUÇÃO



Inacreditável, mas estão naturalizando o entendimento do fenômeno turístico, considerando-o como uma disciplina nitidamente distinta da própria ciência, algumas instituições de ensino superior e centros de investigação parece embarcar nesse novo modismo pseudo - acadêmico dado pelo arcabouço teórico da fenomenologia. Esse processo, decorrente da nova lógica do Capital se explicita na forma dos capitalismos denominados neoliberal, apresentados como o instrumento salvador que permitiria estimular os mecanismos para um novo estágio de acumulação do próprio Capital.
Entretanto, a citação de Mészáros no inicio do texto colabora para o entendimento do processo de despolitização em que a racionalidade normativa de base oficialista acompanha uma universalidade decorrente do movimento dado pela economia neoliberal. A sociedade civil caminha nos trilhos da falsa cidadania, em que a ausência de auto crítica e o refletir do cotidiano dentro da ideologia reificada impedem a formação da consciência crítica.
Servindo de orientação para alguns docentes e organismos oficiais, seus escritos e falas estão ilustrados nas amaras de uma secundarização de nossa organização política e sindical aliados a um discurso messiânico e ufanista que afirma que o “profissional competente" sempre terá colocação no mercado de trabalho, independente das condições da economia. Esse entendimento é muito próximo de uma visão religiosa, pois acredita que nós turismólogos somos os próprios messias, pois o que vai valer é nossa capacidade de fazer milagres, portanto, ser um santo competente dos afazeres divinos na terra, capaz de conseguir trabalho, mesmo que a economia esteja em plena recessão.
O que tem acontecido é que respeitados professores e pesquisadores acabam se curvando diante das diretrizes dadas pelo banco mundial e muitas vezes sem saber ou até sabendo, tornam-se defensores do processo ideológico da despolitização. Transformando-se em maestros do concerto para o "consenso", explicando-se por si mesmo, uma perfeita apologia ao egoísmo separatista e desagregador do pensamento burguês, em que a noção de existência da neutralidade cientifica ganha adeptos.
No turismo esse processo se mostra forte, pois a falta de estudos científicos nesta temática, acaba facilitando o avanço hegemônico do pensamento tecnicista, dando ao curso uma tonalidade de cunho tecnológico e experimental, em que a base empírica prevalece dentro do projeto pedagógico.
Paralelo a essas questões de base epstemológica existem outras de natureza política, organizativa e sindical que apesar de parecerem distintas, estão extremamente interligadas em um processo para a construção do saber turístico.
Por ser um fenômeno que nesses últimos anos tem sido objeto de certa regularidade investigativa, permite hoje possuir o status de ciência, requerendo dos estudiosos deste fenômeno um repensar de seu papel no cotidiano da sociedade. Impossível pensar o fenômeno turístico fora dos contornos do movimento da história, pois o mesmo, desenvolve-se nas referências do econômico, social e cultural em que pessoas agem por meio da ação da categoria trabalho, oferecendo um produto que dê conta do lazer e turismo no interior da sociedade contemporânea.
Neste sentido, confirmamos a lógica histórica marxiana na qual o pensamento científico não este deslocado de suas bases materiais de produção, capaz de realizar uma leitura concreta da realidade e com isso, reafirmar nossa postura de não compactuarmos com a fenomenologia e com os apologistas do neoliberalismo2.
Como Turismólogo e Cientista Social repudio toda e qualquer tentativa de despolitização e naturalização do fenômeno turístico. Aos pós-modernos que trabalham na trama do discurso vacinado pela ideologia liberal, entendemos haver necessidade de aprofundar essa questão e discuti-lá em cima do desenvolvimento da ciência, pois só assim, poderemos nos eximir de embates pessoais pautados nos preconceitos ideológicos que infelizmente ainda marcam alguns setores da academia e de entidades representativas de nossa categoria.
Para podermos proceder nessa linha de avanço da ciência e do embate acadêmico das idéias, necessitamos entender o desenvolvimento da sociedade contemporânea em sua dimensão histórica, percorrendo o caminho da crise do Capital e suas implicações para o capitalismo. Essa leitura permitirá compreender a questão ontológica do processo e apreender toda a essencialidade do fenômeno turístico.
Nossa contribuição esta centrada na reflexão do fenômeno turístico e do turismólogo, buscando entende-los e problematiza-los nas falas contrárias existentes à regulamentação da profissão.
Salientamos que nosso embate deve ser compreendido no interior do campo das idéias e nunca dirigido às pessoas, respeitando opiniões divergentes e sabendo aceitar às diferenças no estudo da ciência do turismo. Nesse sentido, avançaremos como cidadão na busca de uma qualidade de vida superior e aderimos a uma racionalidade capaz de permitir a convivência entre os homens.
O uso da delação em tempo virtual pela internet como prática política e da injúria como habito que existiam nos tribunais da inquisição, aparecem no cotidiano de nossa sociedade. Se constituindo em armas dos incompetentes e/ou daqueles que possuem inexpressivo grau de sociabilidade diante do "homo sapiens".
Nesse sentido, vale a pena destacar a existência e a importância do "Código de Ética do Bacharel em Turismo" que em seu artigo13º afirma: O Bacharel em Turismo deve abster-se de:

1º - praticar qualquer ato que possa prejudicar os legítimos interesses de outro profissional;
2º - criticar de maneira desleal os trabalhos de outro colega de profissão;
3º - apropriar idéias, planos e projetos de iniciativa de outros profissionais, sem a
devida autorização dos autores;
4º - rever ou retificar o trabalho de outro profissional, sem a anuência do autor;
5º- realizar qualquer ato inidôneo que prejudique a reputação ou a atividade
Exercida por outro colega;
6º- intervir na relação comercial entre outros profissionais e seus respectivos clientes, exceto nos casos em que sua participação tenha sido expressamente solicitada.
Os itens acima nos garantem uma certa liberdade para defesa, quando formos objeto de atitudes fascistas e covardes que não sabem respeitar as diferenças de pensamento, e julgam que acender profissionalmente só é possível às custas da negação física do outro.


SOCIEDADE PÓS-MODERNA: O ENCOLHIMENTO REVOLUCIONÁRIO E POLÍTICO DA SOCIEDADE CAPITALISTA.

Nada mais desafiador para um turismólogo e ao mesmo tempo reconfortante para um sociólogo, poder colaborar na organização política e sindical dos bacharéis de turismo, apesar dessa dupla formação profissional, existe uma unidade de interesses que se completam. Ao cientista social cabe a função de mostrar a importância de se ter uma categoria politizada e defensora de seu mercado de trabalho e ao bacharel em turismo permitir o conhecimento de uma referencia crítica sobre seu objeto de trabalho.
Entretanto, para podermos iniciar essa discussão, devemos mostrar qual a premissa que orienta nossa visão de mundo e nos levou para o ponto máximo de nossa racionalidade permitindo o livre transito no exercício do pensamento crítico. A primeira é aquela que afirma: toda sociedade para poder de fato existir deve ter seu próprio sistema educacional.
A realidade social não pode ser vista como estruturas pré – idealizadas, onde os elementos da produção e da troca sejam considerados exclusivos e os únicos determinantes para a explicação do funcionamento de uma sociedade. Essa organização humana se explica por meio de seus atos teleologicamente definidos na qual denominamos trabalho, desenvolvendo um “modus – operantis” próprio que se plasma na relação dialética entre os homens:

Não existe atividade humana da qual se possa excluir toda intervenção intelectual, não se pode separar o Homo faber do Homo sapiens. Em suma, todo homem, fora de sua profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um “filósofo”, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isto é, para promover novas maneiras de pensar.

O sistema educacional, nesse sentido, também produz e reproduz a estrutura de valores na qual os indivíduos definem seus interesses e agem quotidianamente, com isso, afirmo que o capitalismo força a criação de uma estrutura material e ideológica de perpetuação, porque o sistema educacional desempenha um papel fundamental na interiorização e inculcação dos conteúdos nos indivíduos. Forma-se uma poderosa ideologia de defesa do sistema e quando a ela nos referimos podemos afirmar sem grandes erros que a mesma guarda, resguarda, cultua e privilegia concepção de mundo da classe dominante.
O campo da crítica permanece sob controle, nada escapa ao crivo daqueles que a usam para diminuir e ocultar a compreensão da realidade, esse processo é empregado em todos os campos da educação, principalmente no estudo do fenômeno turístico. Em virtude de este possuir poucos anos de investigação científica e explicitar-se pedagogicamente por uma enorme referência de base técnica, em que o treinamento e o adestramento aparecem como capazes de melhorar o trabalho profissional de uma gama apreciável de profissionais que compôem a atividade turística. Esse imediatismo pragmático que muitas vezes aparece disfarçado pela busca da "qualidade total" encobre o estudo teórico do turismo restringindo qualquer visão crítica que possa abalar o status-quo do estado Capitalista.
O processo de destruição da razão crítica e ascensão do irracionalismo vão atingir o fenômeno do turismo em duas grandes frentes; na organização política e sindical da categoria e na concepção teórica-científica de entendimento de seu objeto.
A primeira de base sindical e de organização política, refere-se à união dos turismólogos na defesa de seus interesses profissionais para atuação no mercado de trabalho. Esse processo exige uma certa paciência histórica, pois requerer a criação de uma representação que lute em favor dos interesses da categoria e deva passar pelo crivo da mesma e ser aprovada pela massa dos trabalhadores. Uma primeira etapa foi vencida com a criação de vinte “Associações Brasileiras de Bacharéis de Turismo” – ABBTUR em vinte Estados brasileiros orientadas por umas organizações nacionais, que com uma luta persistente, conseguiu em todos esses anos estabelecer representações em todos os níveis do governo Federal e sensibilizar o “Ministério da Educação e Cultura” na criação de um conselho próprio que nos legitima perante os órgãos educacionais do país.
E com o apoio de todos os presidentes da ABBTUR/Nacional e regionais, esses trinta anos de luta, conseguimos que o nosso projeto de regulamentação tramita-se em todas as instancias da estrutura administrativa do governo Federal, com apoios ora efusivos ora discretos. Porém, necessitamos dar mais um passo em favor de nossa organização política e sindical, ou seja, a criação das “Associações Profissionais de Bacharéis de Turismo – APBTUR e ativação e/ou criação dos Conselhos de Ética nas entidades para podermos requerer e lutar na formação de nosso futuro sindicato”.



Por quê insistir na ativação ou criação dos Conselhos de Ética e na regulamentação da profissão?
• Em primeiro lugar por entendermos que na sociedade capitalista a categoria profissional que não se organiza demonstra fraqueza, incompetência e possuí uma existência inconclusa enquanto classe para poder enfrentar o cotidiano na defesa dos seus interesses profissionais. A nós turismólogo ficaria reservado uma vida de agregados e parasitas, colando-nos na rabeira de outras organizações profissionais para não perecer-mos. Como nós ocorreu com a intromissão indevida e nefasta do Conselho Federal de Administração que tentou substituir nossa identidade, quando autorizou nossa filiação em seu Conselho.
• Com a existência de nosso Código de Ética que foi criado em 29 de maio de 1999 instituiu–se extra-oficialmente o Conselho Nacional de Ética. As seccionais deveriam ter instituído as suas Comissões Estaduais de Ética, mas pouco fizeram para que isso acontecesse, pois as ABBTURs regionais direcionaram seus esforços políticos e financeiros na consolidação da própria entidade. E aqui cabe uma homenagem a todos turismólogos que direta e indiretamente permitiram que hoje fossemos uma categoria profissional de ponta no campo do turismo.
• Os Conselhos de Ética possuem uma história no meio do movimento operário brasileiro que se explica pela necessidade de vir a defender os interesses individuais e coletivo do trabalhador é natural que apareçam as chamadas questões corporativas. Os Conselhos são necessários para impedir a invasão do nosso campo de trabalho por curiosos e leigos ou por outras áreas profissionais. Portanto a sua principal finalidade é proteger, defender o espaço de atividade do turismólogo e zelar para que o mesmo cumpra seu papel profissional de forma eficiente e social.
• Cabe ressaltar que por sermos um numero pequeno ainda de turismologos, convivemos com profissionais de outras áreas que assumiram cargos de coordenação no curso de turismo e sem qualquer constrangimento perante a categoria são aceitos, por sua competências e defesa intransigente do turismólogo. A eles devemos parte de nossa luta como profissionais que souberam respeitar e dignificar nossas funções e conosco cerram fileiras nas lutas por nossa regulamentação.
• A função do Conselho é lutar para podermos nos credenciar perante a sociedade, fiscalizando e acompanhando o exercício da profissão, atuando em assessorais para realização de concursos públicos na área e disciplinador do exercício profissional. Significa contribuir para uma organização sindical brasileira constituída de trabalhadores críticos, conscientes e qualificados que possuam o respaldo de uma legislação do exercício profissional.
• A regulamentação da profissão que deveria ser o movimento natural de uma organização política sindical se constituiu em um mecanismo de defesa da própria sociedade, pois coloca à disposição das mesmas profissionais qualificados para atenderem os indivíduos em suas necessidades de lazer, recreação e turismo. Portanto, são profissões que exigem uma relação pessoal, pois começam com uma prestação de serviço direta que se utilizam uma macro- estrutura que deve estar sintonizada com os interesses do cliente e é sempre de responsabilidade do profissional que iniciou o contato.






DISCURSOS E LADAINHAS USADAS PARA NÃO ENCAMINHAR A LUTA PELA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.

Em primeiro lugar, gostaríamos de esclarecer aos turismólogos e leitor em geral teve o privilegio de ser um dos fundadores da ABBTUR/SP em 14 de novembro de 1981. Desenvolvemos com alguns companheiros a gerencia da instituição de forma democrática, em que todos tinham o direito de expressar sua opinião em prol da união da categoria, faço questão de nominar até com o perigo de minha memória me trair os seguintes companheiros: Maria José Giaretta, Marlene Matias, Araci Miranda, Elizabeth Wada, Antônio Carlos Tabet, Vera Lucia Gomes Jardim, Luiz Antônio Braga e Francisco de Canindé Gentil Vieira. Esses amigos e parceiros de luta em prol do processo de regulamentação da profissão. Em muitos momentos colocaram suas vidas em risco, pois estávamos em plena ditadura militar e alguns chegaram a sofrer ameaças de processos políticos por serem acusados de comunistas, isto é, perseguição de cunho ideológico que hoje não deveria existir mais.
Nunca nos curvamos ou recuamos diante do aparato intimidador do Estado militar, mas sim, fomos ousados e persistentes em Brasília e mantivemos a prontidão sempre na vanguarda diante dos presidentes da Embratur que acabaram tendo de nos aceitar e respeitar uma categoria aguerrida, unida e consciente de nossos direitos.
Essa história de luta aliada a experiências de cada um atuando nas mais diferentes áreas do turismo com profissionalismo seja no mercado ou na academia, trouxeram uma unidade de parte do grupo que continua lutando em torno dos interesses da categoria. Esse processo estendeu-se pelo Brasil e hoje contamos com 20 ABBTUR’s no território nacional, sendo atualmente a de Minas Gerais a que responde pela entidade nacional, que por sinal vem desempenhando um papel fundamental de formação, informação e politização da categoria.
O primeiro tipo de discurso que aparece contra a regulamentação é aquele muito comum no universo da lógica neoliberal, o qual denominei de discurso do consenso que instrumentaliza-se na capacidade profissional e individual como elemento diferenciador da demanda imposta pelo mercado. Costuma-se afirmar que os melhores profissionais conseguirão sobreviver no mercado e os outros irão perecer.
Essa lógica possui uma explicitação de cunho racista, muito utilizada pelos políticos que vivem do estado brasileiro que na desculpa de não poderem explicar a sistemática seletiva e exploradora do sistema econômico capitalista, colocam a culpa dos insucessos aos profissionais no mercado como resultado de indivíduos despreparados, como se fosse um processo seletivo. Os fundamentos dessa explicação foram dados no século XIX pelo francês Gobineau que na tentiva de justificar a existência da aristocracia como seres superiores os colocavam como indivíduos iluminados. Portanto, aquela ladainha que o mercado aproveitará os melhores preparados pode não ser tão verdadeiro assim, depende da classe que ele pertence e das melhores oportunidades educacionais que o mesmo usufruiu. Entretanto, isso tem servido de argumento para afirmar que a nossa regulamentação é desnecessária, pois o mercado é o melhor codificador de nossas atividades profissionais.
Essa fala se apresenta como padrão em quase todos os lugares tornando-se um consenso no interior do discurso político do sistema educacional brasileiro, que assim consegue desviar seu descaso para com a educação, pois coloca a culpa nos alunos que tem de travar uma luta feroz para sobrevir pela baixa demanda apresentada pelo mercado, por isso chamados de incompetentes. Essa lógica dita de mercado não atende a nenhum padrão de racionalidade, mas sim a um fetiche determinado pelo Capital que usa dos preceitos racistas para explicar o real.
Uma outra fala é aquela que de forma míope e despolitizada enxerga a regulamentação da profissão como uma maldita reserva de mercado e, portanto maléfica para a sociedade e para a própria atuação profissional. Essa forma equivocada de entender a reserva de mercado leva as pessoas a posturas do tipo: sou a favor da regulamentação, mas não da reserva de mercado; a regulamentação é fundamental, mas não prioridade no momento, necessita aprimorar primeiro nosso atuação profissional.
Com esse discurso, pouco sobra na defesa de nosso campo de trabalho, pois a lógica que esta por detrás desses enunciados favorecem principalmente aos curiosos e aqueles campos profissionais que estão caminhando para a saturação de suas áreas no mercado. Isso ocorreu com a ciência da administração que por vários momentos e maneiras diferentes tentou nós adotar por não termos nenhuma regulamentação jurídica que se demarca nossa atuação profissional.
O discurso do Estado liberal brasileiro é a favor de um processo amplo de desregulamentação das atividades profissionais, esse mecanismo dito como processo natural e sadio para o desenvolvimento do sistema, nos coloca em uma situação extremamente grave, pois cultiva e inculca a ideologia de que os melhores preparados sobreviverão no mercado, como explicitamos acima. E afeta drasticamente os cursos superiores de turismo que acabam recebendo uma carga imensa de indagações por parte dos alunos sobre como se comporta a demanda de mercado frente ao turismólogo formado, criando um clima de desanimo quando percebe que o estado regulamenta outras atividades profissionais da área do turístico e há vinte anos vem desmobilizando ou vetando as propostas de projetos lei sobre a nossa regulamentação.
Descobre o estudante que o estado que se diz contra a regulamentação profissional, continua regulamentando outras profissões, tais como; peão boiadeiro e professor de Educação física, as quais merece toda nossa distinção e congratulações pela luta sindical desenvolvida que lhes permitiu serem reconhecidos como profissionais que tem sua atividade laboral registrada e protegida pelas leis trabalhistas. Nos parece ingênuo persistir no antigo e desgastado discurso contra a reserva de atividades ou de mercado que tanto marca a fala de pessoas descomprometidas com a organização sindical de várias categorias existentes.
Além do que, esse discurso de impacto que cultua a não reserva de mercado não poderia ser fala de lideranças sindicais, mas sim, daqueles que compactuam com o governo, com o objetivo de conseguir migalhas com o intuito de trazer à categoria o consenso do estado nas questões sindicais e, portanto retardar o processo de regulamentação.
Uma outra fala, muito comum é aquela que passa pela pseudopreocupação da qualidade dos cursos esse discurso é próprio dos políticos que respondem a questões relacionadas ao turismo e acabam tornando nossa situação profissional cada vez mais longe do processo de reconhecimento. Trabalham com dados quantitativos citando o elevado numero de cursos de turismo e o derrame de uma mão de obra não perfeitamente qualificada.
Esse processo de criticar o grande numero de cursos e a qualidade dos mesmos tem procedência correta, porem esse comentário vem carregado muitas vezes de uma vulgaridade, pois para se conseguir regulamentar a profissão há necessidade de em primeiro lugar melhorar os cursos de turismo e atuar na qualificação da mão de obra. Para posteriormente no momento certo buscar a regulamentação.
A separação do político do pedagógico que tentam fazer com fenômeno turístico é desastrosa, como se a qualidade do mesmo fosse algo atingível em qualquer momento, esquecendo-se que o mesmo é resultado de um processo histórico e por assim se expressar sua relação com as questões de organização política e sindical da categoria fazem parte de seu cotidiano desde a criação dos cursos. Quem tenta mostrar essa dicotomia padece da formação de cidadania e desconhece que é parte do processo educativo a formação política sindical do cidadão.
E uma das piores posturas é aquela que usa de vocabulário ligado a um passado de terror e repressão, insinuando e advertindo seus pares com um palavrório danoso porque este carregado dessa época em que muitos se recordam. E o convívio com o diferente nessa lógica aparece como algo impossível, pois a intolerância de certas entidades publica e civis quando não democráticas, produzem a conhecida linguagem da desmoralização individual, tais como; covardes, instigadores, mentirosos, frustados profissionalmente ( da qual fui alvo ) usam política partidária, irresponsável por quererem desunir a categoria. Essa é a fala mais dolorida, pois é aquela em que o sistema se torna irredutível num programa de caça aos que destoam da entidade, adora atingir a moral dos outros e de suas famílias, tentam muitas vezes provocar a demissão invocando denúncias ideológicas e destruí-los academicamente, reeditando dentro das entidades as antigas formas do período militar.























AS FUNÇÕES DO EDUCADOR VÃO ALÉM DA SALA DE AULA

A função de uma instituição de ensino superior estão descritas na LDB que junto a foros próprios possuem seus órgãos de fiscalização para o exercício de suas funções e não pode permitir que pense a educação como uma atividade fora da organização política da categoria, como assim fez questão de frisar seu criador, um dos maiores antropólogos e educador desse século o hoje ausente mas sempre presente pela produção que deixou para a humanidade. Em um dos seus itens afirma:
Educar e preparar o indivíduo para o mundo e torná-lo consciente, crítico e defensor de seus direitos, a educação, portanto, ultrapassa o conteúdo acadêmico e do ementário, pois não deveria existir educador sem a visão de totalidade. A escola deve associar os seus conteúdos pedagógicos às lutas maiores da sociedade nacional e internacional.
Assim entendemos que é função também do educador orientar e iniciar seus alunos, na discussão de sua organização profissional, questionar as ações dos projetos institucionais e das entidades relacionadas ao turismo. Buscar politizar o conteúdo deve estar calcado na realidade social e política, pois não podemos desconecta-la da vida social e nem toma-la como algo neutro como bem defenderia Émile Durkheim no estudo do fato social como coisa.
Umas educações militantes, competentes, democráticas para ser crítica exige seriedade e leitura disciplinada dos textos clássicos das Ciências Sociais, não passar por essa fase é permanecer no plano sincrônico do movimento da história. Mantendo umas compreensões tradicionais, congeladas e imutáveis da sociedade, que acabam estimulando a intolerância pelo diferente e o novo. Denominado pelas falas pesadas e ofensivas de baderneiros, desaglutinadores, comunistas e professores irresponsáveis, pois não deveriam misturar política com a academia.
Que falta fazem professores com perfil de Florestam Fernandes, educador e sociólogo de fama internacional, pai intelectual de todos os outros com suas devidas influências, marcou a produção acadêmica no Brasil e no exterior com a criação de uma teoria latino americana no campo das Ciências Sociais. Uns dos intelectuais cobiçados pelas universidades norteamericas e agraciados com convites e honrarias como professor honores causa por grandes universidades europeas. Fazendo pensar um Brasil no campo da história política do racismo e do processo da contra revolução do Capital.
Darcy Ribeiro o antropólogo historiador e educador que decifrou a formação cultura brasileira, descrevendo os atores que compõem a idiossincrásia nacional. Um verdadeiro Vinícius de Moraes que ao escrever sob a sociedade indígena a fazia com a arte de um poeta, cadenciando o desfilar de uma cultura que agonizava, mas lutava para se manter.
Os dois considerados os mestres dos mestres, pois faziam de suas aulas tribunas de luta contra as injustiças sociais e iniciavam seus alunos na crítica da sociedade capitalista, capacitando-os com imenso arcabouço teórico capaz de enfrentar qualquer embate acadêmico e destruir as falas dos irracionalistas. Que sempre argumentam que política esta separada dos conteúdos acadêmicos, esse equivoco leva entender a universidade e faculdades como instrumentos transmissores de um saber desqualificado de vida e extremamente tecnicista. Colaborando para a despolitização dos nossos alunos e conseguente a atrofia na formação da cidadania.
Exigir a regulamentação da profissão não é algo atrasado como afirmam os soldados guardiões da qualidade total que pretendem nos impor a certificação. Transformando-nos em "ISO" como se fossemos mercadorias, trocando a importância de um conteúdo pedagógico crítico e humanistico, pela ideologia do pragmatismo vulgar em que o valido é o adestramento para as tarefas do bem servir ao alheio. A isso não podemos nos submeter, basta de institutos que se arrogam o direito de classificarmo-nos como se fossemos coisa. Por isso leitor não permita que em sua instituição de ensino o discurso ácritico e despolitizante daqueles que dizem defender a categoria surja. Combata-os no campo das idéias exigindo explicações acadêmicas.
Professor discuta este texto com seu aluno, não deixe que outras categorias nos assimilem e que perdemos nossa identidade. Turismólogo é nossa designação profissional, lutemos contra aqueles que quando estavam nas esferas de poder impediram e boicotaram nosso processo de regulamentação. A eles hoje respondemos com certa desconfiança, pois o processo de organização sindical se constituiu na única forma de sermos ouvidos e defender nosso campo de trabalho.
Reflexione com seu aluno as normativas da Embratur n.390 e 421 e vejam o absurdo que fizeram com nossas funções profissionais, para quem hoje as mesmas estão delegadas.
Professor pense na cidadania de nossos futuros turismólogos.





BIBLIOGRAFIA
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