segunda-feira, 22 de junho de 2009

27 DE SETEMBRO DIA DO TURISMÓLOGO: FESTEJAR OU ORGANIZAR?

27 DE SETEMBRO DIA DO TURISMÓLOGO: FESTEJAR OU ORGANIZAR?
"A LÓGICA DA CONSCIÊNCIA DE CLASSE"

... A perspectiva do Manifesto do Partido Comunista. Ainda hoje, ela é a que melhor permite explicar sociologicamente a formação e o desenvolvimento dos proletários como classe em si e a que melhor coloca objetivamente as tarefas políticas das classes trabalhadoras na luta de classe. Não é nem uma perspectiva "envelhecida" ou "superada", historicamente, pois as classes não desapareceram e tampouco, a luta de classes deixou de existir. (Florestan Fernandes, 1987, p.137 e 138).


O termo turismólogo surge em meados da década de 1970, com o objetivo de categorizar uma formação acadêmica específica que começava a ser gestada cientificamente no interior das faculdades de turismo existentes em São Paulo.
O primeiro curso, foi decorrente do pioneirismo da Faculdade Morumbi, atual Universidade Anhembi-Morumbi, no ano de 1971. E em 1972, surge também, o segundo curso de turismo no Brasil na Faculdade Ibero-Americana de Letras e Ciências Humanas, atual Centro Universitário Ibero-Americano/UNICENTRO. Essas duas entidades educacionais situam-se na vanguarda do ensino, pesquisa e extensão do turismo, apesar de terem começado tímidas, em virtude dos recursos humanos, metodologia e conteúdos pedagógicos pouco claros e em sua maioria importados da Espanha, desenvolveram dentro do possível um trabalho extremamente pioneiro no campo do estudo do fenômeno turístico.
Cabe ressaltar que o fenômeno do turismo só vai ser visto epistemologicamente como mais próximo de nossa realidade e cercado como objeto de estudo acadêmico e científico com a criação em 1973 do curso de turismo na Universidade de São Paulo  Escola de Comunicações e Artes  USP/ECA.
Nesse caso, não poderíamos deixar de citar alguns professores e funcionários que foram visionários, pois estavam preocupados em estudar a atividade turística nacional como uma atividade que fosse além do tecnicismo instrumental no campo educacional. Aos funcionários que comandaram e ainda comandam o indispensável apoio administrativo sem o qual não poderíamos avançar no estudo do fenômeno estão: Izete Aparecida Martins, Célia Portugal Matta, ambas fundamentais nesse processo histórico.
Dos professores podemos pontuar com muito orgulho: Mário Carlos Beni, o pioneiro de todos e que se aventurou a aprofundar o estudo do turismo nacional e a questionar a inexistência de uma "política nacional de turismo”. Sarah S. Bacal, Walter Rodrigues da Silva, Waldir Ferreira, Maria Fernanda F. Luis, Victor Ruiti Kiyohara, Olga Tulik, Sarah C. Da Via. Todos com contribuições em seus campos e preocupados com o ensino e o estudo científico do turismo.
Destacamos aqueles que são resultados do esforço dos primeiros mestres: Mirian Rejowski que desenvolveu um trabalho ímpar e extremamente importante para o avanço da ciência do turismo caracterizando a produção científica no Brasil nesse campo. A Paulo Salles de Oliveira, brilhante intérprete das obras de Joffre Dumazedier e o melhor estudioso do lazer no Brasil.
Entretanto, a década de 1970 ficou marcada como um dos momentos mais sangrentos da política brasileira, período extremamente conturbado no jogo das liberdades democráticas e da expressão. A imposição de uma universalidade plasmada pela ideologia da Escola Superior de Guerra (ESQ) possibilitou à ditadura militar desmontar e massacrar parte do movimento estudantil e sindical. Mascarando uma realidade cruel em que o seqüestro, prisão, tortura e a eliminação física eram práticas de uma política de apoio aos "democráticos" norte-americanos e uma repulsa aos comunistas chamados de inimigos da democracia.
Banalizou-se o congresso nacional instrumentalizando-o para atender aos interesses de políticos ligados aos coronéis da terra e testas de ferro a serviço das multinacionais. Segundo o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro sobre esse período, afirma:

Com a industrialização substitutiva, através da implantação de grandes fábricas das multinacionais, muda de imagem. Começa a ser vista pelo país como a grande bomba de sucção que nos sangra, para carrear lucros para o estrangeiro.


Nesse meio surge o turismo como um curso novo para os empresários da educação que o enxergaram como exótico e bom de mercado, capaz de arrebanhar um contingente constituído de profissionais de várias áreas que atuavam no amplo campo do turismo; jovens ligados a aventuras, induzidos e dispostos depois de formados a viver em outro país em virtude das condições de vida e da repressão dos militares; pessoas com idade acima de 30 anos que pretendiam atuar em outro campo e senhoras que desejavam pôr um fim em sua ociosidade de damas do lar e que já eram objeto dos movimentos feministas que começavam a se manifestar. Esses fatores vieram a contribuir para que o curso de turismo fosse uma das graduações mais procuradas e disputadas até hoje.
Porém, outros motivos que nunca foram verdadeiramente explicitados nos escritos da época, mas sentidos por um grupo de professores e alunos mais críticos necessitam ser avaliado. Quais as verdadeiras razões políticas e ideológicas que levaram o governo Federal a criar a Empresa Brasileira de Turismo  EMBRATUR, por meio do decreto  lei n.55 de 18 de novembro de 1966 ainda não foram totalmente estudados e documentos oficiais não foram liberados.
Quando fazemos a afirmação, que há outros motivos que levaram a criação da Embratur, podemos estendê-la aos cursos de turismo no Brasil, por uma questão de honestidade científica e acadêmica, vamos arrolar e refletir primeiramente os motivos já conhecidos:
• A existência do antigo e arcaico Conselho Federal de Educação que em "... resolução s/n de 28/01/71... fixou o conteúdo mínimo e a duração do curso superior de turismo”.( Matias, 2002, p.4).Tornou o curso objeto de disputa de representantes de dois campos do saber, pois conselheiros e políticos usaram de várias artimanhas para inserir o curso de turismo junto às faculdades de Administração de Empresas e de Educação Física. Segundo a turismóloga, professora e escritora Marlene Matias essa idéia foi abandonada, mas sou obrigado a discordar, pois essas intenções ainda aparecem com modulações variadas dentro e fora da categoria.
Os professores de Educação Física derivam para si com todo direito às atividades de ensino do lazer tanto no campo da teoria como na prática, porém, muitos advogam a propriedade exclusiva dos conteúdos do lazer principalmente no que se refere ao estudo ontológico e histórico. O que me parece extremamente questionável, pois para estudarmos o tempo livre, ócio, lazer e turismo, começamos como Karl Marx que por meio de duas de suas obras Dos Grundrisse e O Capital discutem o tempo de trabalho. Paul Lafargue em seu livro de 1880 O direito à preguiça que traça um panorama universal da exploração do sistema capitalista sobre a humanidade, destacando o direito ao ócio dessas classes. Joffre Dumazedier com seus estudos pioneiros de tonalidade marxista, discutindo o fenômeno do lazer como atividade extremamente educacional junto à população trabalhadora. Domenico Demasi, sociólogo de formação weberiana, consegue mostrar a necessidade do governo em financiar a empresa privada para que o trabalhador usufrua o lazer. O Estado aparece como mediador e agente financeiro para que o trabalhador usufrua o lazer e turismo. Filósofos, médicos, sociólogos que sinalizaram as raízes históricas do turismo e seus componentes, portanto a contribuição dada aparece no campo da epistemologia da ciência e não no campo exclusivo das ciências da Educação Física ou da ciência da Administração.
• O país estava vivendo o chamado por alguns de milagre brasileiro em que os índices de crescimento da economia batiam recordes mundiais. Porém, o aumento da miséria social e o abandono das riquezas da nação permitiram a rápida desnacionalização da economia e a internacionalização territorial e ideológica da vida Brasilis. A quantidade de miseráveis e o rebaixamento do padrão de vida do povo levaram o Brasil a ser campeão no rancking mundial como uns dos países com pior qualidade de vida.
Esse fato afeta de forma direta os cursos e as faculdades particulares que viram seus investimentos serem corroídos pela situação de inadimplência dos estudantes e a econômica ser corroída pela inflação. Segundo Marlene Matias:

Nos primeiros anos de funcionamento do curso superior de turismo, houve uma demanda muito grande pelo mesmo, especialmente em São Paulo, o que desapertou o interesse de empresários da educação a investirem na abertura de outros cursos (...). Mas, a partir de 1976, ocorre uma queda sensível no número de ingressantes devido a uma série de fatores socioeconômicos .


Entretanto, não podemos esquecer que foi nesse período que ressurgiu com maior intenção a idéia de passar as vagas dos cursos de turismo para os cursos de administração. Essa lógica permaneceu ameaçadora até 1984, quando os turismólogos conseguiram de fato afastar os interesses escusos de donos de faculdades e do próprio Conselho Federal de Administração, pois essa atendia a dois fatores:
1. Tentativa desesperada para reerguer mercadologicamente os cursos de administração que começavam a apresentar um declínio na demanda, necessitando ampliar o leque das ênfases oferecido pelo mesmo;
2. Incorporar o curso de turismo ao curso de administração, descaraterizando por completo a futura ciência do turismo e capitalizando o fenômeno para dentro do vasto campo da administração.
• Com relação ao corpo docente necessário para manter os primeiros cursos de turismo, houve pela UNIBERO a importação de alguns professores da Espanha que junto com professores da USP, conseguiram conviver e criar uma tipologia própria de conteúdo pedagógico, mesclando o fenômeno do turismo com a realidade brasileira.
Professores estrangeiros foram orientados sobre a realidade brasileira, professores brasileiros da USP com algumas exceções foram extremamente progressistas e mais que possa parecer paradoxal eram de esquerda, trazendo ao curso ares mais abertos e críticos com uma competência que hoje nos cursos aparece cada vez mais escassa.
• A falta de informação do curso para o aluno e a expectativa difusa sobre o que ele iria encontrar e qual a dimensão do mercado de trabalho. Tudo era uma novidade, o mercado turístico seguia as regras dos interesses do Capital, nada se planejava, nada se organizava, pois para tudo e para todos estava o interesse e necessidades do turista e a da acumulação rápida da mais-valia. Turismo era sinônimo de viagem e entendido como uma atividade eminentemente técnica. o interessante é que assim enxergava e enxerga a Embratur quando propõe em 1981, um currículo mínimo exclusivamente técnico:

A) Matérias Básicas
• Matemática;
• Estatística;
• Contabilidade;
• Teoria Econômica;
• Metodologia Científica;
• Planejamento e Organização do turismo;
• Legislação Aplicada;
• Mercadologia;
• Psicologia.

b) Habilitações Alternativas
1ª Opção  Hotelaria
• Organização Hoteleira e Técnicas Operacionais;
• Administração Financeira e Orçamento;
• Mercadologia Aplicada;
• Prática  Estágio.

2ª Opção  Agenciamento e transporte
• Produção e Organização de Serviços Turísticos;
• Administração Aplicada;
• Administração Financeira e Orçamento;
• Mercadologia;
• Prática  Estágio.

3ª Opção  Planejamento
• Sociologia;
• Organização de turismo Interno e Externo;
• Infra-estrutura Turística;
• Equipamento Turístico;
• Elaboração e Análise de projetos;
• Prática  Estágio.

Se compararmos esse currículo com a proposta da ABBTUR, percebemos o tecnicismo que dominava e continua presente na Embratur, preocupada em atender o mercado, para que as universidades e faculdades formem "a mão-de-obra", montem um aluno dentro dos padrões de qualidade total, no qual o importante é sua funcionalidade, esmero e atendimento segundo os interesses do turista. Esse adestramento dentro dos padrões do tecnólogo, secundariza, oculta, inibe, dessistimula a consciência crítica e empobrece a visão de cidadania permitindo a formação de um turismólogo despolitizado.

• No início do curso com uma bibliografia nacional inexistente, os livros traduzidos configuravam realidades diferentes e muitos de duvidosa qualidade acadêmica. Hoje com uma publicação editorial nacional significativa que em qualidade ultrapassa a visão tecnicista, mas que insiste em apresentar uma leitura despolitizada da realidade, em que as funções do profissional são de sua inteira responsabilidade. Ocultando-se a situação do mercado de trabalho, colocando-a como se a mesma fosse culpa do profissional.
Diante desses fatos, podemos afirmar que os cursos de turismo implantados desde 1971 até o presente, mostraram avanços significativos, graças às lutas dos estudantes, turismólogos e profissionais de outras áreas que dedicaram suas vidas a pensar e entender o fenômeno turístico. Mesmo sendo objeto de comentários e piadas por parte de alguns de nossos pares, as pessoas que agiram como pioneiros no estudo do turismo foram exemplares, pois enfrentaram preconceitos, ganharam respeitabilidade e ajudaram a criar um arcabouço teórico-metodológico próprio e nacional, comparado aos dos intelectuais do México e da França.
Com uma realidade histórica, exclusiva e ímpar na América Latina, em que etnias se mesclaram e se modificaram, nossa realidade exige o resgate do sensocrítico e de um estudo voltado à América Latina, pois hoje descobrimos mais do que nunca que somos latino-americanos e não americanos ou europeus.



OS DISCURSOS ALHEIOS AOS INTERESSES DA CATEGORIA
As falas do neoliberalismo diante do turismólogo

O processo no qual o sistema capitalista navega na atualidade configura-se em um movimento anti-dialético, portanto, não histórico, cuja tentativa é minimizar a leitura das contradições existentes na sociedade. Essa intenção só pode ser percebida e pensada quando desvendamos os mecanismos que buscam retardar a organização política sindical da sociedade civil, pois o desprezo pelo político não se limita ao processo partidário, mas sim, a tudo que se refere a atos e intenções relacionadas às formas de como se traduz a organização da categoria trabalho como fato que permite aos homens sinalizar, codificar e regularizar juridicamente seu espaço profissional.
Entendendo a sociedade como palco da luta de classes, nada pode ser mais nefasto do que os discursos e falas despolitizantes:

... "emburguesamento", trabalha pela despolitização, provocando um descrédito na vida política e nos políticos em geral.
Os sindicatos e as associações perdem sua força de barganha, são hostilizados e ridicularizados pela sociedade e por seus próprios filiados, que acreditam que houve um esgotamento da luta de classes...
A lógica é a negação da política e a adoração dos pensamentos livres, abertos, naturais e descomprometidos de qualquer objetivação teórico-filosófica, portanto, de tonalidade irracionalista. Este é o jogo da despolitização.


Esse movimento de negação da história aparece em virtude de nossa formação Cartesiana muito presente no pensamento da humanidade que se traduz dentro do seio de setores da academia que trabalham no sentido da volta de um purismo escolástico que acredita na neutralidade, pois parte do pressuposto que o sistema capitalista caminha para um redirecionamento inevitável de rumo no qual nossa atitude seria aderir ao seu modelo sem buscar as determinações, pois não devemos e não podemos pensar em modificá-las.
Esse entendimento, muito próprio dos neoliberais que pensam o fenômeno turístico de forma idealista buscando acreditar no equilíbrio e harmonia que deve ancorar o turismo sustentável, professam que:
1. A globalização para o turismo se constitui em uma solução para seu crescimento. Esse pensamento de base economicista está preocupado com a entrada de recursos econômicos, entendendo a transformação dos homens em simples mercadoria. Esse processo limita e embota a processualidade histórica, como brilhantemente comenta a professora Marutschka, quando diz:

... o tratamento reducionista dado ao objeto turístico. Boa parte destas análises ora o enfoca sob a égide economicista como uma atividade apenas econômica, ora sob a ótica sistêmica, tratando-o como um sub-sistema.

Os fatos errôneos dessa visão leva-nos a termos de lutar dentro e fora da academia contra aqueles que acreditam nas "boas" intenções do capitalismo para com o turismo. Bondosos idealistas se instalaram nas galerias do saber e desenharam um fenômeno turístico acritico, sustentável e desenvolveram programas modelares para o país, como forma de conscientizar a diversidade cultural por meio de um modelo estrangeiro que não atende às nossas peculiaridades de país continental.
Para nós que importamos dos Estados Unidos as bases do ensino superior no período do golpe militar por meio dos acordos MecUsaid e que fomos obrigados a suportar o fascismo desse governo, com seus aconselhamentos de civismo, moral e patriotismo impostos pelo ensino da escola militar dos americanos. Nada mais temeroso do que ter que ouvir a volta desses por meio da comédia que certamente virará tragédia, como bem alerta Karl Marx em seu livro A Ideologia Alemã.
Tragédia é omitir os erros, limites e simplificações desses programas oficiais que apelam para o voluntariado e acabam excluindo o turismólogo e criando uma casta de treineiros pagos pela Embratur ou prefeituras que se vêem obrigadas a obedecer a esses pedidos na esperança de serem certificadas como pólos turísticos.
2. Acreditar em programas com base no voluntariado, usando da "boa fé" de aposentados, alunos das faculdades de turismo e população nativa que acabam alimentando uma crença fanática aos programas estrangeiros e de gabinete, em que políticos faturam popularidade por meio de estatísticas super inflacionadas segundo interesses do governo.
3. Usar dos estudantes de turismo e dos turismólogos como massa de manobra, quando editam normativas como a 390/98 em que a Embratur delimitava e descreve nossas ações profissionais, porém para priorizar o PNMT, comprado da OMT (quanto será que o Brasil pagou ou paga para usar uma metodologia ultrapassada?). A Embratur em 2001 lançou uma nova normativa, a 421, que passou nossas funções para o Conselho Municipal de turismo.

A existência, por parte da Embratur, de uma história de normas desastrosas que obrigavam nossos hotéis, para aumentarem as estrelas em sua classificação, o uso de carpetes nos quartos, bem como, um café-da-manhã fora dos padrões das cultura e culinária brasileira. Esse estrangeirismo copiado dos padrões de vida americano trouxe vários desastres na implantação de uma "política de turismo" direcionada exclusivamente para a recepção ao turista estrangeiro. Esse descompromiso com a população, no que se refere ao turista nacional, pode ser uma pista sinalizadora que a Embratur foi criada principalmente para moldar uma imagem de:
1. Brasil gigante, em que a ditadura prendia, torturava, matava e empastelava os meios de comunicação;
2. Um nacionalismo ufanista e extremamente patrulhador, em que a vida só tinha sentido quando compartilhada das disciplinas de "Educação moral e Cívica" e "Estudos de problemas Brasileiros";
3. Um processo de casernização da vida civil e da educação principalmente nos seus conteúdos obrigatórios e delimitados dentro de padrões rígidos de censura;
4. Um processo de cultura seletiva em que os princípios do amor e liberdade dos enlatados americanos sacudiam as cabeças da nossa juventude;
5. A instalação da ideologia pró-americana e anticomunista, por meio de um processo de desmonte a qualquer instituição que apresente perigo ao governo;
6. Exílio compulsório ou militar-judicial de cientistas, intelectuais brasileiros e militantes que poderiam ser mortos pelo governo militar. Que organizaram verdadeiras redes para divulgar para o mundo o que estava acontecendo no Brasil.
Esse fatores vão exigir do governo a criação de uma estrutura que cuide da imagem do Brasil no exterior, que junto com os corpos consulares e embaixadas divulguem a idéia de um Brasil ordeiro, pacífico, exótico, anticomunista e pró-americano. Nesse sentido, aparece a Embratur para a função que foi criada, ou seja, estimular e dar as condições da implementação de uma "Política Nacional para o Turismo" e divulgar o Brasil no exterior.
Os escritórios da Embratur no exterior vão servir de base para ressignificar o processo econômico, político e cultural, segundo interesses do governo militar em um país que no período da ditadura proibia a apresentação do balé Bolchoy, das peças de Plínio Marcos, a indicação de Dom Hélder Câmara para o Prêmio Nobel da Paz, das músicas de Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros. Mas no exterior divulga o carnaval, a mulata, o Rio de Janeiro e acaba sinalizando uma apologia à beleza da mulher brasileira nas praias ensolaradas, um passo para tipificar a idéia do turismo sexual que hoje faz do Brasil conhecido como a rota dos turistas que buscam meninas menores para a prática do turismo sexual. Rufiões que se colocam como agentes de turismo negociam nos aeroportos (falando alemão, inglês, francês e italiano) as crianças por dia, semanas e por hora.
Por que a Embratur não divulga as propagandas que são feitas do Brasil no exterior no campo do turismo? E os fatos que ocorrem e ocorreram quando da representação do país nas feiras internacionais de turismo, mostre-nos a reação da imprensa internacional para aquilo que o Brasil leva para mostrar no exterior. Será que existe censura?
Nada pode ser tão curioso do que compreender que o Brasil sempre procedeu e apostou no exotismo, como fator característica do Brasil no exterior. Durante a primeira República o Brasil participa de uma feira internacional na França e o estande brasileiro expõe frutas nacionais e os índios botocudos que acabaram sendo fatores de extrema curiosidade durante toda a exposição.
O Brasil sempre apostou em suas belezas anatômicas, seja pelas referências contidas nas cartas de Pêro Vaz de Caminha em que a apologia à beleza dos nossos nativos da terra é registrada em relato escrito aos reis. Porém, essa cultura ao corpo que só brasileiro sabe dar pela cor, ritmo, sensualidade, plástica e uma enorme pitada de erotismo, acabou cultuando gerações como Marta Rocha que perdeu o concurso de miss universo por duas polegadas, mas acabou sendo imortalizada como o símbolo de mulher brasileira.
Com isso, queremos dizer que trabalhar com a ocultação total da imagem da mulher brasileira, me parece uma estupidez e uma falta total de tato, pois a mulher brasileira é considerada a mais cobiçada e bela do mundo. A nós e ao poder público cabe fazer a distinção da mídia que acaba criando a noção de mulher liberada e independente.

CONCLUSÃO

Pouco se tem a festejar, pois somos uma categoria ainda muito despolitizada e com um inexpressivo senso crítico. A nós cabe entender essas limitações e buscar combater os inimigos dos turismólogos, que se caracterizam por aqueles discursos que:
1. Encaram a regulamentação da profissão como coisa desnecessária por meio do discurso despolitizante, infantil, reargumentando sua fala com base na "qualidade total" que como resposta imediata costura a ideologia do pragmatismo;
2. Combatem a regulamentação usando da lógica discursiva simplista que a mesma não criará empregos e, portanto, não é necessário lutar por essa causa;
3. Existem outras profissões que não são regulamentadas e o mercado está à disposição dos mais competentes, não há necessidade de nenhuma formatação jurídica. Mas de pessoal qualificado capaz de garantir seu mercado de trabalho;
4. Se regulamentarmos a profissão, limitaremos o nosso campo de trabalho, deixando de lado atividades que poderão surgir e que necessariamente fugiria de nossa amplitude regulamentada;
5. Em nenhuns país do mundo a profissão de bacharel em turismo foi regulamentada, essa argumentação aparece como o último recurso dos neoliberais para justificar suas posturas de fundamentação direitista. Na verdade a leitura que essas pessoas fazem da realidade não leva em conta a luta de classes como motor da história, mas sim, deslocam sua leitura para as técnicas de motivação, ou seja, de auto-ajuda.

Enquanto essas questões vão ocorrendo, as lutas sindicais vão sendo retardadas, os alunos fortalecem a visão equivocada de que conteúdo pedagógico e política são questões que devem ser tratadas separadamente e fora do âmbito das salas de aula. Essa cultura de separação entre o acadêmico e o político, foi sendo colocada durante os vinte e cinco anos de ditadura militar. Amigos morreram por pensarem diferente, professores foram caçados, exilados, torturados e mortos, pois sempre lutaram pela liberdade de poder estender o senso crítico dos alunos, contra a ditadura, opressão e pela eterna liberdade de pensamento.
Por isso, discente, não se deixe levar pelas falas sedutoras daqueles que se dizem nossos amigos, mas na verdade lutam para que o turismólogo não amplie seu mercado de trabalho e não se reconheça como elemento transformador da realidade turística. Esses "amigos da onça" lutam para que nossa categoria não cresça e sim desapareça, pois em sua lógica todos podem vir a contribuir não necessitando de nenhum estatuto corporativo.
Pense, amplie seu senso-crítico e acompanhe a discussão atual que vem lá do Rio Grande do Sul e passa pela cidade de Maringá. Reflitam quais os motivos que levaram entidades, pesquisadores e professores a tentarem desmobilizar nosso trabalho, por meio da lógica separatista de que política e academia devem estar desvinculadas. Será que eles entendem a lógica da luta de classes?



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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FERNANDES, Florestan. Nós e o Marxismo. In: Caderno Ensaio. Marx Hoje. São Paulo. Editora Ensaio, 1987.
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MATIAS, Marlene. Turismo: Formação e Profissionalização  30 anos de história. Barueri: Manole. 2002
MARX, Karl. Grundrisse: Lineamientos Fundamentales para la crítica de la economía política 1857  1858. México: Fondo de Cultura Económica,1985.
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