quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

TORTURA NUNCA MAIS: A HISTÓRIA OFICIAL NÃO PODE VENCER A HISTÓRIA REAL

TORTURA NUNCA MAIS: A HISTÓRIA OFICIAL NÃO PODE VENCER A HISTÓRIA REAL
João dos Santos Filho

Confesso ser esta uma temática a qual descrevo com um prazer de intelectual militante da época de 1970, e saudosista do movimento estudantil no tempo da clandestinidade, que lutava contra o golpe e a favor da identificação e julgamento daqueles que utilizavam da tortura, seqüestro e do assassinato como forma de conter as lideranças democráticas sindicais, estudantis, intelectuais, religiosas e políticas. Buscando meios para se opor aos desejos irracionais de um modelo econômico subordinado a um comando de guerra coordenado pelo Capital, chamado Operação Condor contra todos aqueles que ousavam discordar das ditaduras implantadas no continente Latino.
Confesso que por ser marxista desde o segundo grau, me aproximei de professores que me encaminharam para a leitura da dialética histórica, apreendendo desde cedo o disfarce para ler o Manifesto Comunista encapado em papel de pão. Ter recebido aulas de Ciência Política por meio da leitura de dramáticos romances da literatura latina americana, pois os clássicos da teoria política eram proibidos, como também, fui salvo de ser preso por um delegado maçom da Policia Federal do Aeroporto de Congonhas, em vôo vindo de Buenos Aires por trazer na bagagem livros de Karl Marx e Engels.
Confesso ter vivido um dos melhores períodos de minha vida, como estudante e
amigo dos professores Florestan Fernandes, Octávio Ianni, por ter a sorte de ser vizinho de quarteirão desses intelectuais. Reafirmo que minha atitude política sempre foi de crítica ao golpe militar de 1964 e por ter presenciados fatos que ocorreram no interior da PUC/SP. Éramos estudantes de Ciências Sociais no começo dos anos 70 e tivemos professores que foram retirados pelo DOPS da sala de aula e estão sumidos até hoje. Assistimos a defesas de tese no teatro Tuquinha em que foi invadida pela policia militar e pelo DOPS. Convivemos com os discursos contundentes da madre católica Cristina a psicóloga das Sedes Sapientiae militante implacável contra a ditadura militar.
Confesso que foi um período que havia necessidade de permanecer na clandestinidade, pois era a forma de salvar e resguardar nossas vidas, “contra a idéia da força usávamos a força das idéias”. Estudar Marx era e continua sendo uma necessidade prioritária, para enfrentarmos à repressão, alimento que nos dava força para visualizar uma saída no fim do túnel.
Como marxistas permanecemos mais convictos em seus princípios ontológicos e entendemos que o filosofo húngaro Georg Lukács faz uma leitura da obra de Marx que permite desestalinizar a compreensão do marxismo, desarmando a esquerda stalinista - mecanicista e vulgarizando o seu discurso de senso comum e acusativo da direita com fortes traços de neofobia.
Entendemos que a sociabilidade de um grupo social se planifique pelos níveis de tolerância que ela consegue ministrar na leitura dos fatos sociais, em especial no jogo da luta de classe. O equilíbrio de uma sociedade se mede pelos graus de tolerância política, econômica e social que a mesma apresenta, quando essa normalidade histórica é quebrada é porque uma classe quer impor de forma autoritária sua visão de mundo ao resto da sociedade.
Quando isso ocorre chamamos de ditadura, implanta-se um Estado fascista em que as armas de guerra são colocadas para garantir um novo ciclo de acúmulo de capital material e espiritual. Esse processo na América Latina ocorreu como expressão máxima de agressividade aos direitos humanos, em que torturados civis e militares nacionais e estrangeiros praticaram uma série de atrocidades.
Julgar esses algozes ensinados pelos mentores da Escola Superior de Guerra é dever do Estado brasileiro, colocar a verdadeira história em oposição à história oficial. A direita tenta justificar o injustificável, inventou até um pseudo-intelectual que afirma que o processo pelo que o Brasil passou deveria chamar-se a “Dita branda”, pois seria um erro condenar os militares. E parece que assim pensam desde o começo, pois todos os torturadores foram condecorados com medalhas de bravura e subiram na hierarquia militar.
Por isso leitor lutar pelo julgamento e condenação dos torturadores é um dever humanitário e histórico para as futuras gerações de brasileiros.

Nenhum comentário: